sábado, 8 de dezembro de 2007

As putas da minha vida

Era uma noite quente, mas os ventiladores no teto faziam bem o seu trabalho. A música tocava bem alta, alguma porcaria black que estava na moda. A luz negra escondia parcialmente as feições de todos no ambiente, um salãozinho pequeno de no máximo 10x10 metros. No fundo um balcão longo onde 2 barmans atendiam à multidão furiosa de comandas de cartolina amarela agitadas no ar, a minha era apenas mais uma delas. Um barman finalmente me viu no canto do balcão, o mais afastado possível de todos, mais ainda assim me acotovelando com dois sujeitos bem vestidos que tinham pinta de empresários. Pedi a quarta das 5 cervejas que aquele pedaço de cartolina me garantia, e logo a latinha veio parar na minhão mão.
Bebi relaxado, um dos engravatados ao meu lado deu um gole num uísque e deixou no balcão, o outro havia pedido um drink que parecia ser alguma coisa com limão dentro, mas nem tocou no copo, sem mais nem menos os dois saíram andando atrás de uma loira que passou por nós. O barman atarefado tentava com dificuldade abrir espaço no balcão cheio de copos e latas vazias, veio na minha direção:
- O uísque é seu? - Confirmei com a cabeça. - E a caipiroska? - Fiz que sim novamente terminando minha cerveja e ele se afastou levando minha latinha vazia.
Acendi um cigarro e terminei o uísque com um só gole sem me importar se podia estar pegando herpes ou coisa pior daquele copo, uma dose de uísque não saia por menos de 20 pratas por ali, e eu estava disposto a ficar um pouco bêbado. Em seguida beberiquei a caipiroska no canudinho, estava fraca, mas cavalo dado não se olha os dentes.


No palco redondo minúsculo que ficava no centro do salãozinho, umas das garotas dançava sensual naquele poste metálico, entrelaçava as pernas e virava de ponta cabeça, era impressionante, era lindo. Me critiquem à vontade, mas para mim aquilo era uma visão divina, e mesmo ateu convicto, eu sempre conseguia ver deus nas coisas mais banais. Não o deus vingativo e temperamental da igreja, um deus maior e mais primitivo, um deus que não passava de uma sensação boa no estômago ao ver todas aquelas garotas semi-nuas circulando por ali. A dançarina da vez era Daisy, ou Michele, ou qualquer outra coisa, ela detonava naquele poste metálico, e quando tirava a calcinha, vinha aquela lufada de fumaça perfumada sabe-se lá de onde e encobria tudo, nos dando apenas uma pequena amostra do que poderíamos obter naquele paraíso carnal. Daisy, ou Michele, ou qualquer coisa, correu pra fora do palco e entrou numa portinha num canto, fim do show por enquanto.

Terminei outro cigarro e a caipiroska, acendi mais um malvadinho e pedi minha quinta cerveja, estava de costas pra tudo, apoiado com os cotovelos no balcão, pensando em algo que eu nem mesmo tinha certeza do que seria. Um par de mãos delicadas me tocou nos ombros, isso era comum num puteiro, ignorei e continuei bebendo. As mãozinhas eram insistentes e começaram a viajar para lugares mais dignos de atenção, suspirei meio impaciente e me virei pra ver quem era.
Não que eu me orgulhe, mas conhecia quase todas as putas daquele lugar pelo nome, nomes de guerra e nomes reais, frequentava o lugar há alguns anos e estava sempre me atualizando na vida profissional e pessoal das meninas, era amigo de algumas delas. Mas desde a primeira vez em que eu havia passado por aquela porta, uma garota em especial tinha me chamado a atenção, e embora eu pudesse simplesmente convida-la pra subir e pagar os 80 mangos pela foda, nunca tinha acontecido nada entre nós.

Ela era loira, claro são sempre loiras, e tinha os olhos muito grandes e castanhos, lindos. Um rostinho perfeito de nariz fino e boca charmosa. O corpo era algo obcenamente maravilhoso para os meus padrões, a mulher ideal, muita carne em cima, nem tanto atrás e pernas lindas, grossas e lindas.
- Criou coragem e veio falar comigo finalmente? - Eu sempre tive esse senso de humor horrível e deslocado, mesmo assim ela riu.
- Não, uma amiga quer falar com você. - Ela me olhou do jeito mais sacana que conseguiu e saiu rebolando dentro do seu espartilho vermelho. Fiquei puto da vida. Fui até onde ela havia indicado de longe, era uma das meninas, digo, uma das "minhas" meninas.


- Fala Bab's. - O nome de guerra era Bárbara, eu chamava de Bab's, ela tinha um filhinho que adorava batman.
- Hey Jaque. - Meu nome é Jack, por causa de algum personagem de filme que meu pai gostava, mas o pessoal me chamava de Jaque, só pra sacanear. - Falei com a gerente, e cobrei um favor dela. Te consegui um lance.
- Diga lá e eu vejo se me interesso.
- É o seguinte, todo mundo aqui sabe de você e da Loira. - Numa brincadeira sádica, todos os funcionários e as meninas haviam decidido não me dizer o nome da loira, apenas chamavam-na de "Loira". - A gerente te propõe o seguinte, você pode escolher, meia hora de graça com a Loira, ou duas horas de graça com as 3 meninas que você quiser, desde que não escolha a Loira entre as três.
Eu ri sinceramente.
- Bab's, Daisy e Rachel, vamos praquele quarto com a cama grande.


Bárbara era uma ruiva linda, Daisy era uma branquelinha magra e muito "habilidosa", Rachel era uma gordinha peituda e maluca, as 3 eram de longe as melhores transas da casa. Ainda acho que escolhi bem. Quando venceram as duas horas, estávamos os 4 na cama, devastados, as garotas encostaram as cabeças no meu peito e descançavamos um pouco. Pude ouvir Bab's dizer baixinho:
- Um, dois, três e... - As três gritaram em coro. - Feliz Aniversário Jack!
Eu tinha acabado de passar as 2 melhores horas da minha vida, suspirei e disse.
- Que se foda a loira, eu amo vocês garotas.

By Gordon Banks (08/12/2007)


Um pequeno PS: Os nomes usados no texto não estão aí com a intenção de ofender ninguém, usei nomes aleatórios para ilustrar as personagens.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Eu e os 10 Budas Cotidianos

Eu tinha trabalhado a noite toda, só tinha aquele dia de folga, trabalharia no dia seguinte, que era domingo por sinal...só havia dormido uma hora quando minha mãe bateu na janela.

-Tom, você tem certeza que não vai? Você tá dormindo? - Engraçada a ordem das perguntas.
-Não vou. Se estivesse de folga amanhã, até iria, mas quero descansar.
-Seu irmão volta ainda hoje, volte com ele!

Ela tentava me convencer a ir num churrasco de aniversário de casamento da minha tia, vamos chama-la de "A". Tia A me adorava e sempre me convidava pra ir até a casa dela, que era obscenamente longe de São Paulo, duas horas e meia de viagem. Eu não queria ir como deu pra perceber, mas minha mãe tinha enfiado na cabeça que eu devia ir, e não parecia disposta a desistir.

Acabei cedendo, me levantei, me troquei e sai de carro rumo a casa de tia A com meu irmão, meus pais iriam mais tarde levando uns primos meus de carona.

Fiquei em silêncio como de costume, nunca fui de falar muito, não acho necessário. As pessoas por outro lado tomam meu silêncio por timidez, arrogância ou burrice. Meu irmão tentou puxar papo algumas vezes, mas desistiu quando reparou que minhas respostas não passariam de monossílabos sussurrados. Seguimos viagem tranquilamente, com comentários esporádicos dele sobre algo que víamos na rua ou na estrada e um comentário meu, que normalmente encerrava o assunto.

1º Buda Cotidiano: O sujeito com chapéu de oncinha

O Trânsito em São Paulo é um saco, não importa o dia, e aquele sábado não era excessão. Estávamos parados numa fila imensa tentando alcançar a Anchieta, e olhando pro lado, no portão de uma casinha pequena, vi algo no mínimo "digno de nota". Um sujeito na casa dos 50 anos, de bermuda, sem camisa e naquele calor de 33º C usava um chapéu peludo, com estampa de oncinha. Parecia muito tranquilo fazendo um trabalho manual que eu ignoro o que era, algo com uma mangueira plástica e uma faca. Parei pensando naquilo, era uma imagem de bucolidade tão explícita que me comoveu de certo modo, mudando meu humor automaticamente de "Com sono e indiferente" para "Contemplativo e profundo". Passei a me sentir bem daquele momento em diante.

A viagem seguiu.

2º Buda Cotidiano: O cachorro atropelado

Cena comum na estrada, a certa altura da viagem, olhei pro acostamento oposto ao meu e vi com tristeza um irmão canino atropelado e morto. Na mesma hora fiz uma prece louvando Amida, o buda da Misericórdia e senti tristeza profunda por aquela criatura indefesa que provavelmente morreu sozinha e agonizante na beira daquela estrada. Refleti brevemente sobre a inconstância da vida e a inevitabilidade da morte, e então me conformei com o destino reservado ao quadrúpede fiel.

3º Buda Cotidiano: O cachorro andarilho

Já perto do nosso destino, vendo no horizonte montes verdes e bosques frescos, deparei-me com um cachorro comendo algo na beira da estrada, o que era eu não sei, estava numa sacola de plástico branca, provavelmente lixo. Pensei na sina do primeiro cachorro e desse segundo, quão diferentes e quão parecidas seriam? Estaria meu segundo irmão canino fadado ao mesmo destino do primeiro, e o primeiro, estivera também comendo dum lixo semelhante dias antes de sua morte? O homem ignora o sofrimento alheio de tantas formas que eu me desconcerto. Fiz uma prece silenciosa pela segunda vez à Amida pedindo pela segurança do cão que comia lixo.

4º Buda Cotidiano: As cruzes de madeira

Passamos da entrada que deveríamos pegar para chegar ao sítio de tia A e tivemos que avançar 3 quilómetros na estrada para dar a volta, numa curva, vi 3 cruzes de madeira, cada uma com um nome, dos quais não me lembro mais. Cada uma das cruzes representava uma pessoa que havia morrido naquele lugar. Fiz uma prece e tentei imaginar que tipo de pessoas seriam os desencarnados, numa tentativa vã de imortaliza-los por mais um instante, mas falhei, minha mente logo foi atraída para algo mais interessante. As cruzes no entanto permanecem lá, duras e frias, meditativas, representando os 3 mortos daquela curva, representando 3 pequenos budas de madeira.

5º Buda Cotidiano: Tio A

Tio A era marido de tia A. Viviam naquele sítio a um bom tempo, com uma filha pequena de uns 8 anos. Eu não estava em contato com a família nos últimos anos, por isso todos pareciam deformados e diferentes do que eu lembrava, as cores e cheiros também, as roupas, os semblantes. Tio A era o mais diferente, e ainda assim o mais igual. Busquei na memória e me lembrei dele há tempos atrás, cabelos castanhos e um bigodinho de escovinha que ele usou por anos. Agora, de cabelo grisalho e sem bigode, ainda tinha o mesmo ar divertido de antes. Contou histórias engraçadas durante o churrasco e as cervejas. Parecia de alguma forma um pilar no qual a família se apoiaria em breve. Guardei esse pensamento.

6º Buda Cotidiano: O caçador

Meu avô é um ancião de mais de 80 anos, alto e forte, como só eu consigo me lembrar. Era ele quem costumava reunir todos a sua volta e contar as histórias engraçadas, mas não agora. Perdeu minha avó há 2 anos e desde então tem dados sinais sutis de senilidade. Sinto-me triste por isso. Olhei para ele em determinada hora do churrasco, estava sozinho sentado numa cadeira confortável, cochilava tranquilo. Um buda de paz. Tive que fazer uma reverência invisível, tive que honra-lo, tive que respeita-lo, pois aquele caçador de pássaros era uma das únicas 6 razões para eu estar aqui, as outras 2 sendo meus pais e as outras 3 que já partiram, minhas avós e meu outro avô.

7º Buda Cotidiano: O bebê

Tio B, irmão de minha mãe, teve sua primeira filha recentemente, uma menininha pequena de olhos grandes e olhar inteligente. A garotinha fitou-me longamente e alguém a interrompeu apontando para os cães e dizendo.
-Olha o Au-Au!
Eu esperei que ela me olhasse de volta e disse no tom mais explicativo que consegui.
-Não é Au-Au, é cachorro. Parece mais fácil dizer Au-Au, mas é uma armadilha, vão te repreender daqui uns anos se você disser Au-Au, o certo é cachorro.
Ela não aguentou o peso da realidade e ameaçou chorar, incrível, não tinha chorado uma única vez o dia todo. Todo mundo ressaltava o fato dela ser um bebê tão quietinho, aí eu troco umas palavras com ela e a menina chora. Uma pequena buda que não vai gostar de mudanças no futuro, foi o que eu vi, mas ainda assim, um bebê tão bonzinho, só pode ser um buda.

8º e 9º Budas Cotidianos: Primas C e D

São irmãs. Ambas bonitas, ambas inteligentes e ambas religiosas. Ah sim, e ambas solteiras, perto dos 30. A irmã mais nova das duas casou-se há 1 mês, e por alguma razão, talvez por não vê-las a muito tempo eu senti o semblante das duas, no mínimo mais rígido do que antes. C segurava o bebê com tamanho cuidado que poderia jurar que fosse seu, e além disso, cantava com uma voz triste e cheia de significados. D por outro lado, era quase invisível, o tempo todo ao lado da mãe, sentada, comportada, sem dizer uma palavra, com uma cara desanimada e linda. Pensei nelas com carinho, gostava de minhas primas. Pensei nelas como dois budas de esperança e comedimento, dois budas de paciência e devoção, enfim, pensei nelas como duas pessoas que terão o que querem, mas talvez, não quem queiram.

10º Buda Cotidiano: Meu irmão

Quando saímos de lá, já estava escuro e tínhamos bebidos algumas cervejas, meu irmão umas 5, eu umas 15, mas isso no decorrer do dia todo, o que não nos colocava em grande risco no caminho de volta. Claro que com 15 cervejas na cabeça, até eu começo a falar e logo no começo do caminho começamos a conversar, falamos bastante e nos calamos uma parte do caminho, depois já perto de casa, começamos a falar de novo. Pensei em como somos parecidos, de formas que eu não gostaria que fossemos e como somos diferentes, de maneiras que eu até gosto. Ele me contou uma ou outra coisa que não vou escrever aqui, mas deu a entender que ele é só um cara como todos os outros, inclusive eu. Um buda de simplicidade, um buda de sonhos despedaçados, um buda de profundidade.

Somos todos budas, aprendi isso e nunca mais esqueci, cada um a sua maneira, independente de religião ou o que quer que seja, todos temos nossa parcela de sentimentos profundos e complexos que jamais vamos conseguir explicar pra algumas pessoas, e que outras vão entender apenas nos olhando nos olhos. Todos temos a centelha de uma alma incendiária dentro de nós, essa alma mística que nos leva a lugares inesperados, até mesmo numa viagem de um dia como essa minha. E pensar que eu viajei além do interior Paulista naquele sábado, fui até o infinito e voltei, tudo por causa de um sujeito com chapéu de oncinha...

By Gordon Banks (26/11/2007)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Olhos verdes, olhos verdes...

Ele a segurou pela cintura e olhou no fundo dos seus grandes olhos verdes, e foi aí que o devaneio começou...

- Você ficou linda no vestido. - Ele disse encabulado, mas confiante.
- Nós não nos falamos há 3 anos. - Ela respondeu seca.
- Não sei porque me afastei.
Ela olhou ao redor desconfortável, ninguém podia ouvir aquela conversa.Disse.
- Você foi embora porque nós não podíamos ficar juntos.
- Deve ter sido isso, ou talvez porque eu não acredite mais nos contos de fadas...
- Triste ouvir logo você dizer isso.
Ele olhou ao redor, os rostos paralizados, os sorrisos eternos, como fotografias, ninguém tinha idéia do que se passava...
- Você vai virar personagem num de meus contos...uma rainha...rainha da fadas!
- Como vou saber que sou eu?
- Vou usar seu nome.
- As pessoas não são burras, saberão que sou eu.
- Não me importo. Não mais. Tarde demais, acho...
Ela se emocionou, e lágrimas brotaram de seus olhos imensos e expressivos.
- Eu te... - Ela o interrompeu, colocando sua mão sobre a boca e inibindo as palavras.
- Em outra vida. - Ela disse suave.
- Em outras. - Ele assentiu.

E acabou-se o devaneio, tudo passou a se mover naturalmente de novo, as pessoas, os risos, tudo...e ela estava lá ainda, parada, linda, deslumbrante, olhando pra ele.
- Fiquei muito feliz de você ter vindo! - Ela disse.
Ele tentou balbuciar algo, não encontrou as palavras.
- Felicidades. - Ele disse finalmente, com um sorriso triste no rosto. E saiu da fila, para que as outras pessoas pudessem cumprimentar os noivos.

Jurou pra si mesmo que nunca ia falar sobre isso com ninguém, que nunca escreveria nada a respeito, mas não pode se conter...era difícil gritar com a boca fechada.

"Você foi a primeira a me beijar,
foi a primeira a me querer,
foi a primeira a me dizer "eu te amo",
foi a primeira a me deixar."

Eu vou sempre procurar por eles...olhos verdes, olhos verdes...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

"Everybody want to SAVE the world"

Fato: Todos querem salvar o mundo. Mesmo os que aparentemente não querem, ou não se importam. Ou que por assim dizer, querem "destruir" o mundo. O ditador. O político. O militar. O ativista. O médico. O poeta. TODOS.
Claro que cada um tem seu jeitinho todo especial de tantar fazer isso, enquanto o ditador tenta "livrar" a população da pressão e responsabilidade de tomar grandes decisões que afetam suas vidas, o médico salva vidas. Enquanto o político tenta mudar o mundo atravéz de leis, tratados e diplomacia, o ativista tenta mudar o mundo na marra, colocando a mão na massa. O militar segue as regras, o poeta quebra as regras.
No final das contas é claro, nada disso adianta.
Estamos girando sem controle no espaço, vindo do nada e rumando para lugar nenhum, e isso assusta as pessoas. Tentar ser o melhor, dar o melhor é a reação natural dos humanos, eles têem que controlar tudo, mas não controlam seus próprios destinos. Bom, então vamos sentar no chão e esperar a morte chegar, NADA pode ser feito? Não que essa possibilidade nunca tenha me passado pela cabeça, seria uma boa desistir de tudo e sentar no chão esperando pra ver onde isso vai dar, mas também seria contra a natureza humana. O humano evoluiu do macaco, isso é um fato, se você é burro ou crente demais pra duvidar, é um problema seu. Macacos são animais "familiares", eles não gostam de viver sozinhos, e herdamos isso dos nossos amiguinhos comedores de banana, simplesmente não SUPORTAMOS a solidão. E o preço que pagamos por uma vida cheia de gente a nossa volta chama-se SOCIEDADE. Claro que a sociedade é uma coisa boa, se você for um trabalhador, tiver uma religião, se portar como esperado por todos. Mas desvie de uma só crença da sociedade e você será um "vagabundo", um "rebelde", um "maníaco".
OUTRO fato é: Embora existam os maníacos, os rebeldes e vagabundos por aí, cada um querendo salvar o mundo do seu jeito, mesmo os desajustados não tem coragem o bastante de se erguer contra as BABAQUICES que a sociedade cria. Erguem estandartes vermelho-sangue com palavras de impacto tipo, SOLIDÃO, INCOMPREENSÃO, ELITISMO, mas muitas vezes nem eles se dão conta de que fazem parte da mesma sociedade que repudiam. Uns deixam de beber coca-cola e ir ao McDonald's, GRANDE COISA, você não está fazendo nada demais companheiro, sendo que você ainda tem espaço na sua mesa pro Tang e pro Arroz industrializado que nos vendem. Uns passam a ler poetas obscuros e assistir filmes "cult" sem se dar conta que a madeira continua a ser retirada das florestas sem controle pra fazer papel e mesmo os filmes "B" ajudam a movimentar a grande máquina bilionária do cinema. Mas nada disso me irrita, de verdade, se você quer se privar da melhor batatinha frita que existe (e de uma angioplastia num futuro próximo) e ler livros de caras tipo "Dostoiévski" (sem comentários sobre sua obra-literária), vai em frente, não coma, leia, não beba, veja, você só está expressando sua individualidade da mesma forma que mais alguns milhões de jovens por aí, bom trabalho. Mas pelo amor de tudo que é mais sagrado pra você, NÃO SE ACHE MELHOR QUE NINGUÉM POR CAUSA DISSO!
A parte irritante é essa, gente que acha que está salvando o mundo SOZINHA e se considera alguma espécie de ELITE por causa disso. Repete comigo, SOLIDÃO NÃO EXISTE, a não ser que você vá morar numa montanha sozinho e cultive seu próprio alimento e não dependa de mais ninguém NUNCA mais, aí talvez você descubra o que é solidão um pouco antes de perder o juízo, por que como já vimos, humanos não suportam solidão, mas caso contrário, estamos todos amarrados uns aos outros, até o final.
Enquanto esperamos o fim chegar, alguém pode coçar minhas costas?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O homem que tinha tudo

Um cara abaixo da média...em tudo...não era inteligente o bastante pra reunir pessoas ao seu redor, não era bonito o bastante para que garotas quisessem sua amizade só por isso...não era rico, não era agradável, não era engraçado. Pelo CONTRÁRIO, era egocêntrico, cruel, arrogante, estúpido, jogava papel na rua, ficava violento quando bebia, não gostava de pandas.
Tudo que ele fazia era andar com aquele grupo alegre de pessoas sem falar nada, e quando eles paravam em algum lugar, ele se sentava no chão de pernas cruzadas e afastado de todos, em silêncio. Mesmo assim, todos o AMAVAM, tinha dezenas de amigos, e mais da metade poderia ser considerada "amizade verdadeira". As pessoas ligavam pra ele e o convidavam para festas, os melhores amigos sempre o chamavam pra noitadas, as amigas ligavam e desabafavam sobre os namorados.
NINGUÉM entendia porque aquele cara abaixo da média, desagradável, feio, pobre, q ficava violento quando bebia e que não gostava de pandas, tinha tantos AMIGOS. Na verdade, nem mesmo ele entendia.
Por alguma ração que ninguém conseguia descobrir qual era, aquele cara desagradável tinha MUITOS amigos. Ele acordava toda manhã com um sorriso no rosto e agradecia aos céus por ter tantas pessoas que se importavam com ele em sua vida. Ele sabia que não merecia tudo aquilo, e chegava a pensar às vezes em mudar um pouco, ser menos desagradável, beber menos, gostar um pouco de pandas, mas o ser humano não muda, e ele também não mudava, continuava uma pessoa odiosa, e sem explicação, seus amigos continuaram amando-o sempre.
Eu não mereço, mas sou um homem que tem tudo que precisa...amigos.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O Inverno dos Pets Idosos

Muita gente fala de amor por aí...muita bobagem, veja bem...amor à primeira vista...amor de mãe...amor platônico...amor de pica...tudo besteira. Pode parecer meio cínico demais da minha parte dizer isso...afinal, amo minha mãe e sei que ela me ama...mas pense em todos os casos de filhos que matam mães e mães que matam filhos...são excessões da regra? Claramente...mas isso prova que o tal "amor" não é uma coisa infalível se pode até descambar pro assassinato vez ou outra.
Bom, onde eu quero chegar é o seguinte, amor é uma flor roxa que brota no coração dos trouxas...mas se temos MESMO que fazer uma escala para o amor, que o mais puro e cristalino, no topo da lista seja o amor que um dono sente por seu animal de estimação (daqui em diante referido como "pet") e vice-versa, porque provavelmente o amor do humano pelo animal não fosse tão puro se o animal não retrubuísse (muitas vezes em dobro).
Tenho dois pets em casa, um cachorro e um gerbil...meu cachorro tem 12 anos, meu gerbil tem quase 4...idades avançadas pra maioria dos cães e gerbils por aí...me pego pensando muito sobre os dois nos últimos meses, uma nuvem de angústia paira sobre mim quase o tempo todo, por medo de que a hora dos meus mais fieis e leais amigos chegue em breve....
Chego a chorar às vezes só de pensar em como será (veja bem, "será" não há como negar que a hora vá chegar) minha vida sem essas duas criaturas maravilhosas e peludas. Aí você me chama de fútil por estar preocupado com algo tão frívolo enquanto milhares morrem de fome na áfrica e nas enchentes da indo-china...eu me sinto mal por aquelas pessoas também, sério, sempre que posso ofereço uma prece aos mais necessitados...mas um animal é uma criatura sagrada pra mim, inocentes, puros, sinceros e por maiores e mais selvagens que sejam, ainda assim o ser humano consegue torna-los todos indefesos...
Quando penso nas atrocidades que um ser humano é capaz de cometer por dinheiro a chega me dar nojo de fazer parte da raça humana....armadilhas pra urso, rifles pra caçar elefante, veneno pra matar barata, ratoeira...instrumentos de tortura medieval em muitos casos adaptados pro uso doméstico e assassinato de criaturas que nem mesmo sabem o que está acontecendo, só tentam levar suas vidas da maneira simples como seus pais levaram, como o instinto os ensina a levar...
Existe muito a ser dito sobre a atual situação de muitos animais no mundo, mas nada seria o bastante pra mudar algo, o ser humano é podre assim mesmo, e vai continuar matando tudo em que conseguir colocar as mãos...parece meio óbvio tudo o que eu disse aqui, e na verdade é mesmo, estou batendo na mesma tecla que muita gente já bateu antes de mim...mas me REVOLTA, de verdade...acho que no final foi só um desabafo, estou com medo do futuro, sempre tive medo do futuro...e meu futuro sem meus pets, parece ainda mais escuro e TENEBROSO...

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Eu prefiro acreditar...

"Pra morrer, basta estar vivo", não sei quem foi o autor desta pérola, mas concordo plenamente com ele. Morte é um assunto pesado, sempre foi tabu, na maioria das culturas pelo menos. Eu trabalho num hospital, já tive minha cota de encarar a morte. Mas bom, na verdade eu gostaria de falar dum tipo diferente de morte, a morte espiritual.
Você já sentiu como se quisesse que o mundo explodisse numa bola de fogo, só pra tudo acabar logo, essa merda toda? Bom amigo, toda vez que você pensa nisso, uma fadinha morre...e você também morre um pouquinho. Não que eu esteja lhe puxando a orelha, longe de mim, mas o que mata o espírito é o cinismo, a desesperança, a covardia...será que não dá pra encarar tudo numa perspectiva mais "positiva"?
Aí você dispara algo do tipo "Mas o mundo tá uma merda, todo lugar tem guerra, todo lugar tem gente morrendo!"...é....difícil discutir com esse argumento...mas sabe de uma coisa? Por mais ingênuo que pareça, eu vou continuar acreditando na humanidade...por mais fodida que ela esteja, eu vou continuar acreditando que os pescadores NÃO matam mais os golfinhos presos nas redes e misturam com o atum que a gente compra em latinhas...que os grandes países poluidores vão tentar ABAIXAR os níveis de gases tóxicos que emitem...que o NAZISMO foi só um sonho ruim...que um dia eu VOU ganhar na loteria...porque, idependente dessas coisas serem ou não grandes verdades, ou grandes MENTIRAS...uma vida de crença e positivismo ainda é preferível do que uma vida de descrença e negativismo...
Por que? Ora amigo, pense nas fadinhas...

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A grande piada cósmica

Vida. A grande piada cósmica. Não é piada? Sério? Nossa, acho que entendi tudo errado então. Os programas dominicais, as revistas pornográficas, os cadarços, os sapatos, as corridas de cachorros, as olimpíadas, prada, gucci, direita, esquerda, comunismo, consumismo, axé, emo, metaleiro, SÉRIO? Caramba, fiquei meio chocado...estava me encarando no espelho outro dia, observava meu corpo se enchendo de ar e depois esvaziando, no movimento involuntário da respiração, quando parei pra pensar, morri de rir. Pensa bem, bonecos de carne brigando no trânsito, transando no motel, multilando no beco, dançando no clube...multilando no motel, dançando no beco, transando no trânsito, brigando no clube e por aí vai....dava um puta show de humor. Pena os shows de humor serem usados na maioria pra zuar as minorias, salvo um ou outro...
Eu vejo as pessoas levando a vida a sério, e não ganhando nada com isso...me deixa frustrado...é horrível saber que você não está indo pra lugar algum, mas se você se comportar de maneira diferente do resto do gado, os fazendeiros te abatem PRIMEIRO. Não me assusta a idéia de virar um hamburguer, claro que não, me assusta é virar um hamburguer pra ser devorado no Cm' Donalds por uma patricinha fútil que acha que ler é pra NERD, ou por um MANO que usa um boné por cima da toca ou vice-versa e se acha o tal porquê roubou 3 reais e uma pêra de uma velhinha no fim da feira uma vez.
Valores distorcidos, objetivos nulos, mesmo que fosse de TREMENDO mal gosto, não seria melhor se a vida fosse mesmo só uma PIADA?

domingo, 15 de julho de 2007

Nuvem de Gafanhotos

Ando muito de trem, quase todo dia. Gosto de andar de trem, é uma viagem tranquila, silenciosa, dá pra pensar um bocado. Você vê toda aquela gente indo, vindo, ocupada, desocupada, estressada, relaxada. Depois de um tempo pegando o trem todo dia no mesmo horário, inevitavelmente você começa a se familiarizar com um personagem ou dois, eu deixo o processo mais fácil dando apelidos aos meus personagens. Vou falar de um deles em particular na verdade, a Super Mãe.
A Super Mãe é uma mãe solteira que pega o trem com um filho pequeno toda manhã. Como eu sei que ela é solteira? Eu SEMPRE olho pras mãos de mulheres bonitas, é uma mania. Ela é loira, tem olhos verdes, deve ser de fabricação americana, tem um corpo de deusa grega, um olhar confiante, se veste com um terninho discreto e uma calça agarrada nos lugares certo, parece algum tipo de "mulher de negócios", mas sempre com seu molequinho com cara de passarinho a tiracolo. Ela sobre no trem e se senta quase sempre no mesmo lugar, mas dessa vez o lugar estava ocupado, o único lugar disponível era na minha frente, nos bancos invertidos. Ela senta toda aquela bunda macia com uma elegância que me faz desviar o olhar do que quer que eu estivesse lendo, ela percebe meu olhar e sorri simpática humilde o bastante pra prosseguir com um discreto "Bom dia". Eu respondo a altura e volto pro meu livro, espiando de vez em quando as pernas dela. Passa-se um tempo e eu percebo que ela está encarando com uma intensidade fora do normal. Faço com que ela perceba meu desconforto, mas ela aparentemente não se importa e continua encarando. Algumas estações depois, eu já estou ficando de saco cheio, é um daqueles dias em que eu consigo falar com estranhos, aproveito minha vantagem e pergunto "Pois não?" num tom meio irritado e desafiador. Ela se surpreende e olha nos meus olhos (ela fitava outra parte o tempo todo) "Tem um gafanhoto na sua cabeça." ela diz engasgada.
PUTA QUE PARIU TEM UM GAFANHOTO NA MINHA CABEÇA!!! Era o que eu normalmente teria dito antes de sair gritando e pulando pelo trem, mas foi uma situação que me pegou tão de surpresa, que tudo que eu consegui dizer foi "É, e daí?".
Ela levantou e arrastou o molequinho com cara de passarinho pra longe de mim, sentaram-se num banco do outro lado do vagão, eu voltei pro meu livro, suava frio imaginando se tinha mesmo um gafanhoto no meu boné, afinal de contas nas últimas semanas, por alguma razão uma "infestação" de gafanhotos tinha se abatido sobre Santo André. Uma nuvem bíblica de gafanhotos, devorando nossas colheitas, enquanto a água virava sangue, chovia fogo dos céus e nossos primogênitos eram mortos por forças sobrenaturais. Não, não, história errada, lugar errado, livro errado.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Guerras Secretas

Tem um cara que eu conheço que eu odeio. Ele nunca me fez nada, na verdade a gente mal se fala, é um sujeito até simpático e brincalhão, o pessoal adora ele. Mas eu odeio. E ele provavelmente não faz a menor idéia disso. Melhor assim.
Aí eu fico pensando nesse meu "ódio platônico" pelo sujeito e sinto uma certa pena dele. Aí ele se aproxima de mim e sorri, diz alguma frase inteligente e bem colocada, e eu volto a odiá-lo.
Será inveja de algo que eu ACHO que ele tem? Talvez, mas descobrir o motivo do ódio não iria fazê-lo sumir. Então eu continuo odiando-o, e tento não me sentir mal sobre isso, afinal se tudo continuar como está, ele NUNCA vai descobrir o quanto eu o odeio. É uma GUERRA SECRETA que eu travo contra ele, e contra mim mesmo.
Será que os grandes líderes mundiais também sentem isso por determinado presidente ou primeiro-ministro? Será que é por isso que as bombas não param de explodir? Será que é por isso que as criancinhas africanas passam fome? Provavelmente.
Os homens com poder o bastante tornam suas guerras pessoais em guerras públicas, guerras mundiais. Enquanto a mim, eu continuo odiando o cara, e me sentindo levemente incomodando com essa falha no meu caráter, mas não incomodado o bastante pra deixar de odiar. É uma guerras secreta, e secretamente eu estou ganhando. Ou NÃO estou?
 
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