segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Inferno de Gordon, parte I: Ananasi, a Acromântula do Destino.

Caminharam pra dentro do Templo de Ouro, o velho monge e o rapaz. Não havia ninguém no hall principal.

- Ninguém em casa. - Gordon disse. - Pelo jeito ela também tem afazeres.

- Ananasi não mora aqui. Ela mora nas profundezas do templo. - Disse o velho magro caminhando na direção de uma passagem escura que Gordon reconheceu como sendo o lugar do qual saíra o Cavaleiro Solitário no dia da batalha.

O rapaz não se animou de ter que entrar naquele corredor que ele nem mesmo sabia pra onde levava, mas acompanhou seu guia escuridão adentro. Os dois caminharam os primeiros metros com tranquilidade, mas logo a luz foi diminuindo drásticamente, até ficar quase impossível enxergar qualquer coisa. Gordon sentia finas teias de aranha se agarrando às suas temporas e afastou-as com as mãos, não conseguia ver se Beggar estava tendo o mesmo problema. Quanto mais seguiam, mais úmido e pesado parecia o ar, e estava ficando claro que o corredor descia, mesmo que levemente. Durante alguns minutos a luz desapareceu completamente, não se via nada no túnel, mas então começou novamente a clarear e o jovem pode ver no final do corredor a luz pálida do dia.

Saíram do túnel no fundo de um poço imenso com cerca de 40 metros de diâmetro. No chão estavam espalhados ossos de vários tamanhos, muitos deles de aparência humana, mas fragmentados demais para se ter certeza. O poço subia vertical e sua saída estava em algum lugar entre 100 e 200 metros de altura do fundo. Entre as paredes, pra quase todos os lugares que se olhava, grossas teias de aranha, grossas como cabos de aço cruzavam o diâmetro do poço em todas as direções. No lado oposto ao da saída do túnel havia uma escada que subia pela parede do poço em espiral.

- Ela nunca está aqui no fundo, vamos ter que subir e encontra-la. - Beggar disse experiente. - Tome cuidado pra não tocar em nada que nos faça ser mortos.

- Mortos?

- Essas teias não são meras teias de aranha comum. São as teias de Ananasi, a acromântula do destino. Essas teias são as ligações do nosso corpo físico com as energias místicas do universo que regem o destino e os acontecimentos.

Gordon fitava Beggar com um olhar confuso. O monge-mendigo continuou:

- Cada fio que você está vendo é relacionado diretamente e algum acontecimento da sua vida. Pegar um ônibus. Escovar os dentes. Conhecer alguém. Conversar com alguém. Se um fio se partir, você vai perder não só todas as lembranças daquilo, mas também todos os desdobramentos. Por exemplo, se você estourasse o fio que representa seu pai, você ia se esquecer completamente dele, mas todos os fios relacionados a ele também iam desaparecer e você ia começar a perder memórias aleatórias que resultariam das ações dele na sua vida.

- Cara isso é muito complexo. - Gordon disse finalmente. - Não sei bem se entendi tudo, mas vou tentar não tocar em nada.

Beggar abriu a boca pra dizer algo, mas desistiu, realmente era um assunto complexo. Começou a subir a escada em espiral e o rapaz foi logo atrás. A escada era estreita, tinha no máximo 1m de largura. No começo não incomodava, mas logo começou a ficar bem alto e Gordon olhava pra baixo inseguro. Quando estava a 10m do chão apareceram as primeiras teias no caminho, estavam grudadas na parede diretamente no lugar onde eles precisavam passar. Beggar parou e tentou pensar num jeito de passar sem perturbar os fios cósmicos.

Enquanto o velho pensava, Gordon olhava para os fios e viu um brilho azulado em um deles, o que estava mais baixo. Não era claro, mas de alguma forma o rapaz começou a entender do que se tratava aquele fio, o que ele era e representava.

- Quebre esse aqui Beggar.

- Não podemos, não sabemos o que vai acontecer.

- É uma lembrança sobre um corte de cabelo ruim quando eu tinha quatro anos, sem maiores consequências. Pode quebrar.

- E como você sabe disso?

Os olhos de Gordon ficaram amarelos.

- Os olhos da besta. Mas é claro! - O monge disse com entendimento. - Os olhos que Everton implantou em você eram os olhos que Ananasi perdeu durante a batalha do templo! Isso nos dá uma vantagem aqui, você deve ir na frente Convicto.

Gordon passou a ir na frente quebrando aqui e ali algum fio de uma memória ou acontecimento desimportante e sem consequências. Conforme subiam, a quantidade de teias aumentava e com os olhos amarelos o rapaz enxergava os brilhos azuis de fios finos e desimportantes, os verdes que eram as consequências de certos acontecimentos e os grossos fios vermelhos que ele logo entendeu, eram os fios que jamais poderia ser cortados sem consequências terríveis. Continuaram subindo, mais e mais, já devia estar a 80 ou 90 metros do chão, uma queda seria fatal agora. Nada ainda da acromântula. Gordon percebeu que a quantidade de fios vermelho aumentava cada vez mais, prosseguir estava se tornando cada vez mais difícil.

Num certo momento não havia como prosseguir, estava cercados por todos os lados por fios vermelhos. Eles formavam uma teia densa no meio do poço.

- Acho que podemos prosseguir por aqui. - Disse Gordon pulando no meio da teia que balançou perigosamente, mas não se partiu.

Beggar o seguiu sem muita certeza e os dois começaram a escalar as teias, o emaranhado balançando e rangendo, mas nenhum único fio se partiu. Subiam no meio dos fios brancos e macios e não viam nada em direção alguma.

- E quando a encontrarmos? O que faremos? - Gordon perguntou.

- Ainda não sei.

Finalmente escalaram até um lugar em que os fios formavam um chão. Dessa teia apenas alguns fios partiam pra cima, cerca de 40 deles, todos com o brilho avermelhado. No fundo um fio chamou a atenção de Gordon. Era muito mais grosso que todos os outros e tinha um brilho dourado. O jovem caminhou até ele, Beggar ia ao seu lado muito atento olhando pra cima e para as paredes altas, ainda faltavam uns 30 metros pra chegarem no topo do poço. A mão do rapaz estava quase tocando o fio quando eles ouviram um rugido familiar, só podia ser Ananasi.

A aranha imensa, do tamanho de um ônibus, veio descendo por um fio que ela produzia de seu abdômen. Seus nove olhos de tigre estavam injetados e suas presas soltavam gotas grossas de um líquido verde, o veneno corrosivo da besta.

- Não toque! - Ela urrou enquanto suas oito pernas atingiam finalmente o chão de teias onde estavam.

- Nós estamos aqui pra evitar uma catástrofe. - Beggar tomou a frente.

- Eu saber. - O monstro sussurrou. - Eu estar protegida aqui. Loucura não alcançar tão fundo. Instinto permanece.

- Ananasi representa nosso instinto Gordon. É ela quem lhe fornece a empatia que você tem, é por causa dela que você tem uma boa percepção e julga bem o caráter das pessoas.

- O que é aquele fio dourado? - Gordon deu pouca atenção às palavras do monge.

- Você saber. - A aranha caminhou e a teia balançava a cada passo. - Destino dourado. Destino que Ananasi não pode mudar.

- Ela pode mudar qualquer coisa aqui, menos esse fio dourado. - Gordon disse pra si mesmo. - Você sabe qual fio eu procuro Ananasi, o fio de quem eu procuro, se eu parti-lo, se nós nunca a tivermos conhecido, tudo vai ficar bem.

Os olhos de tigre encaravam Gordon, agora um pouco menos vidrados, como se a aranha adquirisse uma consciência por um momento.

- O fio que você procura é o fio dourado.

Beggar apenas assistia. Ananasi recuou. Gordon caiu de joelhos, seu rosto era pura angústia. Ele não podia mudar nada. Podia apagar sua vida toda se quizesse, podia tacar fogo naquele poço e a única coisa que ia sobrar seria aquela única lembrança indestrutível.

- Vamos embora Beggar, estamos perdendo tempo aqui. O único fio que poderia nos salvar da loucura é o único que não pode ser destruído, é o causador da loucura.

Beggar nada disse, caminhou até Ananasi e montou na aranha. Ela foi até Gordon e deu a entender que ele devia repetir o gesto. Com os dois montados em seu lombo a aranha escalou com agilidade os últimos 30 metros do poço. Foram deixado do lado de fora do poço, numa pequena floresta de aparência alegre.

- Onde estamos? - Gordon perguntou.

- Em terras amigas. O palácio de Tornado fica nessa floresta. Acho que deve ser nossa próxima parada ou Ananasi não teria nos deixado aqui.

Enquanto falavam a acromântula se enfiou de volta em seu buraco silenciosamente.

- Vamos andando por aqui. - Beggar convidou.


A SEGUIR: O Inferno de Gordon, parte II: Tornado, Rei-Coragem.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De volta ao Vórtex, parte II

De volta ao Vórtex, parte I

Gordon acordou no chão, vomitando. De sua boca saíam os pedaços do homenzinho que ele havia engolido, agora morto e despedaçado no chão.

- Não se preocupe, ele regenera. Você vai descobrir que tem muita coisa difícil de morrer aqui dentro da nossa cabeça. - Disse Beggar, o velho mulanbento e magro que observava o jovem se levantar.

- Isso foi uma alucinação? - Gordon perguntou pressuroso.

- Não, não foi. Era uma lembrança. A Batalha do Templo de Ouro. Tinha sido até então o maior acontecimento do Vórtex. Nossa mente nunca tinha sido tão abalada. Até agora.

Gordon olhava para Beggar com compreensão no olhar. A idéia de que algo horrível estava acontecendo.

- Exatamente. - Beggar confirmou.

- Terrível. Terrível. O que aconteceu? Outra batalha? - Gordon parecia tentar juntar pedaços de sua mente, pensava com uma expressão de terror no rosto.

- Pior. - Beggar concluiu sinistro. - Muito pior eu diria. Não existe mais Amor no Vórtex desde a batalha, Solidão foi banido e vaga por terras longuínquas, meio vivo e meio morto depois de receber o Omega Slash. Lá fora, tudo se desenrola no sentido de abalar nossa mente, você entende que estamos caminhando rumo a perdição? Você é o único capaz de fazer algo Convicto.

- O que eu devo fazer? - Gordon fitava Beggar.

- Você tem que se convencer de que não vai ficar louco...

As palavras do monge-mendigo flutuaram no ar por alguns instantes, enigmáticas e agourentas. Gordon olhava para o velho sem saber o que dizer, o velho retribuía um olhar preocupado e sincero.

- COMO eu vou fazer isso? - O jovem perguntou com uma nota de terror na voz.

- Vamos caminhar um pouco. - Beggar disse levantando-se.

Gordon ainda não tinha reparado, mas a floresta negra havia desaparecido, estavam agora num campo de grama azulada, e já não era mais noite, brilhava um sol intenso, era um lindo dia. Os dois caminharam por uma pequena trilha entre as colinas azuis por alguns minutos. O tempo no Vórtex era volátil e efêmero, assim como o clima. Logo se aproximaram de uma construção familiar, Gordon reconheceu o Templo de Ouro no centro de uma colina.

- Eles estão lá? Os outros? - Banks perguntou.

- Não, estão em seus domínios evitando que tudo desabe. Só um deles vive aqui no templo.

- Quem? Razão?

- Não. Nossa grande e cabeluda amiga Ananasi.


A SEGUIR: O Inferno de Gordon, parte I: Ananasi, a Acromântula do Destino.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte final: 10 pessoas no templo de ouro.

[Bom, finalmente termina essa parte das Crônicas do Vórtex, agradeço a todos que leram e só pra lembrar, a verdadeira batalha do Templo de Ouro aconteceu há 3 anos atrás que foi quando eu escrevi esse texto e postei em 8 partes no meu antigo fotolog. Quem quiser conhecer o texto original e ver um pequeno extra que conta o destino do Cavaleiro Solitário, por favor clique aqui. Foi bem legal reler e reescrever algumas partes da coisa toda e por uma grande coincidência eu passei pela mesma situação de 3 anos atrás justamente enquanto postava novamente esse texto, timing perfeito. Após o final dessa saga eu começo a escrever uma outra apresentando alguns personagens que não aparecem na saga original. Novamente agradeço a quem teve saco de ler, se gostaram, façam propaganda ;)]

Parte I: O Prisioneiro.
Parte II: Medo.
Parte III: Batalha em nome do Amor.
Parte IV: Dedos quebrados e lábios partidos.
Parte V: First Blood.
Parte VI: Colisão.
Parte VII: Todos contra o Amor.


07/12/05


O Cavaleiro Solitário e Gordon se encontraram no meio do templo, os punhos erguidos, um soco de cada lado. Banks foi arremessado contra a parede, bateu com um baque surdo e caiu no chão, aparentemente inconsciente.

- Eu sinceramente achei que você ia aguentar mais do que um soco. - O Cavaleiro disse com ar decepcionado, se virou de costas e foi andando para o túnel de onde viera, a batalha estava vencida.

- Eu aguento bem mais que um soco. – O jovem abriu os olhos, tentava se sentar no chão, o Cavaleiro se virou para ele com ar surpreso.

- Bom, parece que eu tenho mais alguns minutos pra me divertir então. - Caminhou na direção do jovem que antes caído, agora estava sentado no chão.

O que se seguiu foi uma sessão de espancamento, Gordon era arremessado contra todas as paredes, contra o teto, contra o chão, levava socos e chutes, cabeçadas. O Cavaleiro jogou o adversário contra o corpo gigante de Ananasi, o jovem caiu e ficou ali, de rosto pro chão.

- Bom, acho que isso dá um fim nas suas convicções. - O Cavaleiro zombou.

- Na verdade... - Gordon se levantou com extrema dificuldade - Ainda não. Se você ainda não percebeu, eu NUNCA vou cair.

- Você se superestima Gordon, você sabe do que eu sou capaz.

- Eu não tenho ambição de derrota-lo Cavaleiro, mas é só que... esse é meu “poder”... eu nunca vou ser derrotado enquanto acreditar que posso vencer.

- O quê? - O Cavaleiro tinha um olhar incrédulo.

- É isso... enquanto eu acreditar, eu vou continuar me levantando.

- Bobagem! - O Cavaleiro começou uma nova sessão de espancamento.

No primeiro soco os óculos de Gordon voaram longe, estilhaçados, no segundo soco, o nariz já quebrado e deformado foi atingido, o piecing saiu voando e caiu no chão coberto de sangue. Banks continuava sendo jogado e socado de todos os modos possíveis.

- Levante-se agora! - O Cavaleiro ordenou.

Gordon não conseguiu, as pernas estavam quebradas, um dos braços também, o rosto estava desfigurado, coberto de sangue. Mas ele continuava consciente.

- Você é um derrotado, eu tinha razão. - O Cavaleiro riu.

Gordon se prendeu pensativo às palavras do cavaleiro..."Razão"..."Razão"..."Razão"...Como ele não havia pensado naquilo antes?

- Razão. - Cuspiu a palavra da boca ensanguentada.

- O quê? - O Cavaleiro se aproximou pra ouvir melhor.

- Razão.

- Fale alto moleque!

- RAZÃO!!! - Banks urrou e caiu inconsciente finalmente.

O Cavaleiro não entendeu a princípio, mas logo seu rosto foi tomado de terror. Ouviu um som às suas costas.


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Era como um clangor de trombetas e tambores. Uma música magnífica e apocalíptica, alguns, dependendo do que estavam dispostos a ouvir, podiam escutar rugidos de animais, coros de vozes, explosões, sons da natureza, tudo misturado àquele canção celestial.

Uma luz intensa rasgou o céu e o teto do templo. No meio da luz um vulto permanecia parado observando os limites do templo semidestruído.

Era alto, o corpo atlético, de suas costas emergiam três pares de asas espetaculares, brancas e brilhantes.

Tentar olhar para seu rosto era como olhar para o sol, só que imensamente mais incômodo, os cabelos refulgiam como serpentes douradas à volta da cabeça, raios de sol vivos e cintilantes.

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- Mas que confusão. - A voz do "anjo" era suprema, parecia vir de toda parte, retumbava nos ouvidos do Cavaleiro como pancadas dolorosas.

- Razão, há quanto tempo. - O Cavaleiro fez uma leve reverência, estava visivelmente incomodado com aquela presença.

- Ouço algo, vejo alguém, essa insignificância só pode ser uma coisa. Amor, é você, que sempre causa tantos problemas? - Razão disse rispidamente.

- Você me julga mal Razão. – O Cavaleiro deu um sorrisinho amarelo.

- Eu te julgo racionalmente, e não deve haver nenhum julgamento mais justo que o meu! - O anjo elevou levemente a voz, e o templo pareceu tremer desde as fundações até o telhado.

Razão olhou em volta, vários mortos, o Cavaleiro era o único que se mantinha de pé. - Preciso perguntar o que aconteceu?.

- Você sabe de tudo Razão, será que “isto” escapou a sua atenção? - O Cavaleiro perguntou incisivo.

- De fato...- Razão apontou para Golem, as peças metálicas de reuniram - ... eu sei o que aconteceu aqui... - Mais um gesto e o corpo de Ananasi se regenerou - ... mas eu prefiro - Apontando para Beggar e fazendo-o recuperar a vida - ... que você me conte.

O Cavaleiro observava atônito aos mortos que voltavam, Razão fez mais alguns gestos parecidos com os primeiros e devolveu, Moon Tyrant, Slayer e Everton à vida.

"..." - Cavaleiro ficou em silêncio.

- Você tentou usurpar o Templo para si, e para isso destruiu todos os outros que, você sabia, eram sua prisão. - Razão concluiu.

O Cavaleiro não disse nada, nenhum dos outros se pronunciou.

- Eu vou bani-lo Amor, é o que você merece. - Razão sentenciou.

- Ninguém merece isso Lorde! - Beggar disse suplicante.

- Eu sou a razão Sabedoria, não a benevolência... castigo a quem merecer, doa em quem doer, mesmo que às vezes o castigo vá acabar se revertendo em mim mesmo.

O silêncio permaneceu, Beggar não deu sinais de que faria novos protestos.

Razão esticou a mão para frente na altura do peito, uma espada magnífica se materializou e o anjo fechou sua mão sobre a empunhadura.

- Minha espada! - O Cavaleiro disse num sobressalto.

- Agora, ela me acompanha Amor, você não tem mais nenhum direito sobre ela.

Todos observavam em silêncio enquanto Razão esticava o braço com a espada para um lado, espalmou a mão e a espada não caiu, ela permaneceu flutuando há alguns centímetros da mão do anjo, de súbito ela começou a girar descrevendo um grande círculo paralelo a Razão.

Enquanto girava o espada produzia uma música sublime, como um coro de mil sereias.

- Omega Slash. - Ananasi sussurrou.

- Omega Slash! - Razão pronunciou em voz alta, a espada parou de girar imediatamente, estava na posição correta para ser empunhada por Razão, que o fez e golpeou com a espada o peito do Cavaleiro que foi atingido sem mostrar nenhuma reação, a não ser um leve contrair de olhos.

Razão torceu a espada que devia ter penetrado cerca de seis ou sete centímetros da carne do Cavaleiro e a puxou para fora, deixando um ferimento fundo e aberto que começou a sangrar imediatamente.

- Seu nome de agora em diante será Solidão, e você vai vagar pelas terras ermas, além do Vortex. - O anjo disse sério e sem emoção.

O Cavaleiro nada disse, só se colocou a caminhar para fora do templo.

- Inocência, guardião do amor, Sabedoria, companheiro da inocência, vocês devem vigiar o Cavaleiro. - Razão disse autoritário.

Golem e Beggar se entreolharam sem nada dizer, se colocaram lado a lado e começaram a seguir o Cavaleiro que acabara de deixar o templo. O rastro de sangue ainda visível no chão dourado.

- Medo, Instinto, velhos companheiros, vocês voltarão para o subterrâneo, nas entranhas mais profundas do Templo de Ouro. - Razão delegou.

Ananasi e Slayer caminharam pelo túnel no qual o Cavaleiro havia surgido a primeira vez e desapareceram na escuridão.

- Ambição, alcance o céu, e além. - Razão se voltou para Moon Tyrant.

Moon Tyrant sorriu, levitou acima do chão e foi até a entrada do templo, voou rápido para fora do templo e no céu, mirava a Lua.

- Egoísmo, volte para a superfície, para o mundo dos homens, onde você se sente tão bem.

Everton saiu caminhando serenamente sobre sua perna de pau. Próximo a entrada do templo, se abaixou e no chão pegou algo. Os dois olhos de Ananasi que haviam sido arrancados pelo Golem na batalha. Guardou-os no bolso e partiu.

Uma leve brisa invadiu o Templo de Ouro, ao lado de Razão, Tornado se materializou com um brilho azulado. - Batalha dura. – Disse solene.

- De fato. Se o garoto não tivesse se lembrado de mim, vocês estariam todos mortos. – O anjo disse sinistro.

- Você não ia interferir? – Tornado parecia descrente.

- A razão está sempre lá, mas ela só pode ser útil se alguém a acionar, entende?

- Sim. – O elfo olhou ao redor com a cabeça baixa refletindo por alguns instantes, viu Gordon caído no chão. - E o garoto?

- Precisa descansar. Eu sei que ele é forte e aguenta muita coisa, mas não tenho idéia da extensão dos traumas dessa batalha. Fique aqui com ele e o leve pra superfície assim que ele despertar, Everton não é de confiança.

Tornado se sentou num canto qualquer do templo, assoviando uma canção feérica. Razão desapareceu no ar, deixando apenas a lembrança da música sublime que se manifestava enquanto ele estava presente.


Gordon "Troll" Banks (Ou terá sido alguém mais?)

domingo, 9 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte VII: Todos contra o Amor.

Colocaram-se em posição, todos os cinco combatentes. Golem, Beggar, Banks e Tornado formavam um meio-círculo na frente do Cavaleiro, que aguardava pacientemente o primeiro ataque.

Golem foi o primeiro a se movimentar, exatamente como era esperado. Correu com o imenso punho direito cerrado na altura do ombro, desferiu um soco que poderia ter matado um homem comum, na verdade que poderia matar ALGUNS homens extraordinários.

O Cavaleiro esticou o braço esquerdo, o indicador estendido além dos outros dedos segurou o poderoso golpe do golem sem esforço algum. - Patético. - Com a mão livre o Cavaleiro esmurrou o abdômen de aço do gigante metálico, que pareceu explodir de dentro pra fora numa chuva de peças de metal.

- O próximo, por favor. - o Cavaleiro zombou sem emoção.

Gordon e Beggar observavam paralisados, Golem havia sido completamente destruído com um único golpe, que chance eles tinham?

Tornado já havia avançado contra o oponente antes mesmo das últimas peças do golem caírem no chão, voava rápido, o punho retraído até a cintura já preparava seu primeiro golpe.

O golpe foi extremamente rápido, como uma rajada de vento cortante, o Cavaleiro cambaleou levemente, depois passou a se defender dos golpes seguintes.

- Precisa ser melhor que isso pra me derrotar elfo. - Ele disse aborrecido enquanto defendia os golpes incessantes.

- Eu sou melhor que isso! - Tornado aumentou a cadência dos golpes.

- Precisa ser melhor ainda. - O Cavaleiro zombou e chutou o estômago de Tornado sem chance de defesa ou reação, foi inesperado demais.

O elfo azul caiu no chão, as mãos protegendo o estômago, estava sem fôlego. O Cavaleiro o chutou no rosto, ele rodou no ar, o cavaleiro implacável lhe deu um soco no peito, o elfo explodiu numa tempestade de luz azul que logo se desfez, deixando somente uma leve brisa pairando no ar.

- Próximo. - O Cavaleiro riu malignamente.

Beggar se adiantou com uma postura digna como sempre, os punhos magros cerrados, a postura de combate que costumava assumir.

- Você vai mesmo tentar, velho? - O cavaleiro avançou.

Os dois trocaram golpes por alguns momentos, golpes quase invisíveis de tão rápidos. Mas logo cessaram, o punho do Cavaleiro afundado entre as costelas de Beggar que permanecia imóvel, até que um fino fio de sangue escorreu pelo canto de sua boca. Ele tombou imóvel.

O Cavaleiro se virou para Gordon. - Você também faz questão de tentar? - Perguntou cínico.

- Você provavelmente se esqueceu quem EU sou. - Banks disse confiante.

- Não existem convicções que vençam o amor. - O Cavaleiro chiou entre dentes.

Os dois partiram um pra cima do outro, o Cavaleiro com a clara vantagem de ser um guerreiro mais poderoso e experiente, Gordon confiando apenas no seu tamanho e em suas convicções.


A SEGUIR: 10 pessoas num templo de ouro.

sábado, 8 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte VI: Colisão.

A colisão das energias de Tornado e Moon Tyrant arremessou todos os sobreviventes contra as paredes, o Cavaleiro se ajoelhou para não ser arremessado, e continuou assistindo com dificuldade a batalha.

Tornado e Moon Tyrant trocavam golpes furiosamente, enquanto pairavam há 2 metros do chão, socos, chutes, cabeçadas.

O tirano era visivelmente maior que o elfo azul, mas ambos estavam munidos de uma ferocidade fora do normal.

***Chuta, soca, gira, chuta, recua, bloqueia, soca, soca, chuta, gira, bloqueia, chuta, soca, soca, bloqueia, soca, chuta, soca***.

Ventava muito e além das rajadas de vento, uma energia densa estava presente, deixando todos em leve desconforto.

Gordon se levantou com dificuldade ao lado de Beggar, Golem caminhou até os dois e parou na frente deles, barrando grande parte do vento que insistia em derruba-los.

- Se eles continuarem assim, o Templo vai ao chão! - Banks berrou pra ser ouvido acima do som da ventania.

- Um deles está prestes a vacilar, a batalha não vai durar tempo o bastante pra derrubar o templo. - Beggar disse sinistro.

***Soca, chuta, gira, bloqueia, chuta, chuta, chuta, soca, recua, soca, bloqueia, soca, bloqueia, chuta, chuta***.

O ritmo da batalha era apocalíptico, os dois lutavam como se fossem inimigos jurados, embora eles jamais mostrassem nenhuma inimizade.

***Bloqueia, chuta, gira, soca, soca, recua, chuta, bloqueia, soca***.

O cavaleiro assistia, ainda de joelhos, se protegendo da ventania. Enquanto Tornado socava sem parar, o tirano parecia estar ficando pálido e seus olhos ficaram fundos, os músculos ficaram flácidos e o cabelo negro ficou grisalho.

- Estão diminuindo o ritmo. - Gordon percebeu incrédulo.

- Moon Tyrant está pagando o preço de seu poder. - Beggar parecia saber de algo além da percepção comum.

- Me explica o que está acontecendo.

- A coroa está drenando as forças do Moon Tyrant. - Beggar observou - É óbvio que essa aparência doente que ele tem é por causa da coroa, ela cobra um tributo alto por seus poderes, a saúde do tirano. - Concluiu.

***Chuta, bloqueia, soca, recua, soca, hesita...***

Tornado acertou um murro no rosto de Moon Tyrant, que foi arremessado contra a superfície fria de ouro das paredes do templo.

O elfo azul, ainda fora de si, voou rápido pra cima do adversário impotente.

- Já chega Tornado! Ele está acabado! - Gordon gritou e foi devidamente ignorado.

Tornado começou a socar o Tirano ainda caído a seus pés, já inconsciente. Segurou-o então pelo pescoço e se preparou para executar o derrotado.

Uma mão gigantesca e dura se fechou por cima do pulso de Tornado, impedindo-o de desferir o golpe de misericórdia, Golem mirava o elfo, o elmo que era sua cabeça não representando emoção alguma.

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Uma última vez pode-se ouvir o barulho de correntes, o Cavaleiro se livrara da última, ele sorria maléficamente.

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- A batalha está pra começar de verdade agora. - Beggar disse solenemente.

Golem se virou para o Cavaleiro.

Tornado voltou a si, seus olhos azuis voltando ao normal, automaticamente ele se voltou para o cavaleiro com um olhar furioso.

Gordon cerrou os punhos com força, o rosto ainda machucado da batalha anterior mantinha uma expressão dura.


O Cavaleiro pareceu finalmente se dar conta de que os quatro companheiros estavam ali. Sorriu forçadamente e com a mão fez um gesto que convocava todos para a luta. - A hora que vocês quiserem.


A SEGUIR: Todos contra o Amor.

As Crônicas do Vórtex, parte V: First Blood.

Slayer ainda investia com vontade contra Beggar, o enorme punhal riscando o ar. - "Morra de uma vez velho!" - Ele gemia entre-golpes.

Beggar já esgotara sua paciência, estava decidido a retrucar os golpes à altura. Inclinou-se para trás de maneira teatral, a aparência de um monge-mendigo lhe dando um ar digno e ao mesmo tempo agressivo. Retesou o calejado punho direito até a cintura e manteve o esquerdo estendido com a palma aberta. Ele socou o ar a sua frente com o punho direito.

Para Slayer era incompreensível, ele só podia sentir a dor se espalhar por todo o seu corpo. Era como ser esmagado por uma força incrível.

Beggar socava o ar a sua frente e Slayer continuava gritando. Os golpes do monge eram como uma tempestade de punhos furiosos, cada soco no ar representando algumas centenas de golpes no adversário.

Slayer foi arremessado cinco metros para trás, aparentemente morto, o punhal a seu lado, imóvel.

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Ouviu-se o barulho de correntes, o Cavaleiro fitava o grilhão que o prendia pela perna direita. Sorria maliciosamente enquanto uma força invisível destruía a corrente e ele estava agora mais próximo da liberdade.

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Ananasi tentava ganhar alguma vantagem sobre Golem, mas era visível naquele momento a superioridade do gigante metálico, mesmo frente a um monstro tão poderoso quanto a acromântula. Ela rugia de dor e fúria mescladas, jorrava ácido pelas presas desesperadamente, tentava atingir seu oponente com as poderosas e grossas patas cabeludas, mas nada parecia dar resultado.

Golem continuava socando, num ritmo cada vez mais intenso.

Num vacilo de Ananasi, Golem a segurou pelas presas, as mãos invocando uma força titânica. Ananasi urrou de dor, o desespero de ver a morte de tão perto estava estampado nos nove olhos de tigre do monstro.

O construto forçou tudo que pode, o que era MUITA coisa. A cabeça da adversária foi partida ao meio, dois de seus noves olhos voaram pelo salão e atingiram as paredes douradas do templo.Não contente com a morte de sua adversária, ou talvez inocente demais pra perceber que havi vencido a batalha, o golem ainda socava o corpo sem vida da criatura e lhe arrancava as pernas, que tremiam e chutavam em reflexo pós-mortem.

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Um segundo ruído de correntes. O Cavaleiro se libertara do grilhão que lhe prendia a mão esquerda.

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A rivalidade entre Everton e Gordon era lendária. Os dois se odiavam com todas as forças. Era hora de resolver isso. Estudavam-se, caminhando de frente um pro outro, descrevendo um círculo. A fúria era presente no rosto dos rapazes, a pele avermelhada devido ao fluxo de sangue aumentado.

Everton investiu com impudência, o punho direito erguido no ar.

Gordon se esquivou do soco desajeitado do adversário e se viu numa posição privilegiada, por trás do gêmeo, agarrou-o pelo pescoço numa chave de pescoço.

- Boa noite cara. - Banks disse confiante. O mata-leão era seu golpe invencível, e por mais que Everton o golpeasse com os cotovelos e lhe chutasse as canelas, Gordon não soltou até que o oponente caísse no chão desmaiado. Quem sabe até, sem vida?

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O som de correntes pela terceira vez. O Cavaleiro chutava para longe as correntes da perna esquerda, agora, preso somente pelo pulso direito, ele aguardava ansioso o resultado da última batalha.

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Tornado se afastou lentamente do chão, lufadas de vento o acompanhavam. Os olhos brancos fixos em Moon Tyrant.

Moon Tyrant não deixava por menos, imitava cada passo do adversário. Afastou-se do chão, atingindo uma certa altura, uma energia dourada lhe envolvia o corpo agora, os olhos bicolores fixos em Tornado.

- Você ainda pode desistir Moon Tyrant. - Tornado disse, sua voz agora era poderosa e parecia vinda de longe, trazida pelo vento.

- Eu nunca desisto Tornado, se a lua é minha, sua carcaça também será. - Ele respondeu desafiador.

- Quem assim seja. - Tornado finalizou o diálogo.

Moon Tyrant sorriu.

Os dois se arremessaram um contra o outro ao mesmo tempo, os punhos preparados. O poder era quase visível dentro do templo.

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O Cavaleiro ria alto agora, triunfante. - "Hahahahahahahahahahaha!”.

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A SEGUIR: Colisão.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte IV: Dedos quebrados e lábios partidos.

O Cavaleiro Solitário assistia a tudo ali parado de pé no meio das pelejas, se esquivava vez ou outra de algum golpe mais intenso que sobrava das lutas.

- Pare com isso Slayer! - Beggar se protegia das estocadas.
- Você acha mesmo que temos alguma chance? Nossa única opção é lutar e acabar logo com isso! - Slayer continuava atacando, insistente.
- Sempre existem duas opções! Não precisamos lutar Slayer! - Beggar argumentava.

Slayer ignorou, estocou com o punhal golpe depois de golpe.

Beggar se defendia sem muita dificuldade, era um lutador excelente. Para a sorte de Slayer por enquanto o sábio apenas se defendia. Slayer estaria acabado assim que Beggar decidisse disparar a primeira rajada de golpes.

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Ananasi saiu lentamente da cratera onde estava, o Golem tinha uma força titânica e a arremessava de um lado pro outro do templo sem a menor piedade. Ela estava desorientada e abatida, mas ainda furiosa e sedenta de destruição.

Golem já se arremessava contra a aranha monstruosa novamente. Seus passos pesados retumbavam enquanto corria e podiam ser ouvidos por todos no templo. Aquela era de longe a batalha mais barulhenta.

Os dois se encontraram no campo de batalha, Ananasi cuspindo seu veneno corrosivo furiosamente. O Golem ignorava o ácido-veneno, seu gigante corpo metálico era imune à dor.

O gigante de ferro começou a esmurrar Ananasi com seus punhos maciços e a aranha recuava diante dos golpes poderosos, perdendo terreno.

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Everton, o gêmeo caolho, conseguiu derrubar Gordon no chão e sentou-se em seu peito, socava o rosto do gêmeo impiedosamente.
- Segura essa! – Desceu-lhe um soco no nariz, que quebrou e jorrou sangue.

Banks pensava numa maneira de reagir, Everton era tão pesado quanto ele mesmo, seria difícil sair daquela posição. Começou a socar os flancos do adversário, mas sabia o quanto aquilo era inútil, ele vivia se gabando do quanto aguentava golpes do tipo.

- Agente aguenta mais que isso! – O Caolho ria ainda socando o nariz quebrado com vigor.

O riso do irmão irritava Gordon profundamente. Algo dentro dele se acendeu com uma força descomunal e ele conseguiu jogar o gêmeo ao chão. Levantaram rapidamente os dois.

- 'Cê 'tá fodido! - Banks bradou furioso, o rosto coberto de sangue e hematomas.

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Tornado ainda flutuava há alguns centímetros do chão, seus olhos ameaçadoramente brancos e rajadas de vento a lhe circundar o corpo.

Moon Tyrant permanecia quase da mesma maneira, um olho totalmente branco o outro totalmente dourado, a coroa emitindo um brilho fantasmagórico de luz amarelada.

Estavam acumulando forças.


A SEGUIR: First Blood.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte III: Batalha em nome do Amor.

Ninguém ainda acreditava no que estava acontecendo, o homenzinho calvo correndo na direção do monge-mendigo com uma lâmina na mão.

Slayer atacou Beggar com seu punhal. O homenzinho visava um lugar seguro ao lado do Cavaleiro Solitário, pra ele não havia dúvida alguma de que a "nova Era" da qual o Cavaleiro tinha falado estava próxima. E se havia alguma chance dele vencer uma luta contra alguém, na sua mente distorcida, seria contra o velho Beggar.

Beggar era um artista marcial experiente, passara anos treinando nos ermos do vórtex, dificilmente Slayer o teria atingido. O monge apenas desviou o punhal de seu caminho e devolveu alguns socos sem vontade real de acertar Slayer, o homenzinho sacudiu o punhal no ar desesperado com o contra-ataque e num leve descuido Beggar levou um arranhão no braço, um fino fio de sangue escorreu da ferida. Isso foi o bastante pra instigar Ananasi.

- Sangue! - Ela urrou e soltou-se do teto, o corpo imenso bateu no chão com estrondo e ela mirou o primeiro alvo que viu. Seus nove olhos de tigre ficaram enloquecidos e injetados quando ela partiu pra cima de Gordon que ficou paralisado diante do ataque feroz.

Os passos pesados do Golem de metal correndo pelo salão ecoaram enquanto ele se colocava entre o garoto e a monstruosa aranha. Ananasi não pareceu se importar de mudar de alvo, ela atacaria qualquer um e seu caminho. Mais uma batalha havia começado... Inocência contra Instinto.

- Ninguém pra te proteger agora fracassado. – Gordon Banks ouviu uma voz idêntica à dele e se virou para olhar, era Everton com um soco preparado no punho.

Um soco e Convicção lutava contra Egoísmo.

Moon Tyrant olhou ao redor e encontrou Tornado encarando-o.
- Parece que nós dois sobramos. – Estralou os dedos e sorriu caminhando na direção do elfo azul.
- O azar é todo seu. - Tornado disse enquanto o vento começava a soprar dentro do Templo.

Coragem e Ambição lutariam.

O Cavaleiro Solitário assistia com prazer aos duelos.

Beggar e Slayer trocavam golpes, mas as estocadas do homenzinho eram visivelmente inferiores á técnica marcial do mendigo. Enquanto Slayer já dava sinais de cansaço, a testa molhada de suor e ofegava pesadamente a cada arco que a lêmina descrevia, Beggar permanecia calmo e concentrado, seu corpo velho e duro parecendo agora muito mais intimidador.

Ananasi foi arremessada pelo Golem e bateu pesadamente contra a parede de ouro maciço do templo com um baque surdo. Ela se levantou devagar com fúria nos nove olhos estúpidos de tigre e partiu novamente pra cima da armadura mágica.

Os gêmeos se enfrentavam de frente, com a guarda alta imitando lutadores de boxe. Se encaravam tensos, Gordon já com um primeiro corte na sobrancelha, Everton encarando com seu único olho cheio de fúria. Trocaram alguns socos. Everton se adiantou e encaixou uma chave de pescoço em Banks e começou a socar seu rosto violentamente.

Tornado, com os olhos cheios de fúria, flutuava há alguns centímetros do chão. Moon Tyrant fez o mesmo, seus olhos brilhavam um totalmente branco e o outro dourado de energia de sua misteriosa coroa.

- Lutem meus amigos... Lutem e dêem tudo de si... No final, independente de qual seja o resultado, eu serei o vencedor. Por que nada, NADA pode vencer o Amor. - O Cavaleiro sussurrou.


A SEGUIR: Dedos quebrados e lábios partidos.

As Crônicas do Vórtex, parte II: Medo

Todos olharam surpresos para o homem que havia acabado de entrar no grande salão do Templo de Ouro. Na verdade, não era bem surpresa, não para todos eles. O Golem reagiu com sua costumeira curiosidade, Ananasi rugiu excitada e Slayer se escondeu atrás de Moon Tyrant com medo.

O Cavaleiro assistiu com certo prazer enquanto todos se agitavam com sua mera presença.
- Vocês demoraram. – Ele fitou a todos.
- Do que você está falando? – Gordon se adiantou. Era lendário o conhecimento do garoto sobre o Cavaleiro, talvez isso fizesse alguma diferença.

O Cavaleiro sorriu um sorriso torto e muito branco de caninos salientes.
- Há semanas vocês estão sentindo... Um desejo imenso de vir até aqui, de se reunir... Estão ficando mais agressivos, suas habilidades mais aguçadas... Tudo faz parte.
- Parte de quê? - O elfo azul, Tornado, perguntou impaciente.
- Ora Coragem. - Todos estremeceram quando o Cavaleiro se dirigiu ao elfo dessa forma - Parte da nova Era. Eu vou ser libertado, é inevitável.
- Como assim inevitável? Você acha mesmo que consegue sair do Templo sem nossa ajuda? - Gordon tentava arrancar tudo do Cavaleiro.
- Ah Convicção, sempre tão... Convicto. - Riu - É claro que eu não posso sair daqui sozinho, mas vocês vão me ajudar.
- Pare de usar esses termos Cavaleiro! - Beggar advertiu.
- Termos? Seus nomes você quer dizer, Sabedoria? E qual o grande problema afinal? Não são essas nossas verdadeiras identidades? Gordon é Convicção, Tornado é Coragem, você Beggar é Sabedoria, o Golem é Inocência, Moon Tyrant é Ambição, Slayer é Medo, Ananasi é Instinto e Everton é Egoísmo.

Todos ficaram em silêncio, seus nomes não eram pronunciados em voz alta há anos. Beggar fixou o olhar reprovador no Cavaleiro, já outros como Moon Tyrant e Everton abaixaram a cabeça, envergonhados de suas verdadeiras naturezas.

- Vocês vão me ajudar. - O Cavaleiro continuou - Vão lutar entre si e me libertar de uma forma ou outra. Quando eu estiver livre, os vencedores serão meus protegidos.
- Lutar entre nós? Pra te libertar? Pelo cosmo! Do que raios você está falando? - Moon Tyrant falava alto, com seu jeito autoritário e severo.

Slayer tremia em seu canto escuro, alisava o cabo de seu punhal tentando ignorar o que era dito.

- Um de vocês vai desencadear toda a batalha e depois disso, quatro de vocês vão ser mortos e vão eliminar meus grilhões. - Ao citar os grilhões, o Cavaleiro fez questão de mostrar os pulsos, e as grandes correntes que o prendiam às profundezas do Templo.

Todos permaneciam em silêncio. Slayer deixou seu abrigo de sombras e começou a caminhar na direção de Beggar, que de longe tinha a aparência mais frágil dentre todos ali.

- Quem vencer vai ser protegido então? Eu prefiro ficar no time vencedor. - Ele segurava o punhal com firmeza na direção de Beggar, deu mais alguns passos e vacilou por um segundo, então avançou com desespero para atacar.


- Slayer, não! - Gordon e Tornado gritaram juntos.


A SEGUIR: Batalha em nome do Amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As Crônicas do Vórtex, parte I: O Prisioneiro.

No meio de um imenso campo de grama verde-azulada, havia um imenso Templo de Ouro. Era uma construção magnífica de arquitetura insondável, tinha mais 20 andares de altura e se estendia em todas as direções, suas imensas muralhas douradas rasgando o cenário. No centro do templo, um grande salão redondo com teto abobadado.
Dentro do salão no Templo de Ouro, se espalharam oito viajantes, figuras distintas e sombrias.

No centro do salão estavam parados três homens, dois jovens idênticos, altos e gordos, vestindo calça jeans e camiseta preta, um deles com um piercing em forma de ferradura no nariz e o outro com uma faixa de tecido escuro por cima do olho direto no lugar de um tapa-olho. O terceiro homem era um velho que aparentava ser um mendigo, magro e barbudo, estava parado próximo aos jovens. Num canto estava parada uma imensa armadura de metal que olhava para os lados com curiosidade e a alguns metros dela, sentado no chão encostado numa parede dourada, um belo elfo de pele azulada, com longos cabelos azuis muito bagunçados e com algumas folhas presas entre os nós.

Um homenzinho calvo de olhar assustado estava escondido nas sombras num canto escuro perto de uma passagem. Próximo da entrada externa estava um homenzarrão enorme, musculoso e de olhar intenso com uma estranha coroa na cabeça, olhava pro céu púrpura do lado de fora do templo. No teto do salão, grudada ao teto, observava e sussurrava uma monstruosa aranha gigante do tamanho de um ônibus "Eu sou o destino, eu sou o destino...”.

O mendigo se aproximou de um dos jovens altos, aquele que tinha o piercing no nariz e que parecia ser o mais dócil.
- Ela está agitada Gordon, o pior pode estar por vir...
- Nós todos reunidos aqui Beggar, já é o pior...

O segundo jovem, idêntico ao primeiro, porém de olhar mais severo e cruel se aproximou dos dois mancando sobre uma perna tosca de madeira.

- Esse fracassado tem razão, ou o templo está ruindo, ou o cavaleiro está tentando se soltar, e ambos seriam péssimos acontecimentos.

O velho estremeceu de apreensão, das costas dele, próximo à escura passagem que levava para as profundezas do templo o homenzinha calvo disse:

- Pra vocês talvez seja algo terrível, mas eu adoraria ver este templo no chão.
- Já eu, adoraria que o cavaleiro se soltasse. – Disse o grandalhão que usava a coroa de aspecto misterioso.

A gigantesca armadura de ferro apenas observava o diálogo, inexpressiva. Seu elmo era fechado com uma estreita fenda para os olhos, mas sem observar muito percebia-se que a armadura estava vazia. Mesmo assim o elmo se movia de um lado pro outro acompanhando o diálogo.

- É tudo sobre equilíbrio... Se o templo ruir, teremos de lutar pela liderança, se o cavaleiro escapar, teremos de lutar por abrigos seguros. - Disse o elfo azul, Tornado Overpower levantando-se do chão e caminhando para o centro do Templo.
- Eu sou o líder óbvio! Ninguém vai tirar isso de mim! - O jovem caolho exclamou exaltado.
- Sou um líder tão óbvio quanto você, já vivi quase tanto tempo quanto você lá fora. – Gordon Banks retrucou.
- O líder óbvio é aquele com maior capacidade de liderança. Eu comando exércitos, sou um general da morte e se o templo ruir, eu serei o líder! - Disse Moon Tyrant, o homem com a coroa.
- Vocês são cães brigando por um osso que ainda está na perna da vaca. – Beggar, o mendigo barbudo concluiu.

A armadura observa, sua face metálica e maciça ainda assim apresentava um ar curioso.

- Eu sou o destino, eu sou o destino... - Ananasi sussurrava colada ao teto, suas compridas e cabeludas pernas tremendo levemente de excitação.

- Ela me dá arrepios. - Slayer, o homenzinho no canto escuro disse para ninguém em particular.
- Tudo lhe dá arrepios seu covarde! - Moon Tyrant urrou e Slayer se encolheu um pouco mais nas sombras.

Da passagem escura próxima de Slayer vieram barulhos de correntes, todos se voltaram para observar quem vinha. Um homem saiu pela passagem, magro, alto, com longos cabelos brancos e olhos amarelos, a pele era escura do sol. Vestia couro preto e desconfortável pelo corpo todo, mas toda a veste tinha aberturas por onde se viam tiras de sua pele. Nos pulsos e tornozelos, correntes com grilhões o prendiam há algum lugar na escuridão.

- Vocês demoraram muito mais do que eu tinha calculado, mas acho que tudo bem já que estão todos finalmente aqui. Vamos começar a brincar. - Disse o Cavaleiro Solitário com um sorriso malicioso no rosto.

A SEGUIR: Medo.
 
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