quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Vírus

Parte 1: Planeta dos Macacos, mas não por muito tempo
Parte 2: De volta ao planeta que era dos Macacos
Parte 3: Esqueça os Macacos, as Baratas comandam!

Iori não conseguia tirar aquilo da cabeça, uma entrada USB. Era óbvio que aquele robô era tecnologia humana e ele queria passar mais tempo investigando, mas Click insistiu para que eles continuassem, o Diretor da Universidade de Rochia aguardava.

- O Diretor é bom. Não se preocupa.

Mas Iori estava preocupado, afinal ele tinha pensado pouco no assunto até agora, mas ele era o último de sua espécie, um humano que de acordo com Click era considerado um mito por muitos. O que fariam com ele? A lembrança do último panda vermelho lhe veio à cabeça, solitário no Zoo de Tóquio.

Eles haviam deixado o salão de exposição e seguiam agora por um corredor até portas duplas. As portas abriram automáticamente, Iori entendeu que era um elevador. Subiu junto com Click e Clark. Quando um dos botões no painel foi pressionado o elevador subiu com potência e Iori sentiu seus joelhos dobrarem tamanha era a força que tinha aquele elevador que carregava os Rochia o dia todo.

Chegando no andar desejado, que o garoto calculava que seria algo entre o 20º e o 30º, desceram os três e caminharam até uma porta enorme. A porta era feita de resina, mas não era translúcida como a maioria das outras.

- Chegamos. - Click disse.

Abriram a porta e entraram num grande escritório. Iori sentiu-se aconchegado por um momento, como se estivesse de volta à sua civilização. Tudo na sala remetia aos humanos. As lamparinas nas paredes eram de um estilo clássico que o garoto datou como sendo do século XIX ou algo assim, os móveis eram uma misturas entre peças clássicas de madeira e cadeiras mais modernas de alumínio. Nas paredes haviam quadros e mais quadros e embora Iori não soubesse o nome de nenhum deles, reconheceu várias das gravuras, era a arte de seu povo, não os japoneses, os humano. O toque final era um imenso tapete de urso no chão, como os que Iori via nos desenhos antigos que passavam na Tv.

- O Diretor gosta muito coisas humanas. - Click esclareceu.

- Acho que isso é o mais perto de casa que eu posso chegar. - Iori concluiu entristecido.

Uma imensa poltrona de couro atrás da mesa principal estava virada de costas para os convidados e girou gentilmente até revelar quem estava sentado nela. O diretor era uma baratinha pequenina, um pouco mais baixo que Iori, suas pernas e braços era finos e frágeis. O jovem notou que era a primeira vez que via um Rochia sem as pesadas roupas de couro que Click e Clark usavam o tempo todo. O corpo dos Rochia lembrava em muito uma barata, a barriga era segmentada e as costas uma carapaça brilhante, as pernas e braços tinham rebarbas afiadas próximo das extremidades e no caso do Diretor, nada de asas.

- Finalmente chegaram, que alegria, que alegria! - O Diretor disse num japonês claríssimo que surpreendeu Iori. - Venha meu amigo, sente-se, não tenha medo!

O jeito excitado do Diretor o fazia parecer um velhinho por alguma razão e Iori sem perceber sorriu quando foi convidado a sentar pela baratinha animada. Escolheu uma cadeira maciça de madeira.

- Agora menino, você vai me contar tudo, como você veio parar aqui?

- Eu não tenho certeza Sr. Diretor. Eu vivia num país chamado Japão, numa cidade chamada Akita, com meus pais. Eu era só um estudante normal. Mas comecei a ficar doente, vivia indo ao hospital e nenhum médico parecia saber o que eu tinha.

- Doente? - Click interrompeu. - O que é isso?

- Os humanos às vezes eram atacados por pequenas criaturas chamadas vírus, quando isso acontecia o seu corpo era danificado. Estou certo menino Iori? - O Diretor perguntou.

- Sim. Continuando, ninguém descobria o que eu tinha e os médicos já estavam perdendo as esperanças, eu só piorava a cada dia. Foi então que começou. Terremotos, inundações, vulcões, tufões. Parecia que o planeta estava entrando em colapso. Pesquisadores do mundo todo estavam enlouquecidos, aparentemente as calotas polares estavam derretendo num ritmo absurdo. Você sabe do que estou falando? No seu mapa não tem mais gelo nos polos.

- O fato de que os pólos foram desertos de gelo já foi comprovado pela nossa ciência. Prossiga.

- Bom, depois disso meus pais ficaram doentes também, o que eu tinha passou pra eles. Os médicos disseram que o vírus tinha sofrido mutação no meu corpo e tinha ficado mais forte, mais agressivo. Eu tinha poucos dias de vida, mas então meus pais tiveram a idéia de me congelar. Meu pai tinha um conhecido em Tóquio que trabalhava com isso. Eles me congelaram e eu não sei quanto tempo fiquei lá, mas acordei aqui, no seu mundo.

O Diretor manteve seus olhinhos negros de inseto em Iori por alguns segundos.

- Vá descansar menino Iori. Você está seguro sob meus cuidados.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Esqueça os Macacos, as Baratas comandam!

Começa aqui a Terceira parte da história que mostra como um garoto Japonês se tornou o último habitante humano da Terra. A primeira parte da história está aqui . A segunda parte aqui.
Eu sou autor do conto e dono da idéia original. Gordon Banks.


O imenso prédio negro se aproximava cada vez mais. Iori percebeu que a resina negra de que a construção era feita brilhava muito à luz do sol vermelho, mais do que qualquer outro prédio próximo. A Universidade de Rochia era mesmo impressionante.

- Rochia mais importante da nação trabalham aqui. - Click disse num tom orgulhoso quando o tanque finalmente parou em frente à universidade.

- Numa universidade?

Click não respondeu, mas estava claro que ele dizia a verdade. Iori era ainda jovem, completaria 15 anos em Fevereiro, mas o garoto era inteligente e não esperava os homens mais importantes da nação trabalhando numa universidade, e sim em algum prédio governamental. Mas talvez Click apenas tenha aumentado um pouco a importância do seu local de trabalho, e de todo jeito Iori achou que estava começando a dar importância demais pra isso, os Rochia eram uma cultura diferente da japonesa e de qualquer outra da Terra de sua época. Talvez os Rochia acreditassem que "conhecimento é poder", como se dizia antigamente.

Iori, Click e o líder dos arqueologos que encontraram o garoto na submersa Tóquio (Que se chamava Clac, Trrik, Tlec, Tlec e que Iori começava a chamar de "Clark") entraram na Universidade de Rochia pela porta da frente. Os degraus negros eram largos e altos, pois os Rochia tinham pés grandes e pernas compridas, eram gigantes de quase 4 metros de altura, mas Iori conseguiu vence-los com agilidade. As portas também eram feitas de resina plástica resistente, mas eram avermelhadas e semi-transparentes.

O hall de entrada era muito amplo e as paredes eram escuras, reparando bem percebia-se que a negrura do edifício era na verdade um tom de marrom muito concentrado, talvez por causa da grossura das paredes feitas da ambundante resina castanha que estava por toda parte na cidade. Escadas curvas estavam dos dois lados do salão e encontravam-se no alto onde havia um corredor escuro. No centro entre as escadas havia um grande chafariz e acima dele, pendurado por cabos de aço que vinham do teto, um imenso globo terrestre que girava lentamente expondo todas as partes do planeta ao público, uma de cada vez.

O jovem teve que abafar um grito de horror quando lentamente o globo girou e mostrou o que era agora o planeta Terra. Havia água por toda parte, em lugares onde não deveria haver. A Austrália era agora um tímido par de ilhas pequenas, do tamanho do Japão, que já não aparecia mais no mapa. O lado oeste da África era agora quase todo água e poucas ilhas separadas. A Grã-Bretanha, Portugal, Itália e Grécia também estavam cobertas de água, assim como a Europa Oriental e quase toda a costa Asiática. A América do Norte era agora apenas uma ilha comprida e solitária, o que sobrou das Montanhas Rochosas da Califórnia, parte do México e Canadá. Na América do Sul os Andes, a Floresta Amazônica e o Planalto Central pareciam ser tudo que tinha sobrado fora da água. Não havia sinal da América Central ou da Ocêania.

Groelândia e Antártica continuavam intactas, mas agora pareciam regiões povoadas, repletas do vermelho doentio que cobria todas as partes do globo, lembrando Iori da vegetação que vira nas planícies Siberianas. Uma única concentração de vegetação ainda verde era a Floresta Amazônica.

- É a floresta mais antiga do planeta. - Click disse pousando sua mão gigante no ombro do garoto que acordou de seu transe apocalíptico.

Eles subiram as escadas e entraram no corredor escuro que seguia por vários metros até um segundo saguão redondo com várias portas em todos os lados. Sobre cada porta havia uma inscrição que Iori não conseguia decifrar, mas secretamente ele desejava que Click o levasse até uma cozinha ou despensa, estava faminto.

Passaram por uma das muitas portas e seguiram pouco por um corredor que terminava num grande salão temático, logo na entrada estava uma faixa onde Iori pode ler em inglês: "Humans". Era um tipo de amostra sobre os humanos, com várias vitrines ao longo do salão, e em cada uma delas Iori via cortadores de grama pela metade, enferrujados e carcomidos, tapeçarias, vasos, um automóvel ano 2052, uma coleção de televisores e monitores de computador, vasos sanitários. Ao passar por uma das últimas vitrines, novamente Iori teve que segurar um grito.

Um pequeno quarto decorado com tapetes, vasos e o que o garoto podia jurar que era a Monalisa, tinha no centro uma longa mesa de madeira e deitado sobre ela um homem. Iori coçou os olhos, achou que estava vendo coisas, mas era mesmo um ser humano.

- É uma pessoa! Uma pessoa!

Click se aproximou.

- Nós também pensamos que fosse um homem quando o achamos, seis anos atrás. Mas é uma máquina, venha eu lhe mostro.

Os dois entraram por uma porta lateral no aposento onde repousava o homem sobre a mesa. Click se adiantou e virou o homem, expondo suas costas.

-Aqui, veja. - Click apontava com sua mão descomunal para a nuca do homem.

Iori se aproximou curioso, mas com cautela e olhou o que Click tentava mostrar.

- Isso...isso é uma entrada USB!
 
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