quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Criação

[ Esse "episódio" foi tirado de um sonho que eu tive umas semanas atrás]

Ele acordou com uma dor intensa no topo da cabeça, pior do que qualquer ressaca que tivera na vida. A boca tinha um gosto estranho e logo ele se deu conta de que não fazia a menor idéia de onde estava. Olhou ao redor, era um lugar escuro, não parecia ter nada ali, era como estar no espaço.

Chamou por alguém, não houve resposta. Chamou de novo, silêncio.

Aí ele viu uma luz distante, estava se aproximando e ficando maior, era na verdade algo que emanava uma forte luz branca. Quando ele focou a visão e entendeu o que era, não acreditou no que seus olhos viam. Uma gigantesca baleia branca que brilhava muito, tinha marcas por todo o corpo, como tatuagens verdes e azuis e vermelhas e no alto das costas tinha duas imensas asas emplumadas e multicoloridas com todas as cores imagináveis. A baleia o fitou e pareceu sorrir, disse:

- Olá, eu sou Deus.

- Ahm?

- Eu sou Deus, prazer em conhece-lo.

Ele não disse nada, ficou fitando a baleia. Deu-se conta de que ela estava muito longe dele ainda e que mesmo assim era imensa, enorme mesmo, devia ser muito maior do que trilhares de sóis, sua voz era grave e calma, confortante. Ele duvidou dos seus sentidos, mas sabia no fundo que a entidade dizia a verdade. Chorou.

- Por que chora?

- Tenho medo.

- De quê?

- De sua grandeza!

- Nem sou tão grande assim, se fosse tão grande nem teria forma. Mas sou baleia, limitado a ser branco e ter asas, sou uma coisa, uma coisa colossal, mas apenas uma coisa.

- Eu morri?

- Não se lembra não é? Você enfiou uma arma na boca e puxou o gatilho.

O jovem identificou finalmente o gosto estranho na boca como sendo pólvora.

- Vou pro inferno?

- Não existe inferno, fique tranquilo.

- O que acontece agora?

- O próximo passo oras. - A baleia novamente pareceu sorrir. - Vou te ensinar tudo que precisa saber.

- Sobre o que?

- Sobre ser Deus.

- O quê?

- A vida é só um treino, uma preparação pra algo maior. Aí depois vem esse passo e depois o próximo e assim toda a caminhada.

- Existe algo além de ser Deus?

- Você está curioso, eu entendo. Vou te explicar tudo com o tempo, fique tranquilo.

O rapaz ficou mudo fitando a criatura, estava aterrorizado, não entendia nada.

- Qual o sentido da vida Deus?

- Criação.

O jovem chorou novamente.


Gordon "Troll" Banks

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Lepidópteras Gástricas

Fato desconhecido e que eu sempre tentei manter em sigilo é que eu gosto muito de...borboletas. É, borboletas, ha ha ha, muito engraçadas todas essas brincadeiras originais que vocês estão fazendo sobre minha sexualidade. Seguindo em frente, estava eu outro dia pensando nas lepidopteras, quando me ocorreu que elas tem muito em comum com as mulheres.

Eu explico, vamos lá.

Começando pelo básico, ambas são lindas e existem numa maravilhosa variedade quase infinita, o que te mantém sempre interessado, ocupado e surpreso no quesito aparência. Cada borboleta tem beleza rara e única assim como cada representante do sexo feminino em nosso mundo.

Item dois, delicadeza. Você já conseguiu conquistar uma borboleta? Digo, você só estendeu a mão e ela pousou em você sem rodeios? Se você já fez isso, seja bem vindo a um grupo seleto (somos poucos) de pessoas que sabem encantar borboletas. Elas são ariscas e é realmente difícil conseguir atrair a atenção de uma borboleta, caso você seja bruto e tente captura-la na marra, você terá um montinho de pernas e asas destroçadas nas mãos, as lepidópteras são muito delicadas. O mesmo vale pras mulheres! Um bom começo pode ser manter-se clássico, tanto mulheres quanto borboletas adoram flores.

Mistério e Confusão ficam sendo o item três. Voando loucamente em todas as direções, sem padrão de voo perceptível nenhum, indo pra algum lugar que apenas elas sabem qual é. Assim são as borboletas e assim, diria eu infelizmente, são também as mulheres. Não tente jamais adivinhar em qual direção ela vai desviar, não tente jamais descobrir seu destino, você só vai se frustrar amigo. "A Dança Louca das Borboletas" como disse Zé Ramalho, é só pra elas mesmas dançarem e nós espectadores observarmos de uma distância segura.

As comparações mais pertinentes ficam sendo essas. Ambas, mulheres e borboletas, exercem um fascínio sobrenatural sobre esse que vos fala. Embora eu seja ligeiramente inclinado a gostar mais das borboletas, dói menos.

Mas essas mulheres, com sua beleza misteriosa, seus pensamentos confusos, seus trejeitos delicados, elas ainda são as campeãs em minha mente e meu coração, afinal, existe um limite para o que você pode compartilhar com uma borboleta.

Gordon "Troll" Banks

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sobre Baleias, Papagaios e Lagostas.

O homem é cheio de medos. Alguns bobos, outros sérios. Alguns leves, outros profundos. Mas acho que o maior de todos os medos do homem é a Solidão.

so.li.dão
sf (lat solitudine) 1 Condição, estado de quem está desacompanhado ou. 2 Lugar ermo, retiro. 3 Apartamento, isolamento. 4 Caráter dos lugares ermos, solitários.

O homem é um animal social e nós precisamos de contato social por isso. Claro que existem as excessões, psicopatas, sociopatas e gente que simplesmente não precisa de TANTO contato social assim, os famosos anti-sociais. Mas no geral, todo mundo precisa de um mínimo de companhia pra se sentir bem. Falando assim parece simples.

O problema é, não basta apenas se cercar de pessoas aleatórias e sem importância, você precisa de companhias siginificantes, pessoas que te façam sentir bem.

Continua um pouco simples, concordo, afinal todo mundo tem um número mínimo de amigos. E mesmo quem não tem amigo nenhum, tem que conviver com o pessoal do trabalho, aquela vizinha velha que te pede pra matar barata e o dono do buteco onde você enche a cara por ser solitário.

Então ta, qual o raio do problema com a solidão?

Acho que o pior tipo de solidão, o que atinge um maior número de pessoas pelo menos, é a solidão sentimental, amorosa. Bons macacos que somos, somos sociais, mas acima disso, somos animais e queremos perpetuar nossa espécie. Podia ser simples assim, eu ia gostar, mas não é simples, existe todo uma complexa rede de sentimentos e vontades inerentes aos humanos envolvidos.

As baleias escolhem um único parceiro e com ele passam toda a vida, os papagaios também. Caso o parceiro morra, o animal permanece solitário e fiel ao seu falecido conjuge até a própria morte. Bonito isso né? E se os humanos fossem assim? Eu sei bem que eu já estraguei tantas chances de ter alguém especial na minha vida, que eu estaria fadado a viver umas dez vidas sozinho se fosse uma baleia.

A solidão tem essa coisa de te fazer pensar que vai morrer. E quando você não acha que vai morrer, a solidão faz você desejar que estivesse morto. Bruxa maldita essa solidão, jogando com nossas vidas desse jeito, como se não tivesse importância nenhuma.

Você acorda e pensa na vida, que tem que se vestir, que tem que escovar os dentes, que tem que pegar o ônibus, que vai fazer isso pelo resto da vida sozinho, aí rola aquela sensação de facada nas costelas, uma faca gelada e dura e triste. Seu estômago dói, seu coração reclama, você fecha os olhos e respira fundo e finge que se controlou, finge que passou tudo, mas não passou, nunca passa.

Então, voltando, acho que o problema da solidão é esse. Você tem várias chances, mas na verdade só tem uma chance, porque se você estraga uma chance, aquela pessoa não vai passar o resto da vida com você e até achar a pessoa que vai ser sua lagosta (as lagostas também só tem um parceiro a vida toda), você vai sempre estar nesse constante estado de "estarnamerdismo". Afinal de contas, não é qualquer velha com medo de barata, qualquer dono de buteco que vai ser seu parceiro pro resto da vida, tem que ser uma pessoa especial, porque mesmo tendo vários amigos, só temos um parceiro, então temos que escolher bem. Complexo, complexo demais.

Agora, a escolha é todo um problema à parte da solidão, fulano gosta de fulana que gosta de ciclano que gosta de beltrana e por aí vai, já dizia o poeta. Talvez eu trate disso num próximo post, material pra usar eu tenho.

Concluindo, a solidão é uma merda. Ela te fode, te faz sentir um merda, te faz vulnerável, te faz confuso, insensível, sensível demais e muitas outras coisas, os efeitos podem variar e geralmente variam mesmo. Solução pra solidão: Pede pra nascer baleia, papagaio ou lagosta na próxima vez.

Gordon "Whale" Banks

domingo, 10 de janeiro de 2010

Semi-Vida (O Show tem que continuar)

Acordei as 2:50 da manhã. Outro pesadelo. Levantei e fui pra cozinha, abri a geladeira, tinha leite e cerveja. Bebi uma cerveja. Fui até o banheiro, ainda de cuecas, dei uma boa olhada no cara do espelho. Estava acabado, vazio, miserável.

Voltei pra cozinha, ainda no escuro, abri a gaveta de talheres. Peguei uma faca de carne imensa. Fiquei observando o brilho tímido do metal no escuro. As facas devia ser forjadas uma a uma antigamente, eram obras de arte, hoje em dia são feitas às centenas em fábricas, pedaços de merda.

Peguei a faca e senti o fio com meu dedo. Estava afiada e o aço era gelado. Encostei-a no meu pulso. Fiquei imaginando se teria coragem, mas não tinha. Se fizesse desse jeito provavelmente eu ia pedir ajuda em algum momento antes do fim, ia ficar com medo. Tinha que ser mais rápido.

Encostei a ponta da faca no pescoço, abaixo da orelha, forcei um pouco e a pele cedeu de leve, mas não machucou. Fiquei pensando em qual seria a sensação de ter aquele pedaço de ferro gelado atravessando minha cabeça e fiquei tentado com a paz que viria depois. Aí forcei a faca um pouco mais, até começar a machucar. Comecei a pensar na vida, no porque daquilo.

Pensei na minha família, nos meus amigos, na minha mãe limpando o sangue no chão da cozinha. E o cachorro? Quem ia cuidar do cachorro? Só eu cuido do cachorro, ele ia ficar na mão sem mim. Aí pensei no meu velório e no meu enterro e pensei em quem ia aparecer. Eu sei quem ia, eu sei quem não ia, mas nem faria diferença na verdade. Comecei a chorar, guardei a faca de volta na gaveta. O pescoço ficou vermelho, mas não sangrou. Nem sei se eu sangro.

Deitei na cama pra voltar a dormir, tinha que acordar às 5 pra ir trabalhar.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2009, o ano do Martírio.

E eu lá no começo do ano pensando que esse ano seria mais fácil que o anterior. Ingênuo. Se pelo menos eu estivesse preparado pro que estaria por vir. 2009 foi um ano sofrido, pelo que eu me lembro, foi o ano mais sofrido de todos.

Pra começar, basicamente foi um ano todo da minha vida no qual eu não fiz absolutamente nada. Não que eu reclame especificamente disso, de maneira alguma, mas é um fato que eu não cresci nenhum pouco no sentido profissional e nem no sentido de ser independente. Fiquei estagnado exatamente no ponto onde estava em Dezembro de 2008 e nele fiquei até dezembro de 2009.

Socialmente foi um ano ótimo, fortaleci laços e criei outros laços novos que prometem se fortalecer nos dias que virão.

Emocionalmente foi um pouco mais complicado. No começo do ano eu tinha certas crenças, fui levado a acreditar que tudo daria certo, aí depois a porra toda desmoronou e eu por ser tão crente nas pessoas acabei bem machucado.

Foi um ano de reflexão acima de tudo, porque o que não me faltou esse ano foi TEMPO pra pensar na vida, pensar nas coisas, pensar nas pessoas. Muitos acham que isso foi minha perdição. "Cabeça vazia é a oficina do Diabo", diziam. Eu já acho que foi exatamente ao contrário, poder pensar o tempo todo foi o que me salvou.

Eu não estava preparado pro que aconteceu esse ano, pra nada do que aconteceu em sentido algum. A covardia, o rancor, a fofoca, a pena, a surpresa. Mas é tudo passado agora. Eu me reergui ainda mais poderoso que antes dos escombros das minhas ilusões despedaçadas de como as pessoas são e de como a vida segue seu curso.

2010 promete ser um bom ano, tudo aponta nessa direção e eu tenho aquele pressentimento engraçado no estômago. Mas acho que não é hora de fazer previsões, eu vou continuar seguindo, sóbrio e bêbado, pelos becos da vida.

Ainda afirmo que as pessoas que só percebem o lado ruim da situação estão perdendo o fio da meada, afinal o sofrimento é o que nos fortalece, e se o ano que passou foi o pior que eu já tive, o próximo tem tudo pra ser o melhor. Cada ação tem uma reação, certo?

Eu me sinto pronto pra perder o medo, pra tomar grandes decisões, pra mudar minha vida, melhor ainda, pra mudar as vidas das pessoas à minha volta. E no ano que vem, quando eu for escrever um post sobre 2010, eu não tenho bem certeza do que vou escrever, mas sei que seja o que for, eu não vou estar arrependido e choramingando, acabou o Martírio, acabou o flagelo. Tem um Troll aqui pronto pra botar pra foder.

Feliz Ano Novo.

Gordon "Troll" Banks
 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Permissions beyond the scope of this license may be available at 〈=pt_BR.