quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Planeta dos Macacos, mas não por muito tempo

O garoto acordou assustado, olhou ao redor procurando quem quer que fosse, mas não achou ninguém. O laboratório era imenso e as sombras se acumulavam nos cantos mais distandes, prendendo-o num cubo mal-iluminado cercado de grossas paredes sombrias. A câmara criogênica estava desligada e a cúpula de vidro que a selava estava erguida, o jovem não teve dúvidas, pulou para fora.

Estava nu, seus pés descalços pisavam num frio chão de metal, mas a sensibilidade ainda lutava para voltar às extremidades o que o poupava do frio que fazia ali.

Ele caminhou pela escuridão adentro sem medo, tateava pelas paredes com dificuldade e entrava em corredores e portas sem saber ao certo pra onde estava indo, estava muito confuso. Ouviu passos ao longe, seguiu na direção do som.

No final de um longo corredor ficava um salão enorme e iluminado, nele cerca de 10 homens imensos, com roupas pesadas de couro negro e capacetes de vidro negro andavam de um lado pro outro aparentemente impressionados com tudo que viam nas paredes, quadros, tapeçarias, cada vaso era uma relíquia e eles não pisavam nos tapetes com medo de que desmanchassem sob o peso de seus pés enormes. Para o menino passou despercebido o fato de que cada um daqueles homens carregava um fuzil e que todos eles tinham 4 braços.


Ele saiu do corredor caminhando lentamente, estava ainda muito fraco. Alguns dos homens se voltaram para ele e logo começou uma gritaria confusa numa língua que o menino jamais ouvira. Alguns dos homens apontavam os fuzis pra ele, enquanto outros tentavam impedi-los de atirar e outros dois ao fundo gritavam na direção de uma outra sala, de onde veio um outro gigante, esse vestia-se da mesma maneira, mas sua vestimenta era completamente vermelha, parecia ser o líder.

O gigante escarlate se aproximou e ajoelhou-se muito próximo ao menino, começou a falar muito devagar naquela língua estranha, como se o menino pudesse por mágica aprender aquele idioma caso pronunciado muito lentamente, mas isso não ajudou obviamente.

- Não entendo. - O menino disse no mais claro japonês que conseguiu.

Uma comoção entre os homens demonstrou que eles procuravam outro membro da equipe, logo entrou pela porta um novo gigante, esse vestia uma roupa branca, lembrou ao garoto um gordo boneco de neve.

- Japonês? Japonês fala você? - O homem de branco perguntou com um sotaque carregadíssimo.

- Sim. - Respondeu o menino confuso. - Quem são vocês?

- Nós equipe de arqueologia de Rochia.

- Rochia?

- Rochia grande cidade. Nós de Rochia. Você de onde?

- Eu nasci em Kyoto, mas fui criado em Akita. - A resposta veio tão facilmente ao menino que ele mal se deu conta de que de repente já se lembrava de quem era e de quase todo o resto. - Me chamo Iori.

O gigante de branco ia traduzindo tudo para o gigante de vermelho que apenas balançava a cabeça e fazia curtos comentários.

- Nós Rochia. Nós aqui pesquisando e encontrar você. Você muito raro!

- Eu sou muito raro? Não entendo.

- Humano muito raro, humano não mais.

Iori ficou em silêncio por um minuto, pensava no que estava ouvindo e mais memórias pareciam voltar de súbito a sua cabeça. O calor, as geleiras derretendo, os tornados, os terremotos, as enchentes, as pessoas morrendo, ele sendo congelado pelos pais para ser salvo no futuro.


- Não existem mais humanos? - Ele perguntou incrédulo.

- Humano não mais há muito tempo, humano lenda, muito Rochia não acredita em humano.

- Mas então...o que vocês são?

- Nós Rochia.

- Vocês vivem em Rochia e são Rochia?

- Sim, veja.

Ao mesmo tempo, todos os homens retiraram seus capacetes, o garoto abafou um grito de horror quando viu seus rostos. Cabeças insetóides de olhos redondos e negros, bocas multifacetadas e deslocáveis com tenazes dos lados, longas antenas na parte superior, eram imensas baratas humanas.

"Rochia...roach...barata em inglês.", Iori pensou..."Os humanos finalmente conseguiram, extinguiram a espécie mais perigosa do planeta, eles mesmos."

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Caverna Interior

Caminhei pela noite adentro, sozinho. Encontrei companheiros no meio do caminho.

Caminhamos pela noite adentro, sozinhos. Encontramos resistência.

Resistimos noite a dentro, sozinhos. Encontramos liberdade.

Corremos livres pela noite, sozinhos. Encontramos uma garota gordinha de 15 anos e olhos verde-folha.

- Você pode sair e conquistar o mundo, mas seus amigos ficam. - Ela disse com uma risadinha típica de garotas de 15 anos.

- Eu vou. - Respondo.

Saio da noite e finalmente enxergo a luz do sol depois de longos anos, minha pele pálida agradece quando recebe novamente os revigorantes raios de sol. Caminho por uma floresta e encontro uma imensa caverna, estou só.

Da entrada da caverna sai uma corrente grossa e enferrujada, curioso eu a seguro e puxo, seja lá o que estiver na outra ponta, vem deixando a caverna sem resistência.

Então eu finalmente vejo, preso pelo pescoço, um gigante. Mas o gigante sou eu.

O "euzão" está vestido de centurião romano, com um elmo dourado, um escudo no braço esquerdo, uma lança na mão direita e uma espada na cintura. Ele parece manso, mas poderoso.

Não tenho dúvidas quanto ao que fazer, quebro a corrente e liberto o gigante.

Somos um e vamos conquistar o mundo, sozinhos. Ou sozinho.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Modern Caveman

A caçada havia começado 5 dias antes, no coração mais profundo daquelas selvas úmidas. Os 4 homens seguiram sua presa incansáveis até uma vasta planície pedregosa. Thog, Gog, Brak e Taruk eram seus nomes, grandes guerreiros de sua tribo, o guerreiro mais forte, o corredor mais rápido, o pensador mais sábio e o rastreador mais implacável respectivamente.

Taruk e Brak investigavam cuidadosamente os rastros frescos de sua presa numa pequena poça de lama.

- Passou por aqui há 2 dias, a lama está quase seca. - Taruk estava de pé segurando uma longa lança na mão esquerda, era o mais alto dos quatro e vestia pouco, apenas uma tanga de peles padrão da época, uma gravata púrpura e um rolex de ouro no pulso direito, estava quebrado e não marcava as horas.

- Temos de apertar o passo Taruk. - Brak deixou a poça de lama após examina-la. - Ou vamos perdê-la. - Os olhos de Brak eram verde-vivo, o direito coberto por um monóculo. Ele alisou o cabo de sua faca na cintura com uma mão e com a outra tirou sua cartola preta e coçou a cabeça.

- Vocês dois, vamos indo! - Taruk gritou os outros dois companheiros.

Thog e Gog reuniram-se aos dois rapidamente. Thog era um homenzarrão imenso e de olhos pequeninos e estúpidos, não vestia nada além de um terno cinza muito surrado e carregava uma clava de madeira enorme, que um dia deveria ter sido toda uma árvore. Gog era o oposto, muito pequenino e magro, poderia ser tomado por uma criança, carregava um machado de pedra e vestia um par de tênis de corrida e um capacete de piloto com os óculos protetores abaixados o tempo todo.

Os 4 homens-das-cavernas seguiram uma trilha demarcada na planície, agora com um passo muito acelerado, quase corriam. Gog era visivelmente o mais rápido e parava muitas vezes para esperar o restante dos companheiros, era seguido por Taruk e Brak, Thog fechando a fila muitos metros de distância atrás.

A noite caiu e Taruk e Brak comemoravam ter ganho uma boa distância naquele dia, a besta deveria ser encontrada na manhã seguinte quase com certeza. Sentaram-se no chão e sentiam fome e frio, Brak acendeu uma fogueira já que era o único a conhecer os segredos do fogo. Os 4 amontoaram-se ao redor da fogueira segurando os joelhos e tentando se aquecer um pouco.

Um barulho na mata.

- Sonhadores. - Gog segurou o cabo do machado com força e levantou-se.

- Droga. - Thog acompanhou o amigo e levantou-se com sua imensa clava bem firme sobre os ombros.

- O GPS do Grande Chefe tinha mesmo mostrado uma concentração de sonhadores nessa área, eu esperava passar por aqui desapercebido. - Brak disse amargo.

Taruk imitou os companheiros e levantou-se, pronto para qualquer coisa com sua lança em punho. O ar parecia pesado e uma tensão empesteava a pequena clareira ao redor da fogueira. Minutos depois, nada tinha acontecido e eles relaxaram um pouco, uma hora depois sentara-mse ao redor da fogueira novamente, ainda atentos aos sons da floresta, mas nada aconteceu, de qualquer forma, nenhum deles dormiu aquela noite.

Na manhã seguinte partiram cedo e logo estavam no rastro da presa, era um animal grande pelo que parecia e deixava rastros por todos os lados, grandes fitas de papel crepom colorido.

Gog era o batedor e corria na frente pra verificar um penhasco a frente, os outros três descansavam sentados em pedras.

- Às vezes me pergunto o que estamos fazendo. - Taruk disse para ninguém em particular. - Qual o sentido em tudo isso?

- A tribo precisa de nós Taruk, e isso é tudo. - Brak concluiu.

- Está lá. - Gog tinha chegado sem ninguém percebê-lo, tinha um sorriso no rosto. - A Besta Arco-Íris está lá embaixo na planície.

Todos correram para a ponta do penhasco e assim que chegaram puderam vê-la. Era um animal enorme, uma anta com o tamanho de dois elefantes. Movia-se lentamente e tranquila, seu corpo era multi-colorido e parecia feito de muitos pedaços de papel crepom colados uns aos outros. Ela não parecia ter percebido os caçadores.

- Vamos caçar. - Taruk convidou.

Os 4 desceram pela encosta do penhasco com facilidade e seguiram abaixado e contra o vento até posicionarem-se logo atrás da besta. Thog foi o primeiro a atacar, sua clava monstruosa atingiu o flanco do animal com uma força descomunal e a parte traseira da fera tombou. Os outros correram pelos lados da fera, Brak e Gog desferindo vários golpes com suas lâminas e Taruk foi na direção da cabeça e com sua lança furou os olhos da criatura que urrava de dor e pânico. A fera ainda tentou reagir e acertou uma pescoçada em Brak que caiu estirado no chão, sua cartola e seu monóculo jogados longe, mas ele logo se recuperou. A Besta Arco-Íris estava acabada.

Taruk tirou um grande pedaço de tecido branco de uma maleta nas suas costas e entregou-a a Thog. O gigante vendou os olhos com o pano e alcançou seu tacape no chão. A essa altura, os outros 3 riam e começaram a rodar Thog que perdeu completamente o senso de direção, mas a fera ainda gemia baixinho e guiou seus ouvidos. Um único golpe de Thog foi o bastante.

A cebeça da fera voou longe, expondo o interior de seu corpo, um amontoado de pequenos pedaços de papel verde, notas de 20 e 50. Os 4 guerreiros destruíram complatamente a carcaça da besta e encheram suas valises com a recompena de sua caçada, teriam muito para levar de volta pra tribo.

- Eu nem acredito, matamos Piñata, a Besta Arco-Íris. - Um deles disse.


Por Gordon Banks (04/02/2008)
 
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