terça-feira, 18 de novembro de 2008

Se você acredita, bata palmas.

Eu tenho visto coisas estranhas por aí.

Coisas BEM estranhas. Por onde começar?

Bom, vou começar pelas fadinhas. É, eu disse fadinhas, por toda parte, principalmente enquanto ainda está escuro. Na hora de dormir no quarto, elas fazem revoada, pequenas luzes azuis voando em círculos, dando rasantes na minha cabeça. Aí se aproximam e eu posso vê-las claramente, mulherzinhas de no máximo 2cm de altura, bonitinhas, com asinhas de formiga, cabelinhos azuis, pele azul, tudo azul. Ela riem e fazem graça, se escondem atrás dos móveis e voam de um lado pro outro, mas não entendo uma vírgula do que elas dizem.

De manhã, enquanto vou pro trabalho, elas me seguem pela rua com sua energia de sempre, dando gritinhos e rindo, elas se unem e partem pra cima dos gatos que correm desesperados pra longe, aí gargalham e se aglomeram nos meus ombros, empurrando e acotovelando umas as outras, todas sentadinhas e comportadas. O ônibus quase sempre é um cochilo de meia hora até o centro e eu raramente vejo o que elas fazem, mas na estação de trem, a história é outra. Elas voam alto e quase somem da minha visão, vão em todas as direções, 100, às vezes 200 fadinhas azuis voando pra todos os lados, chutando pombos, derrubando sacolas, arrepiando cabelos da nuca das pessoas que não podem vê-las.

Não dá pra ignorar, elas giram ao meu redor, rindo, todas lindinhas e felizes. Aí chega aquela hora do dia. AQUELA hora do dia.

Da primeira vez eu nem a teria visto se não fossem as fadas, elas me mostraram "Ela". Linda como só ela consegue ser, alta, cabelo escuro, olhos gentis...humana...é um bom adjetivo? Humana? As fadinhas azuis acham que sim.

De qualquer jeito, as fadas me mostraram ela da primeira vez, mas eu não tive dificuldade nenhuma de continuar olhando todos os dias desde então. Absolutamente a melhor parte do dia. Vinte e cinco minutos de trem com uma garota que é a imagem de toda a brancura e adoravibilidade do mundo. As fadinhas riram um bocado de "adoravibilidade", nem tenho certeza se é uma palavra, mas descreve o que sinto.

Aí elas voam na direção Dela e fazem aquela festa, claro que ela não vê, mas o vento nos seus cabelos, ou o ar quente de uma madrugada mormacenta, são as fadas fazendo bagunça. E elas brilham como em nenhuma outra hora do dia, brilham tão forte que a luz fica branco-azulada, lunar. Elas voam ao redor da garota lentamente, um holofote feérico, mágico, e como se fosse possível, Ela fica ainda mais bonita. Seus olhos brilham mais, sua pele fica mais suave, o cabelo ainda mais bonito...e aí, graças a coragem que as fadas me deram um dia pra ir até ela e perguntar-lhe o nome, ela às vezes sorri pra mim, um tímido "Oi".

Mas aquele sorriso...aquele sorriso...é como se a luz das fadas se refletisse nele, e a luz refletida fosse tão forte que me incinera a alma toda manhã com a potência de 1 bilhão de sóis explodindo ao mesmo tempo! E então eu não tenho mais nada a dizer, nem deveria. As fadas me incentivam, mas o certo agora é deixar o destino agir.

Desço do trem, ela já não está mais por perto. Amanhece e a fadinhas vão se esconder nos vãos dos telhados, nos boeiros e debaixo das pedras.

Eu passo o dia todo apegado à lembrança daquele sorriso poderoso, aí de dentro da minha blusa sai um velhinho de uns 20cm de altura, um duende, e enquanto eu ando pra lá e pra cá, ele me segue fumando seu pequeno cachimbo, ajeitando sua pequena cartola, cantando uma pequena canção de amor. A voz rouca e grave do duente me embala.

Voltando pra casa no meio da tarde, eu quase sempre vejo um arbusto enorme numa praça e lá no meio uma criaturinha parecida com uma batata deformada me dá um sinal de positivo com sua mão grotesca, como se tudo fosse melhorar no dia seguinte.

Eu finalmente chego em casa, começo a ouvir passos dentro da minha cabeça, sei quem é. Ele rosna, baba e resmunga. Quer sair, mas eu não deixo. Aí escurece e as fadinhas azuis reaparecem, e o rosnado emudece. E derepente eu me sinto bem, as fadinhas puxando meu cabelo e minhas orelhas, rindo, voando ao redor, sentadas nas juntas dos meus dedos enquanto eu digito alguma coisa no computador.

Deve ser assim gostar de alguém, mas em todo caso, eu não teria como saber, afinal, essa coisa de fadas não existe.


Gordon "Troll" Banks

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Confesso que... (My Dying Princess)

Eu tive um sonho hoje...começava meio macabro, rolavam uns lances sinistros, uma presença maligna...no final do sonho, uma princesa morria.

E aí, por algum motivo eu tinha que chegar perto da princesa morta, e ela abria os olhos.

Eu a segurei nos meus braços, e ela chorava muito, enquanto cantava uma canção pra mim, mas eu não ouvia som algum.

Me entristeceu enormemente ver aquela estrela se apagar nos meus braços, aquela música cessar, suas lágrimas de medo secarem. Acordei chorando.

E durante o dia todo, aquela cena me perseguiu, aquela linda princesa morrendo nos meus braços, sentindo tanto medo, tanta tristeza.

Eu não queria esquecer aquele sonho, pq de algum modo parecia que ela chorava por mim. E me fez sentir bem que ela me amasse, mesmo em sonho.

A tristeza me fez escrever, pra quem sabe daqui muitos anos eu ainda poder me lembrar dela, daquela linda princesa que me amava. Daquele sonho lindo e triste.

Confesso que muito na vida é como um sonho lindo e triste, e mesmo quando não acontece exatamente o que você esperava, uma tristeza inexplicável te invade quando você percebe que mais cedo ou mais tarde você vai ter que esquecer aquela linda princesa.

Eu não quero esquecer...

Confesso que não tenho sido eu mesmo...

Confesso que tenho deixado a tristeza levar a melhor...

Confesso que em alguns sentidos, evoluí nos últimos dias...

Confesso que em outros sentidos, continuo tão atrofiado quanto antes...

Confesso que nada do que eu queria aconteceu hoje...

Confesso que eu devo esquecer minha linda princesa...

Confesso que não sei se quero, por mais triste que me deixe...

Confesso que...isso não está acabado...

Confesso que...eu não estou acabado!


Gordon "Troll" Banks
 
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