Parte 1: Se você acredita, bata palmas.
Eu sentei no chão no escuro como costumo fazer sempre. Deixei os meus pequenos demônios correrem livres pela minha pele, escalarem minha coluna até meu cérebro e sussurrarem blasfêmias nos meus ouvidos. Antes eram fadinhas azuis, agora são homenzinhos vermelhos, com caudas afiadas. Ele riem e debocham de mim no escuro, peidam e gargalham. São uns sujeitinhos engraçados e malignos.
Me peguei pensando mais uma vez naquela relação íntima entre dor e inspiração. Bukowski disse "Não é a dor que cria a obra. É o artista." Eu respeitosamente duvido do meu mestre. Exato, eu não discordo, não totalmente, acho que deve sim existir o mérito do artista na criação da obra, mas será que a dor não tem mesmo nada a ver com isso?
Aí você vai ficar puto comigo e dizer algo do tipo "Puta merda, achei que tinha acabado a choradeira!" e olha, você entendeu tudo errado, a choradeira acabou, o problema é justamente esse. E agora? E agora que eu não tenho sobre o que escrever? E agora que eu já não escrevo mais nada com a intenção de que um certo alguém leia?
Quero dizer, se eu não sofro por nada, basicamente eu não tenho sobre o que desabafar e sendo assim, não tenho sobre o que escrever.
Os pequenos demônios dançam e cantam em cima das minhas mãos, um pequeno ritual maluco deles. Me pego pensando, será que querem dizer algo? Será isso algum tipo de sinal? Eu devo tentar de alguma forma mudar a minha motivação, tentar escrever por outros meios que não a dor? É um bocado pra se transmitir apenas dançando pelado em cima da mão de um gigante, mas acho que seria um bom palpite.
E qual o oposto da dor? Não penso nisso a tanto tempo que nem bem me lembro mais. Aí um dos danadinhos se pendura no meu alargador na orelha esquerda e grita "Prazer!" em alto e bom português. Escrever sobre o prazer, sobre as coisas que me deixam feliz. Ousado, muito ousado. Esses carinhas não estão de brincadeira.
Ta legal, e o que viria a ser uma dessas coisas que me deixam feliz? Dinheiro, mulheres, amigos, bebês foca? Tudo isso me deixa moderadamente feliz acho. Não é muito, mas é um começo, vou pensar no assunto, deixar as idéias cozinharem um pouco mais na minha cabeça. Rascunhar uns textos sobre dinheiro, mulheres e amigos, talvez até sobre bebês foca. Com certeza rascunhar algo sobre drogas. Meditação. Ei, parece que tudo está vindo com facilidade pra mim agora. Acho que os diabinhos estavam mesmo certos no final das contas.
Em comemoração eles parecem estar dançando mais do que nunca, alguns se jogam dos meus ombros e caem no meu colo, uma baita distância pra quem tem 2cm de altura, as fadinhas pelo menos tinham asinhas de formiga. Gritam e riem e peidam e gargalham e xingam.
Eu não preciso sofrer por ninguém pra ser tudo que eu posso ser. Ainda mais sofrer por alguém que não quer meu sofrimento. Deixo meu sangue, meu suor e minhas lágrimas pra pessoas mais dispostas. Ou pra um momento mais oportuno. No momento o que vai aumentar o fogo na fornalha, são coisas boas.
E aí eu olhos pras minhas mãos e ao meu redor e eles se foram, os homenzinhos vermelhos. Acho que voltaram para seu pequeno castelo de fogo. Foram dormir até que eu precise deles. E quando olho pra cima, tenho a impressão de ver pequenos borrões azuis, acho que minhas fadinhas estão voltando pra mim.
Claro que isso tudo de fadas e diabinhos é bobagem, mas vocês entenderam.
Gordon "Troll" Banks
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Um comentário:
Minhas fadas e meus diabos estão numa orgia desgraçadamente grande.
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