Todo aniversário era a mesma coisa. Todo ano.
Eu dava um jeito de sumir, me enfiava em algum bar ou puteiro e só saia de lá quando tinha certeza que ninguém mais estava pensando em mim.
Não que eu não gostasse dos parabéns. Tive sempre muitos amigos, o bastante pra ter que ficar sozinho às vezes, e no final das contas eu nunca nem fui muito ligado nessa coisa toda de aniversário, não me importava. Mas tinha algo que me incomodava. Aquele certo parabéns que eu nunca recebia.
Muitas vezes nem havia ninguém, em alguns anos tinha uma paixão platônica ou outra. Não importava como fosse, sempre fazia falta. E por isso eu me escondia.
O álcool, as putas, o jogo, era tudo um disfarce pra minha solidão. Na verdade era assim o ano todo, mas cada aniversário era uma celebração do quão inepto eu era, do quão desajustado eu me colocava, do quão estranho eu estava me tornando. Como um desses caras excêntricos que falam sozinhos com seus quadros de R$40 reais numa mansão de US$950 mil dólares.
Todo ano eu acordava e me olhava no espelho e desejava que tudo fosse diferente, que eu fosse uma pessoa diferente. Ou então fazia mil promessas, de perder peso, de ficar rico, de fazer caridade. Aí chegava o dia seguinte e eu me sentia patético. Implorando ao universo alguém pra compartilhar minha loucura.
A maior parte do tempo eu estava confuso...o que é o certo? Eu devo mudar? Eu não devo mudar?
Você se pega pensando em coisas muito mais sinistras que a morte quando tem a chance e os miolos pra tanto.
No final das contas, quando acabava a ceveja e o uísque e a vodka, ou quando terminava o jogo ou a vontade de jogar ou o capital pra continuar apostando, ou ainda quando as putas dormiam tranquilas com a cabeça apoiada no meu peito, eu olhava pro céu e dizia:
"Foda-se."
E continuava levando a vida do mesmo jeito de sempre. E continuava solitário do mesmo jeito de sempre. E continuava pensando em coisas sinistras do mesmo jeito de sempre.
Eu demorei pra me dar conta de que a cada ano eu estava diferente, quizesse ou não. De que a cada decepção, a cada erro que eu cometia, cada pessoa que eu afastava e cada pessoa que eu atraía, eu me erguia gigante acima de todos os problemas e ficava cada vez mais forte.
A solidão ainda assusta, querer ter alguém ao seu lado com tanta força que tudo que você sonha ou pensa é aquela pessoa, e tudo que você faz é pra tentar impressiona-la. O medo de falhar, o medo de crescer. Ainda assim eu vou seguindo, sempre do mesmo jeito, sempre com a mesma cara, sempre com o mesmo pensamento. E quando me perguntam: "Como você faz?" eu respondo "Eu deixo rolar."
Gordon Banks
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Conceived Sorrow (Adeus!)
Logo pela manhã, no portão da capela eu vi um Beitivi. Me lembrei que quando amanhecia, eu olhava lá fora pela janela do nono andar e via muitos beitivis pousados aqui e ali, cantando alto pra alvorada.
Lá dentro, todos ainda perambulavam ocupados, eu ainda era invisível.
Vi antigos amigos e amigos atuais e disse que estava indo embora. E ninguém chorou. Eles sorriram.
E eu percebi em cada um de seus sorrisos que eles estavam felizes por mim e sentiam-se orgulhosos, afinal de contas eu estava fazendo o que a maioria deles tinha vontade de fazer.
Cada passo que eu dava, pra cada direção que eu olhava, um sinal dizia "Vá em frente", "Vai dar tudo certo", "Você é capaz".
Sentei num corredor pelo qual eu nunca passava, ouvindo uma música triste nos fones e bebendo água mineral. Achei apropriada a despedida.
Passei ali três anos da minha vida, muitos momentos ali eu odiei profundamente, mas não posso mentir. Aquele era meu emprego, aqueles eram meus colegas. E eu amei aquele hospital.
Mas chega a hora de seguir em frente, pra coisas maiores e melhores.
Quando saí de lá, enquanto caminhava naquela calçada longa, com as árvores me protegendo do sol, uma borboleta me acompanhou até a entrada do metrô. E pra mim, não poderia ser um sinal melhor de que daqui pra frente, as coisas vão ser melhores.
Gordon Banks
Lá dentro, todos ainda perambulavam ocupados, eu ainda era invisível.
Vi antigos amigos e amigos atuais e disse que estava indo embora. E ninguém chorou. Eles sorriram.
E eu percebi em cada um de seus sorrisos que eles estavam felizes por mim e sentiam-se orgulhosos, afinal de contas eu estava fazendo o que a maioria deles tinha vontade de fazer.
Cada passo que eu dava, pra cada direção que eu olhava, um sinal dizia "Vá em frente", "Vai dar tudo certo", "Você é capaz".
Sentei num corredor pelo qual eu nunca passava, ouvindo uma música triste nos fones e bebendo água mineral. Achei apropriada a despedida.
Passei ali três anos da minha vida, muitos momentos ali eu odiei profundamente, mas não posso mentir. Aquele era meu emprego, aqueles eram meus colegas. E eu amei aquele hospital.
Mas chega a hora de seguir em frente, pra coisas maiores e melhores.
Quando saí de lá, enquanto caminhava naquela calçada longa, com as árvores me protegendo do sol, uma borboleta me acompanhou até a entrada do metrô. E pra mim, não poderia ser um sinal melhor de que daqui pra frente, as coisas vão ser melhores.
Gordon Banks
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Se você acredita, bata palmas.
Eu tenho visto coisas estranhas por aí.
Coisas BEM estranhas. Por onde começar?
Bom, vou começar pelas fadinhas. É, eu disse fadinhas, por toda parte, principalmente enquanto ainda está escuro. Na hora de dormir no quarto, elas fazem revoada, pequenas luzes azuis voando em círculos, dando rasantes na minha cabeça. Aí se aproximam e eu posso vê-las claramente, mulherzinhas de no máximo 2cm de altura, bonitinhas, com asinhas de formiga, cabelinhos azuis, pele azul, tudo azul. Ela riem e fazem graça, se escondem atrás dos móveis e voam de um lado pro outro, mas não entendo uma vírgula do que elas dizem.
De manhã, enquanto vou pro trabalho, elas me seguem pela rua com sua energia de sempre, dando gritinhos e rindo, elas se unem e partem pra cima dos gatos que correm desesperados pra longe, aí gargalham e se aglomeram nos meus ombros, empurrando e acotovelando umas as outras, todas sentadinhas e comportadas. O ônibus quase sempre é um cochilo de meia hora até o centro e eu raramente vejo o que elas fazem, mas na estação de trem, a história é outra. Elas voam alto e quase somem da minha visão, vão em todas as direções, 100, às vezes 200 fadinhas azuis voando pra todos os lados, chutando pombos, derrubando sacolas, arrepiando cabelos da nuca das pessoas que não podem vê-las.
Não dá pra ignorar, elas giram ao meu redor, rindo, todas lindinhas e felizes. Aí chega aquela hora do dia. AQUELA hora do dia.
Da primeira vez eu nem a teria visto se não fossem as fadas, elas me mostraram "Ela". Linda como só ela consegue ser, alta, cabelo escuro, olhos gentis...humana...é um bom adjetivo? Humana? As fadinhas azuis acham que sim.
De qualquer jeito, as fadas me mostraram ela da primeira vez, mas eu não tive dificuldade nenhuma de continuar olhando todos os dias desde então. Absolutamente a melhor parte do dia. Vinte e cinco minutos de trem com uma garota que é a imagem de toda a brancura e adoravibilidade do mundo. As fadinhas riram um bocado de "adoravibilidade", nem tenho certeza se é uma palavra, mas descreve o que sinto.
Aí elas voam na direção Dela e fazem aquela festa, claro que ela não vê, mas o vento nos seus cabelos, ou o ar quente de uma madrugada mormacenta, são as fadas fazendo bagunça. E elas brilham como em nenhuma outra hora do dia, brilham tão forte que a luz fica branco-azulada, lunar. Elas voam ao redor da garota lentamente, um holofote feérico, mágico, e como se fosse possível, Ela fica ainda mais bonita. Seus olhos brilham mais, sua pele fica mais suave, o cabelo ainda mais bonito...e aí, graças a coragem que as fadas me deram um dia pra ir até ela e perguntar-lhe o nome, ela às vezes sorri pra mim, um tímido "Oi".
Mas aquele sorriso...aquele sorriso...é como se a luz das fadas se refletisse nele, e a luz refletida fosse tão forte que me incinera a alma toda manhã com a potência de 1 bilhão de sóis explodindo ao mesmo tempo! E então eu não tenho mais nada a dizer, nem deveria. As fadas me incentivam, mas o certo agora é deixar o destino agir.
Desço do trem, ela já não está mais por perto. Amanhece e a fadinhas vão se esconder nos vãos dos telhados, nos boeiros e debaixo das pedras.
Eu passo o dia todo apegado à lembrança daquele sorriso poderoso, aí de dentro da minha blusa sai um velhinho de uns 20cm de altura, um duende, e enquanto eu ando pra lá e pra cá, ele me segue fumando seu pequeno cachimbo, ajeitando sua pequena cartola, cantando uma pequena canção de amor. A voz rouca e grave do duente me embala.
Voltando pra casa no meio da tarde, eu quase sempre vejo um arbusto enorme numa praça e lá no meio uma criaturinha parecida com uma batata deformada me dá um sinal de positivo com sua mão grotesca, como se tudo fosse melhorar no dia seguinte.
Eu finalmente chego em casa, começo a ouvir passos dentro da minha cabeça, sei quem é. Ele rosna, baba e resmunga. Quer sair, mas eu não deixo. Aí escurece e as fadinhas azuis reaparecem, e o rosnado emudece. E derepente eu me sinto bem, as fadinhas puxando meu cabelo e minhas orelhas, rindo, voando ao redor, sentadas nas juntas dos meus dedos enquanto eu digito alguma coisa no computador.
Deve ser assim gostar de alguém, mas em todo caso, eu não teria como saber, afinal, essa coisa de fadas não existe.
Gordon "Troll" Banks
Coisas BEM estranhas. Por onde começar?
Bom, vou começar pelas fadinhas. É, eu disse fadinhas, por toda parte, principalmente enquanto ainda está escuro. Na hora de dormir no quarto, elas fazem revoada, pequenas luzes azuis voando em círculos, dando rasantes na minha cabeça. Aí se aproximam e eu posso vê-las claramente, mulherzinhas de no máximo 2cm de altura, bonitinhas, com asinhas de formiga, cabelinhos azuis, pele azul, tudo azul. Ela riem e fazem graça, se escondem atrás dos móveis e voam de um lado pro outro, mas não entendo uma vírgula do que elas dizem.
De manhã, enquanto vou pro trabalho, elas me seguem pela rua com sua energia de sempre, dando gritinhos e rindo, elas se unem e partem pra cima dos gatos que correm desesperados pra longe, aí gargalham e se aglomeram nos meus ombros, empurrando e acotovelando umas as outras, todas sentadinhas e comportadas. O ônibus quase sempre é um cochilo de meia hora até o centro e eu raramente vejo o que elas fazem, mas na estação de trem, a história é outra. Elas voam alto e quase somem da minha visão, vão em todas as direções, 100, às vezes 200 fadinhas azuis voando pra todos os lados, chutando pombos, derrubando sacolas, arrepiando cabelos da nuca das pessoas que não podem vê-las.
Não dá pra ignorar, elas giram ao meu redor, rindo, todas lindinhas e felizes. Aí chega aquela hora do dia. AQUELA hora do dia.
Da primeira vez eu nem a teria visto se não fossem as fadas, elas me mostraram "Ela". Linda como só ela consegue ser, alta, cabelo escuro, olhos gentis...humana...é um bom adjetivo? Humana? As fadinhas azuis acham que sim.
De qualquer jeito, as fadas me mostraram ela da primeira vez, mas eu não tive dificuldade nenhuma de continuar olhando todos os dias desde então. Absolutamente a melhor parte do dia. Vinte e cinco minutos de trem com uma garota que é a imagem de toda a brancura e adoravibilidade do mundo. As fadinhas riram um bocado de "adoravibilidade", nem tenho certeza se é uma palavra, mas descreve o que sinto.
Aí elas voam na direção Dela e fazem aquela festa, claro que ela não vê, mas o vento nos seus cabelos, ou o ar quente de uma madrugada mormacenta, são as fadas fazendo bagunça. E elas brilham como em nenhuma outra hora do dia, brilham tão forte que a luz fica branco-azulada, lunar. Elas voam ao redor da garota lentamente, um holofote feérico, mágico, e como se fosse possível, Ela fica ainda mais bonita. Seus olhos brilham mais, sua pele fica mais suave, o cabelo ainda mais bonito...e aí, graças a coragem que as fadas me deram um dia pra ir até ela e perguntar-lhe o nome, ela às vezes sorri pra mim, um tímido "Oi".
Mas aquele sorriso...aquele sorriso...é como se a luz das fadas se refletisse nele, e a luz refletida fosse tão forte que me incinera a alma toda manhã com a potência de 1 bilhão de sóis explodindo ao mesmo tempo! E então eu não tenho mais nada a dizer, nem deveria. As fadas me incentivam, mas o certo agora é deixar o destino agir.
Desço do trem, ela já não está mais por perto. Amanhece e a fadinhas vão se esconder nos vãos dos telhados, nos boeiros e debaixo das pedras.
Eu passo o dia todo apegado à lembrança daquele sorriso poderoso, aí de dentro da minha blusa sai um velhinho de uns 20cm de altura, um duende, e enquanto eu ando pra lá e pra cá, ele me segue fumando seu pequeno cachimbo, ajeitando sua pequena cartola, cantando uma pequena canção de amor. A voz rouca e grave do duente me embala.
Voltando pra casa no meio da tarde, eu quase sempre vejo um arbusto enorme numa praça e lá no meio uma criaturinha parecida com uma batata deformada me dá um sinal de positivo com sua mão grotesca, como se tudo fosse melhorar no dia seguinte.
Eu finalmente chego em casa, começo a ouvir passos dentro da minha cabeça, sei quem é. Ele rosna, baba e resmunga. Quer sair, mas eu não deixo. Aí escurece e as fadinhas azuis reaparecem, e o rosnado emudece. E derepente eu me sinto bem, as fadinhas puxando meu cabelo e minhas orelhas, rindo, voando ao redor, sentadas nas juntas dos meus dedos enquanto eu digito alguma coisa no computador.
Deve ser assim gostar de alguém, mas em todo caso, eu não teria como saber, afinal, essa coisa de fadas não existe.
Gordon "Troll" Banks
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Confesso que... (My Dying Princess)
Eu tive um sonho hoje...começava meio macabro, rolavam uns lances sinistros, uma presença maligna...no final do sonho, uma princesa morria.
E aí, por algum motivo eu tinha que chegar perto da princesa morta, e ela abria os olhos.
Eu a segurei nos meus braços, e ela chorava muito, enquanto cantava uma canção pra mim, mas eu não ouvia som algum.
Me entristeceu enormemente ver aquela estrela se apagar nos meus braços, aquela música cessar, suas lágrimas de medo secarem. Acordei chorando.
E durante o dia todo, aquela cena me perseguiu, aquela linda princesa morrendo nos meus braços, sentindo tanto medo, tanta tristeza.
Eu não queria esquecer aquele sonho, pq de algum modo parecia que ela chorava por mim. E me fez sentir bem que ela me amasse, mesmo em sonho.
A tristeza me fez escrever, pra quem sabe daqui muitos anos eu ainda poder me lembrar dela, daquela linda princesa que me amava. Daquele sonho lindo e triste.
Confesso que muito na vida é como um sonho lindo e triste, e mesmo quando não acontece exatamente o que você esperava, uma tristeza inexplicável te invade quando você percebe que mais cedo ou mais tarde você vai ter que esquecer aquela linda princesa.
Eu não quero esquecer...
Confesso que não tenho sido eu mesmo...
Confesso que tenho deixado a tristeza levar a melhor...
Confesso que em alguns sentidos, evoluí nos últimos dias...
Confesso que em outros sentidos, continuo tão atrofiado quanto antes...
Confesso que nada do que eu queria aconteceu hoje...
Confesso que eu devo esquecer minha linda princesa...
Confesso que não sei se quero, por mais triste que me deixe...
Confesso que...isso não está acabado...
Confesso que...eu não estou acabado!
Gordon "Troll" Banks
E aí, por algum motivo eu tinha que chegar perto da princesa morta, e ela abria os olhos.
Eu a segurei nos meus braços, e ela chorava muito, enquanto cantava uma canção pra mim, mas eu não ouvia som algum.
Me entristeceu enormemente ver aquela estrela se apagar nos meus braços, aquela música cessar, suas lágrimas de medo secarem. Acordei chorando.
E durante o dia todo, aquela cena me perseguiu, aquela linda princesa morrendo nos meus braços, sentindo tanto medo, tanta tristeza.
Eu não queria esquecer aquele sonho, pq de algum modo parecia que ela chorava por mim. E me fez sentir bem que ela me amasse, mesmo em sonho.
A tristeza me fez escrever, pra quem sabe daqui muitos anos eu ainda poder me lembrar dela, daquela linda princesa que me amava. Daquele sonho lindo e triste.
Confesso que muito na vida é como um sonho lindo e triste, e mesmo quando não acontece exatamente o que você esperava, uma tristeza inexplicável te invade quando você percebe que mais cedo ou mais tarde você vai ter que esquecer aquela linda princesa.
Eu não quero esquecer...
Confesso que não tenho sido eu mesmo...
Confesso que tenho deixado a tristeza levar a melhor...
Confesso que em alguns sentidos, evoluí nos últimos dias...
Confesso que em outros sentidos, continuo tão atrofiado quanto antes...
Confesso que nada do que eu queria aconteceu hoje...
Confesso que eu devo esquecer minha linda princesa...
Confesso que não sei se quero, por mais triste que me deixe...
Confesso que...isso não está acabado...
Confesso que...eu não estou acabado!
Gordon "Troll" Banks
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Natasha
Eyes of Hazel,
Hair of Coal,
Skin of Peach,
Heart of Gold.
There is no Woman Beatiful enough.
There is no Fairy Beatiful enough.
There is no Godess Beatiful enough.
Hair of Coal,
Skin of Peach,
Heart of Gold.
There is no Woman Beatiful enough.
There is no Fairy Beatiful enough.
There is no Godess Beatiful enough.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Vírus
Parte 1: Planeta dos Macacos, mas não por muito tempo
Parte 2: De volta ao planeta que era dos Macacos
Parte 3: Esqueça os Macacos, as Baratas comandam!
Iori não conseguia tirar aquilo da cabeça, uma entrada USB. Era óbvio que aquele robô era tecnologia humana e ele queria passar mais tempo investigando, mas Click insistiu para que eles continuassem, o Diretor da Universidade de Rochia aguardava.
- O Diretor é bom. Não se preocupa.
Mas Iori estava preocupado, afinal ele tinha pensado pouco no assunto até agora, mas ele era o último de sua espécie, um humano que de acordo com Click era considerado um mito por muitos. O que fariam com ele? A lembrança do último panda vermelho lhe veio à cabeça, solitário no Zoo de Tóquio.
Eles haviam deixado o salão de exposição e seguiam agora por um corredor até portas duplas. As portas abriram automáticamente, Iori entendeu que era um elevador. Subiu junto com Click e Clark. Quando um dos botões no painel foi pressionado o elevador subiu com potência e Iori sentiu seus joelhos dobrarem tamanha era a força que tinha aquele elevador que carregava os Rochia o dia todo.
Chegando no andar desejado, que o garoto calculava que seria algo entre o 20º e o 30º, desceram os três e caminharam até uma porta enorme. A porta era feita de resina, mas não era translúcida como a maioria das outras.
- Chegamos. - Click disse.
Abriram a porta e entraram num grande escritório. Iori sentiu-se aconchegado por um momento, como se estivesse de volta à sua civilização. Tudo na sala remetia aos humanos. As lamparinas nas paredes eram de um estilo clássico que o garoto datou como sendo do século XIX ou algo assim, os móveis eram uma misturas entre peças clássicas de madeira e cadeiras mais modernas de alumínio. Nas paredes haviam quadros e mais quadros e embora Iori não soubesse o nome de nenhum deles, reconheceu várias das gravuras, era a arte de seu povo, não os japoneses, os humano. O toque final era um imenso tapete de urso no chão, como os que Iori via nos desenhos antigos que passavam na Tv.
- O Diretor gosta muito coisas humanas. - Click esclareceu.
- Acho que isso é o mais perto de casa que eu posso chegar. - Iori concluiu entristecido.
Uma imensa poltrona de couro atrás da mesa principal estava virada de costas para os convidados e girou gentilmente até revelar quem estava sentado nela. O diretor era uma baratinha pequenina, um pouco mais baixo que Iori, suas pernas e braços era finos e frágeis. O jovem notou que era a primeira vez que via um Rochia sem as pesadas roupas de couro que Click e Clark usavam o tempo todo. O corpo dos Rochia lembrava em muito uma barata, a barriga era segmentada e as costas uma carapaça brilhante, as pernas e braços tinham rebarbas afiadas próximo das extremidades e no caso do Diretor, nada de asas.
- Finalmente chegaram, que alegria, que alegria! - O Diretor disse num japonês claríssimo que surpreendeu Iori. - Venha meu amigo, sente-se, não tenha medo!
O jeito excitado do Diretor o fazia parecer um velhinho por alguma razão e Iori sem perceber sorriu quando foi convidado a sentar pela baratinha animada. Escolheu uma cadeira maciça de madeira.
- Agora menino, você vai me contar tudo, como você veio parar aqui?
- Eu não tenho certeza Sr. Diretor. Eu vivia num país chamado Japão, numa cidade chamada Akita, com meus pais. Eu era só um estudante normal. Mas comecei a ficar doente, vivia indo ao hospital e nenhum médico parecia saber o que eu tinha.
- Doente? - Click interrompeu. - O que é isso?
- Os humanos às vezes eram atacados por pequenas criaturas chamadas vírus, quando isso acontecia o seu corpo era danificado. Estou certo menino Iori? - O Diretor perguntou.
- Sim. Continuando, ninguém descobria o que eu tinha e os médicos já estavam perdendo as esperanças, eu só piorava a cada dia. Foi então que começou. Terremotos, inundações, vulcões, tufões. Parecia que o planeta estava entrando em colapso. Pesquisadores do mundo todo estavam enlouquecidos, aparentemente as calotas polares estavam derretendo num ritmo absurdo. Você sabe do que estou falando? No seu mapa não tem mais gelo nos polos.
- O fato de que os pólos foram desertos de gelo já foi comprovado pela nossa ciência. Prossiga.
- Bom, depois disso meus pais ficaram doentes também, o que eu tinha passou pra eles. Os médicos disseram que o vírus tinha sofrido mutação no meu corpo e tinha ficado mais forte, mais agressivo. Eu tinha poucos dias de vida, mas então meus pais tiveram a idéia de me congelar. Meu pai tinha um conhecido em Tóquio que trabalhava com isso. Eles me congelaram e eu não sei quanto tempo fiquei lá, mas acordei aqui, no seu mundo.
O Diretor manteve seus olhinhos negros de inseto em Iori por alguns segundos.
- Vá descansar menino Iori. Você está seguro sob meus cuidados.
Parte 2: De volta ao planeta que era dos Macacos
Parte 3: Esqueça os Macacos, as Baratas comandam!
Iori não conseguia tirar aquilo da cabeça, uma entrada USB. Era óbvio que aquele robô era tecnologia humana e ele queria passar mais tempo investigando, mas Click insistiu para que eles continuassem, o Diretor da Universidade de Rochia aguardava.
- O Diretor é bom. Não se preocupa.
Mas Iori estava preocupado, afinal ele tinha pensado pouco no assunto até agora, mas ele era o último de sua espécie, um humano que de acordo com Click era considerado um mito por muitos. O que fariam com ele? A lembrança do último panda vermelho lhe veio à cabeça, solitário no Zoo de Tóquio.
Eles haviam deixado o salão de exposição e seguiam agora por um corredor até portas duplas. As portas abriram automáticamente, Iori entendeu que era um elevador. Subiu junto com Click e Clark. Quando um dos botões no painel foi pressionado o elevador subiu com potência e Iori sentiu seus joelhos dobrarem tamanha era a força que tinha aquele elevador que carregava os Rochia o dia todo.
Chegando no andar desejado, que o garoto calculava que seria algo entre o 20º e o 30º, desceram os três e caminharam até uma porta enorme. A porta era feita de resina, mas não era translúcida como a maioria das outras.
- Chegamos. - Click disse.
Abriram a porta e entraram num grande escritório. Iori sentiu-se aconchegado por um momento, como se estivesse de volta à sua civilização. Tudo na sala remetia aos humanos. As lamparinas nas paredes eram de um estilo clássico que o garoto datou como sendo do século XIX ou algo assim, os móveis eram uma misturas entre peças clássicas de madeira e cadeiras mais modernas de alumínio. Nas paredes haviam quadros e mais quadros e embora Iori não soubesse o nome de nenhum deles, reconheceu várias das gravuras, era a arte de seu povo, não os japoneses, os humano. O toque final era um imenso tapete de urso no chão, como os que Iori via nos desenhos antigos que passavam na Tv.
- O Diretor gosta muito coisas humanas. - Click esclareceu.
- Acho que isso é o mais perto de casa que eu posso chegar. - Iori concluiu entristecido.
Uma imensa poltrona de couro atrás da mesa principal estava virada de costas para os convidados e girou gentilmente até revelar quem estava sentado nela. O diretor era uma baratinha pequenina, um pouco mais baixo que Iori, suas pernas e braços era finos e frágeis. O jovem notou que era a primeira vez que via um Rochia sem as pesadas roupas de couro que Click e Clark usavam o tempo todo. O corpo dos Rochia lembrava em muito uma barata, a barriga era segmentada e as costas uma carapaça brilhante, as pernas e braços tinham rebarbas afiadas próximo das extremidades e no caso do Diretor, nada de asas.
- Finalmente chegaram, que alegria, que alegria! - O Diretor disse num japonês claríssimo que surpreendeu Iori. - Venha meu amigo, sente-se, não tenha medo!
O jeito excitado do Diretor o fazia parecer um velhinho por alguma razão e Iori sem perceber sorriu quando foi convidado a sentar pela baratinha animada. Escolheu uma cadeira maciça de madeira.
- Agora menino, você vai me contar tudo, como você veio parar aqui?
- Eu não tenho certeza Sr. Diretor. Eu vivia num país chamado Japão, numa cidade chamada Akita, com meus pais. Eu era só um estudante normal. Mas comecei a ficar doente, vivia indo ao hospital e nenhum médico parecia saber o que eu tinha.
- Doente? - Click interrompeu. - O que é isso?
- Os humanos às vezes eram atacados por pequenas criaturas chamadas vírus, quando isso acontecia o seu corpo era danificado. Estou certo menino Iori? - O Diretor perguntou.
- Sim. Continuando, ninguém descobria o que eu tinha e os médicos já estavam perdendo as esperanças, eu só piorava a cada dia. Foi então que começou. Terremotos, inundações, vulcões, tufões. Parecia que o planeta estava entrando em colapso. Pesquisadores do mundo todo estavam enlouquecidos, aparentemente as calotas polares estavam derretendo num ritmo absurdo. Você sabe do que estou falando? No seu mapa não tem mais gelo nos polos.
- O fato de que os pólos foram desertos de gelo já foi comprovado pela nossa ciência. Prossiga.
- Bom, depois disso meus pais ficaram doentes também, o que eu tinha passou pra eles. Os médicos disseram que o vírus tinha sofrido mutação no meu corpo e tinha ficado mais forte, mais agressivo. Eu tinha poucos dias de vida, mas então meus pais tiveram a idéia de me congelar. Meu pai tinha um conhecido em Tóquio que trabalhava com isso. Eles me congelaram e eu não sei quanto tempo fiquei lá, mas acordei aqui, no seu mundo.
O Diretor manteve seus olhinhos negros de inseto em Iori por alguns segundos.
- Vá descansar menino Iori. Você está seguro sob meus cuidados.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Esqueça os Macacos, as Baratas comandam!
Começa aqui a Terceira parte da história que mostra como um garoto Japonês se tornou o último habitante humano da Terra. A primeira parte da história está aqui . A segunda parte aqui.
Eu sou autor do conto e dono da idéia original. Gordon Banks.
O imenso prédio negro se aproximava cada vez mais. Iori percebeu que a resina negra de que a construção era feita brilhava muito à luz do sol vermelho, mais do que qualquer outro prédio próximo. A Universidade de Rochia era mesmo impressionante.
- Rochia mais importante da nação trabalham aqui. - Click disse num tom orgulhoso quando o tanque finalmente parou em frente à universidade.
- Numa universidade?
Click não respondeu, mas estava claro que ele dizia a verdade. Iori era ainda jovem, completaria 15 anos em Fevereiro, mas o garoto era inteligente e não esperava os homens mais importantes da nação trabalhando numa universidade, e sim em algum prédio governamental. Mas talvez Click apenas tenha aumentado um pouco a importância do seu local de trabalho, e de todo jeito Iori achou que estava começando a dar importância demais pra isso, os Rochia eram uma cultura diferente da japonesa e de qualquer outra da Terra de sua época. Talvez os Rochia acreditassem que "conhecimento é poder", como se dizia antigamente.
Iori, Click e o líder dos arqueologos que encontraram o garoto na submersa Tóquio (Que se chamava Clac, Trrik, Tlec, Tlec e que Iori começava a chamar de "Clark") entraram na Universidade de Rochia pela porta da frente. Os degraus negros eram largos e altos, pois os Rochia tinham pés grandes e pernas compridas, eram gigantes de quase 4 metros de altura, mas Iori conseguiu vence-los com agilidade. As portas também eram feitas de resina plástica resistente, mas eram avermelhadas e semi-transparentes.
O hall de entrada era muito amplo e as paredes eram escuras, reparando bem percebia-se que a negrura do edifício era na verdade um tom de marrom muito concentrado, talvez por causa da grossura das paredes feitas da ambundante resina castanha que estava por toda parte na cidade. Escadas curvas estavam dos dois lados do salão e encontravam-se no alto onde havia um corredor escuro. No centro entre as escadas havia um grande chafariz e acima dele, pendurado por cabos de aço que vinham do teto, um imenso globo terrestre que girava lentamente expondo todas as partes do planeta ao público, uma de cada vez.
O jovem teve que abafar um grito de horror quando lentamente o globo girou e mostrou o que era agora o planeta Terra. Havia água por toda parte, em lugares onde não deveria haver. A Austrália era agora um tímido par de ilhas pequenas, do tamanho do Japão, que já não aparecia mais no mapa. O lado oeste da África era agora quase todo água e poucas ilhas separadas. A Grã-Bretanha, Portugal, Itália e Grécia também estavam cobertas de água, assim como a Europa Oriental e quase toda a costa Asiática. A América do Norte era agora apenas uma ilha comprida e solitária, o que sobrou das Montanhas Rochosas da Califórnia, parte do México e Canadá. Na América do Sul os Andes, a Floresta Amazônica e o Planalto Central pareciam ser tudo que tinha sobrado fora da água. Não havia sinal da América Central ou da Ocêania.
Groelândia e Antártica continuavam intactas, mas agora pareciam regiões povoadas, repletas do vermelho doentio que cobria todas as partes do globo, lembrando Iori da vegetação que vira nas planícies Siberianas. Uma única concentração de vegetação ainda verde era a Floresta Amazônica.
- É a floresta mais antiga do planeta. - Click disse pousando sua mão gigante no ombro do garoto que acordou de seu transe apocalíptico.
Eles subiram as escadas e entraram no corredor escuro que seguia por vários metros até um segundo saguão redondo com várias portas em todos os lados. Sobre cada porta havia uma inscrição que Iori não conseguia decifrar, mas secretamente ele desejava que Click o levasse até uma cozinha ou despensa, estava faminto.
Passaram por uma das muitas portas e seguiram pouco por um corredor que terminava num grande salão temático, logo na entrada estava uma faixa onde Iori pode ler em inglês: "Humans". Era um tipo de amostra sobre os humanos, com várias vitrines ao longo do salão, e em cada uma delas Iori via cortadores de grama pela metade, enferrujados e carcomidos, tapeçarias, vasos, um automóvel ano 2052, uma coleção de televisores e monitores de computador, vasos sanitários. Ao passar por uma das últimas vitrines, novamente Iori teve que segurar um grito.
Um pequeno quarto decorado com tapetes, vasos e o que o garoto podia jurar que era a Monalisa, tinha no centro uma longa mesa de madeira e deitado sobre ela um homem. Iori coçou os olhos, achou que estava vendo coisas, mas era mesmo um ser humano.
- É uma pessoa! Uma pessoa!
Click se aproximou.
- Nós também pensamos que fosse um homem quando o achamos, seis anos atrás. Mas é uma máquina, venha eu lhe mostro.
Os dois entraram por uma porta lateral no aposento onde repousava o homem sobre a mesa. Click se adiantou e virou o homem, expondo suas costas.
-Aqui, veja. - Click apontava com sua mão descomunal para a nuca do homem.
Iori se aproximou curioso, mas com cautela e olhou o que Click tentava mostrar.
- Isso...isso é uma entrada USB!
Eu sou autor do conto e dono da idéia original. Gordon Banks.
O imenso prédio negro se aproximava cada vez mais. Iori percebeu que a resina negra de que a construção era feita brilhava muito à luz do sol vermelho, mais do que qualquer outro prédio próximo. A Universidade de Rochia era mesmo impressionante.
- Rochia mais importante da nação trabalham aqui. - Click disse num tom orgulhoso quando o tanque finalmente parou em frente à universidade.
- Numa universidade?
Click não respondeu, mas estava claro que ele dizia a verdade. Iori era ainda jovem, completaria 15 anos em Fevereiro, mas o garoto era inteligente e não esperava os homens mais importantes da nação trabalhando numa universidade, e sim em algum prédio governamental. Mas talvez Click apenas tenha aumentado um pouco a importância do seu local de trabalho, e de todo jeito Iori achou que estava começando a dar importância demais pra isso, os Rochia eram uma cultura diferente da japonesa e de qualquer outra da Terra de sua época. Talvez os Rochia acreditassem que "conhecimento é poder", como se dizia antigamente.
Iori, Click e o líder dos arqueologos que encontraram o garoto na submersa Tóquio (Que se chamava Clac, Trrik, Tlec, Tlec e que Iori começava a chamar de "Clark") entraram na Universidade de Rochia pela porta da frente. Os degraus negros eram largos e altos, pois os Rochia tinham pés grandes e pernas compridas, eram gigantes de quase 4 metros de altura, mas Iori conseguiu vence-los com agilidade. As portas também eram feitas de resina plástica resistente, mas eram avermelhadas e semi-transparentes.
O hall de entrada era muito amplo e as paredes eram escuras, reparando bem percebia-se que a negrura do edifício era na verdade um tom de marrom muito concentrado, talvez por causa da grossura das paredes feitas da ambundante resina castanha que estava por toda parte na cidade. Escadas curvas estavam dos dois lados do salão e encontravam-se no alto onde havia um corredor escuro. No centro entre as escadas havia um grande chafariz e acima dele, pendurado por cabos de aço que vinham do teto, um imenso globo terrestre que girava lentamente expondo todas as partes do planeta ao público, uma de cada vez.
O jovem teve que abafar um grito de horror quando lentamente o globo girou e mostrou o que era agora o planeta Terra. Havia água por toda parte, em lugares onde não deveria haver. A Austrália era agora um tímido par de ilhas pequenas, do tamanho do Japão, que já não aparecia mais no mapa. O lado oeste da África era agora quase todo água e poucas ilhas separadas. A Grã-Bretanha, Portugal, Itália e Grécia também estavam cobertas de água, assim como a Europa Oriental e quase toda a costa Asiática. A América do Norte era agora apenas uma ilha comprida e solitária, o que sobrou das Montanhas Rochosas da Califórnia, parte do México e Canadá. Na América do Sul os Andes, a Floresta Amazônica e o Planalto Central pareciam ser tudo que tinha sobrado fora da água. Não havia sinal da América Central ou da Ocêania.
Groelândia e Antártica continuavam intactas, mas agora pareciam regiões povoadas, repletas do vermelho doentio que cobria todas as partes do globo, lembrando Iori da vegetação que vira nas planícies Siberianas. Uma única concentração de vegetação ainda verde era a Floresta Amazônica.
- É a floresta mais antiga do planeta. - Click disse pousando sua mão gigante no ombro do garoto que acordou de seu transe apocalíptico.
Eles subiram as escadas e entraram no corredor escuro que seguia por vários metros até um segundo saguão redondo com várias portas em todos os lados. Sobre cada porta havia uma inscrição que Iori não conseguia decifrar, mas secretamente ele desejava que Click o levasse até uma cozinha ou despensa, estava faminto.
Passaram por uma das muitas portas e seguiram pouco por um corredor que terminava num grande salão temático, logo na entrada estava uma faixa onde Iori pode ler em inglês: "Humans". Era um tipo de amostra sobre os humanos, com várias vitrines ao longo do salão, e em cada uma delas Iori via cortadores de grama pela metade, enferrujados e carcomidos, tapeçarias, vasos, um automóvel ano 2052, uma coleção de televisores e monitores de computador, vasos sanitários. Ao passar por uma das últimas vitrines, novamente Iori teve que segurar um grito.
Um pequeno quarto decorado com tapetes, vasos e o que o garoto podia jurar que era a Monalisa, tinha no centro uma longa mesa de madeira e deitado sobre ela um homem. Iori coçou os olhos, achou que estava vendo coisas, mas era mesmo um ser humano.
- É uma pessoa! Uma pessoa!
Click se aproximou.
- Nós também pensamos que fosse um homem quando o achamos, seis anos atrás. Mas é uma máquina, venha eu lhe mostro.
Os dois entraram por uma porta lateral no aposento onde repousava o homem sobre a mesa. Click se adiantou e virou o homem, expondo suas costas.
-Aqui, veja. - Click apontava com sua mão descomunal para a nuca do homem.
Iori se aproximou curioso, mas com cautela e olhou o que Click tentava mostrar.
- Isso...isso é uma entrada USB!
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
De volta ao planeta que era dos Macacos
As primeiras semanas que o jovem Iori passou ao lado dos Rochia foram traumáticas e confusas. Ele foi retirado das ruínas do laboratório criogênico onde estava e foi levado até Grande Rochia, a maior cidade do mundo, localizada em algum lugar onde séculos atrás ficava a Sibéria. A área que antes era gelada e inóspita, era hoje uma imensa planície, de longe pela janela de um dos grandes veículos parecidos com tanques, Iori podia ver a imensa cidade cobrindo grande parte do horizonte.
O céu agora passava o dia todo avermelhado, os gases da atmosfera eram outros e o sol já envelhecera alguns milares de anos. Um cinturão de rochas brancas cercava a Terra e fazia sombra por volta das duas da tarde, eram grandes pedaços da lua que orbitavam se chocando uns com os outros. A metade da lua que ainda estava inteira tinha se aproximado um pouco do planeta, o que elevou o nível dos mares no mundo todo.
Os animais eram outros, o garoto não reconheceu nenhum deles ou quem poderiam ser seus antepassados. A flora ainda tinhas as mesmas formas, mas a cor predominante não era mais o verde e sim o vermelho, o que dava uma aparência muito mais apocalíptica ao cenário. Iori apenas observava pasmo aquela paisagem alienígena.
- Muito tempo você não via o mundo. - O gigante de branco disse com seu carregadíssimo sotaque no japonês mais claro que conseguia pronunciar com sua boca insetóide. Iori descobrira que seu nome era "Click, Click, Clac, Truk" na língua nativa dos Rochia que consistia de vários estalos e ruídos secos produzidos com suas tenazes e bocas multifacetadas, obviamente sem tradução para o japonês. O menino estava se acostumando a chama-lo de "Click" apenas.
- Meu mundo não era assim. Tudo está diferente. O céu era azul, as folhas eram verdes, a lua estava inteira, havia gelo no topo das montanhas. O que foi que deu errado? O que foi que os humanos fizeram?
- Ninguém sabe. Rochia povo mais antigo da Terra e mesmo nós não lembra. Céu sempre vermelho pra Rochia, plantas sempre vermelha, lua sempre quebrada.
Iori se sentia angustiado, atordoado. Estava só naquele mundo bizarro, uma caricatura de mau gosto do que um dia foi a Terra de seus antepassados. Seus pais estavam mortos, seus amigos. Quantos anos haviam passado? Quantos milhares de anos?
O laboratório onde estava ficava em Tóquio, mas hoje era apenas uma ruína submarina. Sabe-se lá como a água não entrou e os geradores atômicos sustentaram seu suporte de vida na câmara criogênica até que os Rochia o achassem finalmente. Tudo que lhe restavam eram dúvidas. E um futuro incerto pela frente.
Os veículos-tanque finalmente alcançaram a grande cidade e adentraram por uma estrada muito larga e plana. As casas não chegavam a ser tão diferentes do que uma casa deveria parecer, eram grande iglus de materiais variados, a maioria deles parecia ser feito de uma resina plástica amarronzada que dava aparência de ser muito resistente. Comicamente as casas lembravam as grandes baratas redondas que eram seus moradores.
Ainda haviam ruas e semáforos, por incível que fosse. Placas identificavam cada travessa com letras confusas que lembravam muito vagamente o japonês que Iori conhecia. Enquanto observava os detalhes da cidade, o veículo em que estava seguia rapidamente por ruas vazias até uma grande construção negra que se aproximava cada vez mais.
- Que lugar é aquele Click?
- A universidade de Rochia.
O céu agora passava o dia todo avermelhado, os gases da atmosfera eram outros e o sol já envelhecera alguns milares de anos. Um cinturão de rochas brancas cercava a Terra e fazia sombra por volta das duas da tarde, eram grandes pedaços da lua que orbitavam se chocando uns com os outros. A metade da lua que ainda estava inteira tinha se aproximado um pouco do planeta, o que elevou o nível dos mares no mundo todo.
Os animais eram outros, o garoto não reconheceu nenhum deles ou quem poderiam ser seus antepassados. A flora ainda tinhas as mesmas formas, mas a cor predominante não era mais o verde e sim o vermelho, o que dava uma aparência muito mais apocalíptica ao cenário. Iori apenas observava pasmo aquela paisagem alienígena.
- Muito tempo você não via o mundo. - O gigante de branco disse com seu carregadíssimo sotaque no japonês mais claro que conseguia pronunciar com sua boca insetóide. Iori descobrira que seu nome era "Click, Click, Clac, Truk" na língua nativa dos Rochia que consistia de vários estalos e ruídos secos produzidos com suas tenazes e bocas multifacetadas, obviamente sem tradução para o japonês. O menino estava se acostumando a chama-lo de "Click" apenas.
- Meu mundo não era assim. Tudo está diferente. O céu era azul, as folhas eram verdes, a lua estava inteira, havia gelo no topo das montanhas. O que foi que deu errado? O que foi que os humanos fizeram?
- Ninguém sabe. Rochia povo mais antigo da Terra e mesmo nós não lembra. Céu sempre vermelho pra Rochia, plantas sempre vermelha, lua sempre quebrada.
Iori se sentia angustiado, atordoado. Estava só naquele mundo bizarro, uma caricatura de mau gosto do que um dia foi a Terra de seus antepassados. Seus pais estavam mortos, seus amigos. Quantos anos haviam passado? Quantos milhares de anos?
O laboratório onde estava ficava em Tóquio, mas hoje era apenas uma ruína submarina. Sabe-se lá como a água não entrou e os geradores atômicos sustentaram seu suporte de vida na câmara criogênica até que os Rochia o achassem finalmente. Tudo que lhe restavam eram dúvidas. E um futuro incerto pela frente.
Os veículos-tanque finalmente alcançaram a grande cidade e adentraram por uma estrada muito larga e plana. As casas não chegavam a ser tão diferentes do que uma casa deveria parecer, eram grande iglus de materiais variados, a maioria deles parecia ser feito de uma resina plástica amarronzada que dava aparência de ser muito resistente. Comicamente as casas lembravam as grandes baratas redondas que eram seus moradores.
Ainda haviam ruas e semáforos, por incível que fosse. Placas identificavam cada travessa com letras confusas que lembravam muito vagamente o japonês que Iori conhecia. Enquanto observava os detalhes da cidade, o veículo em que estava seguia rapidamente por ruas vazias até uma grande construção negra que se aproximava cada vez mais.
- Que lugar é aquele Click?
- A universidade de Rochia.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Espasmo CAOS/ORDEM do megaverso
Era um buraco lamacento no meio de lugar nenhum, literalmente.
Ficava no espaço entre universos, cercado de coisa alguma a não ser uma profunda e depressiva escuridão.
Ainda assim tinha forma, era um buraco.
Ainda assim tinha qualidades, era lamacento.
Na verdade, descoberta sua real função, qualquer criatura acharia aquele buraco lamacento a coisa mais bela da criação, não fosse a escuridão que impedia que qualquer um o visse. E não fosse também ele estar no meio de lugar nenhum, onde ninguém jamais estará.
O silêncio lá obviamente é enlouquecedor. Se no espaço não há som, imagine o espaço cósmico, a malha que liga os milhares de infinitos universos.
Mas de vez em quando algo acontece, e tudo muda.
Do buraco lamacento explode um jorro poderoso de luz branco-azulada e acompanhando a luz um som incrível de fogos de artifício e depois de trombetas e explosões. A luz e tão cegante e poderosa que mesmo que alguém estivesse presente, provavelmente seria incinerado instantâneamente. E mesmo que não fosse, sua cabeça explodiria devido ao som alto do caos ao redor da luz.
Num instante tudo sai daquele buraco, TUDO. E o caos não tenta tomar forma alguma, simplesmente dispara de lá em todas as direções por um tempo indeterminado, talvez tão longo quanto o tempo em que o buraco esteve em silêncio, ou tão curto quanto um suspiro.
E em todas as partes do multiverso, em todos os mundos dos universos, em todos os planetas das galáxias, em todos os cantos dos planetas, as idéias nascem.
É daquele buraco lamacento no meio de lugar nenhum que saem todas as idéias. É a fonte infinita que permanece infinitamente em silêncio e infinitamente ativa ao mesmo tempo num paradoxo sem sentido que continua impulsionando todas as nossas mentes.
Da pior à melhor das idéias, todas saíram de lá em algum momento entre o silêncio sagrado e a explosão caótica que continuam pulsando ao mesmo tempo num lugar no qual ninguém nunca vai chegar.
Eu tenho uma idéia de onde fica, mas não posso levar ninguém lá, as pessoas tem que ir por si mesmas, e ainda assim ninguém nunca vai chegar lá.
Ficava no espaço entre universos, cercado de coisa alguma a não ser uma profunda e depressiva escuridão.
Ainda assim tinha forma, era um buraco.
Ainda assim tinha qualidades, era lamacento.
Na verdade, descoberta sua real função, qualquer criatura acharia aquele buraco lamacento a coisa mais bela da criação, não fosse a escuridão que impedia que qualquer um o visse. E não fosse também ele estar no meio de lugar nenhum, onde ninguém jamais estará.
O silêncio lá obviamente é enlouquecedor. Se no espaço não há som, imagine o espaço cósmico, a malha que liga os milhares de infinitos universos.
Mas de vez em quando algo acontece, e tudo muda.
Do buraco lamacento explode um jorro poderoso de luz branco-azulada e acompanhando a luz um som incrível de fogos de artifício e depois de trombetas e explosões. A luz e tão cegante e poderosa que mesmo que alguém estivesse presente, provavelmente seria incinerado instantâneamente. E mesmo que não fosse, sua cabeça explodiria devido ao som alto do caos ao redor da luz.
Num instante tudo sai daquele buraco, TUDO. E o caos não tenta tomar forma alguma, simplesmente dispara de lá em todas as direções por um tempo indeterminado, talvez tão longo quanto o tempo em que o buraco esteve em silêncio, ou tão curto quanto um suspiro.
E em todas as partes do multiverso, em todos os mundos dos universos, em todos os planetas das galáxias, em todos os cantos dos planetas, as idéias nascem.
É daquele buraco lamacento no meio de lugar nenhum que saem todas as idéias. É a fonte infinita que permanece infinitamente em silêncio e infinitamente ativa ao mesmo tempo num paradoxo sem sentido que continua impulsionando todas as nossas mentes.
Da pior à melhor das idéias, todas saíram de lá em algum momento entre o silêncio sagrado e a explosão caótica que continuam pulsando ao mesmo tempo num lugar no qual ninguém nunca vai chegar.
Eu tenho uma idéia de onde fica, mas não posso levar ninguém lá, as pessoas tem que ir por si mesmas, e ainda assim ninguém nunca vai chegar lá.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Aconchegado confortavelmente sobre uma armadilha pra ursos
Reparei hoje que minha cama se encontra em tal posição que fará com que eu coloque meu pé esquerdo no chão primeiro sempre que levantar pela manhã. A não ser que eu acorde, me localize e coloque conscientemente meu pé direito primeiro, vou sempre acordar com o pé esquerdo. Deve ser por isso que penso tão pouco da minha vida.
Na série de corredores confusos e labirínticos que é a vida, existe sempre um fio de nilon na próxima esquina, pronto pra disparar uma armadilha qualquer. Raiva, Tristeza, Amor.
Esbarrei num fio de Raiva hoje, perdi a cabeça com alguém que não merecia, por um motivo fútil, mas ainda assim tive motivo. Acabei entrando no túnel errado e meu dia todo foi desperdiçado. Quando é que vão inventar um botão de "Rewind" na vida?
Esbarro em pequenos fios de Tristeza aqui e ali, sou meio sensível com sofrimento alheio e as pessoas à minha volta têm sofrido muito. E ela, sempre ela, a morte, está por atrás de tudo isso. Quando é que vão deixar de temer a morte e aceitá-la?
Topei num fio de Amor. É. Era das grandes. A Armadilha, digo. Tão grande que ainda estou preso sabem? Entrei num corredor nostálgico no qual me lembrei de muita coisa boa que eu tinha esquecido. Quando é que vão voltar a pregar o amor?
Esses sentimentos me fazem sentir engraçado. Tanto coisa, tanta turbulência, no final das contas, por nada. Por razão alguma. Por uns míseros 60 anos na merda que o ser humano se acostumou a chamar de vida. Quando é que vão se tocar?
As coisas vão acontecendo num ritmo e você acha que tudo está parado demais, aí tudo começa a fluir e lá no fundo você sente um frio na barriga e pensa que mesmo que tudo esteja indo na direção que você quer, talvez fosse melhor diminuir só um pouco a velocidade. E independente disso tudo, a vida vai seguindo e nós vamos tropeçando nas armadilhas que ela trama. Quando é que eu vou trocar a minha cama de lugar?
Na série de corredores confusos e labirínticos que é a vida, existe sempre um fio de nilon na próxima esquina, pronto pra disparar uma armadilha qualquer. Raiva, Tristeza, Amor.
Esbarrei num fio de Raiva hoje, perdi a cabeça com alguém que não merecia, por um motivo fútil, mas ainda assim tive motivo. Acabei entrando no túnel errado e meu dia todo foi desperdiçado. Quando é que vão inventar um botão de "Rewind" na vida?
Esbarro em pequenos fios de Tristeza aqui e ali, sou meio sensível com sofrimento alheio e as pessoas à minha volta têm sofrido muito. E ela, sempre ela, a morte, está por atrás de tudo isso. Quando é que vão deixar de temer a morte e aceitá-la?
Topei num fio de Amor. É. Era das grandes. A Armadilha, digo. Tão grande que ainda estou preso sabem? Entrei num corredor nostálgico no qual me lembrei de muita coisa boa que eu tinha esquecido. Quando é que vão voltar a pregar o amor?
Esses sentimentos me fazem sentir engraçado. Tanto coisa, tanta turbulência, no final das contas, por nada. Por razão alguma. Por uns míseros 60 anos na merda que o ser humano se acostumou a chamar de vida. Quando é que vão se tocar?
As coisas vão acontecendo num ritmo e você acha que tudo está parado demais, aí tudo começa a fluir e lá no fundo você sente um frio na barriga e pensa que mesmo que tudo esteja indo na direção que você quer, talvez fosse melhor diminuir só um pouco a velocidade. E independente disso tudo, a vida vai seguindo e nós vamos tropeçando nas armadilhas que ela trama. Quando é que eu vou trocar a minha cama de lugar?
sábado, 17 de maio de 2008
Humano VS Inumano
Eu era feliz no começo, mas claro que não tinha conhecimento disso.
Aí eu aprendi a ler e a pensar por mim mesmo.
Depois eu esqueci como pensar por mim mesmo e continuei só lendo.
E todos aqueles caras monstruosos estupravam minha mente virgem com suas idéias insanas e cruéis.
Então eu passei a pensar insana e cruelmente também. Sem me dar conta que eu pregava agora os ideais de outros homens.
Esqueci como era sentir. Aboli minhas emoções e solidifiquei meu espírito que agora tinha aparência de ferro, frio e duro.
Questionei minha humanidade bem mais de uma vez.
E na confusão de ser máquina e ser monstro, senti medo e decidi que queria ser humano de novo, e voltar a sentir. Queria ver novela e jogar bola, ir pro samba e não dar a mínima pra política ou economia. Queria ser comum e me importar com minha aparência e dizer que ler era coisa de nerd.
Mas já era tarde demais. Eu SOU máquina, eu SOU monstro.
A iluminação que eu tanto busquei, era na verdade uma grande gaiola dourada. Brilhante, limpa, mas ainda assim uma prisão.
Agora eu não sinto mais nada. O beijo, o abraço, a transa. É tudo nulo pra mim.
É como viver num filme preto e branco.
De vez em quando, surge algo lá no fundo do peito e eu tenho vontade de gritar. Gritar qualquer coisa, qualquer nome, qualquer maldição. Acho que é desespero.
Acho que é a criança que um dia foi feliz e que se desespera quando percebe que está presa dentro de mim, da máquina, do monstro.
Ela tenta gritar, mas eu não sinto nada mesmo assim. Eu lhe dou um bofetão e mando calar a boca.
Vou ter que continuar fingindo. Não tem mais volta. A parte triste é que eu gostava de ser só, quando eu podia me dar o luxo de ser só porque queria. Agora que eu TENHO que ser só, pra não deixar ninguém olhar debaixo da armadura, é bem mais insano e cruel.
Acho que eu finalmente sei do que aqueles caras estavam falando.
Aí eu aprendi a ler e a pensar por mim mesmo.
Depois eu esqueci como pensar por mim mesmo e continuei só lendo.
E todos aqueles caras monstruosos estupravam minha mente virgem com suas idéias insanas e cruéis.
Então eu passei a pensar insana e cruelmente também. Sem me dar conta que eu pregava agora os ideais de outros homens.
Esqueci como era sentir. Aboli minhas emoções e solidifiquei meu espírito que agora tinha aparência de ferro, frio e duro.
Questionei minha humanidade bem mais de uma vez.
E na confusão de ser máquina e ser monstro, senti medo e decidi que queria ser humano de novo, e voltar a sentir. Queria ver novela e jogar bola, ir pro samba e não dar a mínima pra política ou economia. Queria ser comum e me importar com minha aparência e dizer que ler era coisa de nerd.
Mas já era tarde demais. Eu SOU máquina, eu SOU monstro.
A iluminação que eu tanto busquei, era na verdade uma grande gaiola dourada. Brilhante, limpa, mas ainda assim uma prisão.
Agora eu não sinto mais nada. O beijo, o abraço, a transa. É tudo nulo pra mim.
É como viver num filme preto e branco.
De vez em quando, surge algo lá no fundo do peito e eu tenho vontade de gritar. Gritar qualquer coisa, qualquer nome, qualquer maldição. Acho que é desespero.
Acho que é a criança que um dia foi feliz e que se desespera quando percebe que está presa dentro de mim, da máquina, do monstro.
Ela tenta gritar, mas eu não sinto nada mesmo assim. Eu lhe dou um bofetão e mando calar a boca.
Vou ter que continuar fingindo. Não tem mais volta. A parte triste é que eu gostava de ser só, quando eu podia me dar o luxo de ser só porque queria. Agora que eu TENHO que ser só, pra não deixar ninguém olhar debaixo da armadura, é bem mais insano e cruel.
Acho que eu finalmente sei do que aqueles caras estavam falando.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
A Nightmare on Sesame Street
A cena do crime era idêntica às anteriores.
O corpo estava no meio do quarto, a barriga aberta, as tripas espalhadas pelo tapete, mastigadas em vários pontos, o resto do corpo também estava mordido em vários locais, faltavam pedaços de carne. O legista confirmou, a garota tinha levado as mordidas ainda viva e depois foi estripada. Na parede do quarto, escrito com sangue a mesma mensagem dos 6 assassinatos anteriores:
"Nhac, Nhac, Nhac! I'm the Cookie Monster!"
Hilaff caminhou pela cena com cuidado pra não tirar nada do lugar, tapava a boca e o nariz com um lenço e observava o corpo e o interior do cadáver.
- Parece que está faltando alguma coisa aqui.
- Ele levou o estômago. - O legista se virou pra ele.
- Eu sei, como fez com todos os outros, mas parece que tem muito espaço vago aqui.
O legista revirava uma pequena pilha de roupas aos pés da cama.
- Ele tirou os ovários e o fígado também, acabei de encontrar. - Ele se levantou e abandonou o montinho de roupas e seu conteúdo macabro. - Preciso bater umas fotos disso.
O detetive continuou vagando a esmo pelo quarto, ainda cobrindo o rosto com o lenço, o cheiro no ar era insuportável, a garota estava ali há pelo menos 4 dias. A polícia já tinha uma boa idéia de quem era o serial killer, digitais parciais em 4 dos 6 corpos apontavam um suspeito em comum, e Hilaff estava quase certo de que a sétima vítima teria as mesmas digitais pelo corpo.
O problema é que o sujeito era um pouco mais do que um fastasma, nascera na periferia de Tirana e desde cedo tinha estado em instituições criminais para jovens e mais tarde instituições psiquiátricas. O cara era maníaco homicida e esquizofrênico, tinha delírios e vivia num mundo a parte da realidade, estava internado num manicômio público a mando da justiça, mas fugiu sabe-se lá como. Não tinha endereço fixo na sua ficha, sem parentes, sem conhecidos.
Hilaff saiu do quarto e foi até a entrada da casa, acendeu um cigarro e olhou pro céu, noite de lua cheia. O rádio de um dos carros cortou bruscamente o silêncio da noite.
"Atenção todas as unidades! Invasão de domicílio na Ceauccesco St. n 4! Testemunhas descreveram o invasor como possivelmente sendo o "Cookie Monster". Repetindo..."
O detetive jogou o cigarro no ar e saiu correndo na direção da viatura, entrou pelo lado do passageiro, sua parceira estava dando a partida no carro.
- Acelera essa bosta Marly! É o fodido do Cookie Monster! Acelera!
Ela respondeu afundando o pé no acelerador com toda a força, o ford roncou alto e avançou muitos metros pela pista, eles estavam a caminho.
Chegaram 7 minutos depois, nenhuma outra viatura ainda tinha chegado, mas podiam ouvir ao longe as sirenes.
- Eu vou entrar Marly, fique aqui fora.
- Nem vem Hillaf, você quer toda a glória só pra você? Além do mais, pelo que sabemos, esse cara é imenso, é melhor entrarmos os dois.
- Ai, ai...tá legal, tá legal, vamos logo...
Sacaram as armas e entraram na casa, era um sobrado bonito com uma pequena varanda na frente. Ao abrir a porta, o hall estava escuro, mais aos poucos seus olhos foram se acostumando com a escuridão, viram uma pessoa caída no chão. Marly sacou sua lanterna e ascendeu, mas desejou não tê-lo feito.
Um homem na casa dos 40, virado de cara pro chão, seu flanco esquerdo havia sido arrombado à dentadas e todo o interior daquele lado do corpo se espalhava pelo chão, uma trilha de sangue levava até a parede e a mensagem: NHAC!
Marly fez um sinal da cruz, Hilaff ignorou e seguiu pulando o corpo na direção dos fundos da casa. Banheiro limpo. Sala de Estar limpa. Sala de Janter limpa. Faltava a cozinha que tinha uma cortina de contas azuis em lugar de porta. Passaram por ela tensos, apontando a arma para cada canto escuro que havia, acharam a dona da casa atrás do balcão. Seu rosto tinha uma expressão quase cômica de espanto e dor. O assassino havia arrancado seu coração do peito. No balcão: NHAC!
- Como esse filho da puta faz isso? - Marly quis saber indignada.
Hillaf não respondeu, seguiu de volta pro hall onde estavam as escadas pro andar superior. Marly o seguia grudada em seus calcanhares.
O quarto do casal e o banheiro estavam limpos, era as duas primeiras portas, haviam mais duas.
- Me cobre Marly. - Hilaff seguiu até uma porta azul-bebê e deu um pontapé.
Era um quarto de menino. As bolas, carrinhos e o ferrorama mostravam isso claramente. Hilaff logo viu sobre a cama o corpo do garoto, estripado, não devia ter mais do que 13 anos. Na parede: NHAC!
Marly e Hilaff se entreolharam e depois fitaram a porta pink do outro lado do corredor. Acenaram com a cabeça e se dirigiram pra lá, as armas em punho. Marly girou a maçaneta com força e empurrou a porta, Hilaff entrou.
A potência daquela cena era impressionante, e Hilaff anos mais tarde em suas seções de terapia ainda se sentiria incomodado em falar dela. O quarto estava escuro como todo o resto da casa, mas a luz da lua cheia entrava direto pela janela daquele quarto, deixando tudo fantasmagóricamente azulado. Diretamente na direção oposta da porta, sentado contra a parede estava um homem imenso, não devia ter menos do que 2 metros de altura, e era gordo, mas não gordo como os maridos ficam depois de se casar, era obeso, era mórbido, devia pesar mais de 200 quilos!
Ele estava coberto de sangue, a boca e as mãos principalmente. Entre seus braços roliços e suas mãos grandes de dedos rombudos e unhas negras de sujeira, ele segurava o que parecia ser uma boneca sem cabeça, mas os detetives sabiam infelizmente que aquilo não era uma boneca, era uma criança.
Examinaram o quarto com os olhos rapidamente, todas as prateleiras, bonecas, bichos de pelúcia, caixinhas de música, roupinhas, a cama cor-de-rosa da Barbie, tudo coberto de sangue. E no canto, perto da penteadeira, aquele calombo hediondo de longos cabelos castanhos. A cabeça da garotinha. O monstro havia arrancado sua pequena cabeça do corpo à dentadas o legista descobriria mais tarde.
- PARADO! - Hilaff e Marly disseram ao mesmo tempo.
Monster largou o corpo da garotinha no chão, sua bocarra assassina se alargou e formou um sorriso diabólico e cheio de dentes vermelhos. Em sua cabeça ele se lembrava das surras que levava do pai enquanto passava Vila Sésamo na Tv educativa, apanhava sempre sem motivo, mas depois da surra continuava vendo o programa e se distraía, adorava o Come-Come, anos mais tarde descobriu que na América de onde o programa veio ele era chamado de Cookie Monster. Aí se lembrou de Pips, seu cachorro que o pai matou achando que era uma raposa invadindo o galinheiro. E depois de Yorda, a garota que morava na casa ao lado e que tinha lhe dado seu primeiro beijo. Ele havia comido Pips sem ninguém ver, quando matou o pai com 17 ele também o devorou e Yorda teve o mesmo destino quando terminou seu namoro com ele. Eles eram seus biscoitos, e ele adorava biscoitos, afinal, ele era o Cookie Monster.
- I love cookies!Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac! - Monster se ergueu numa velocidade e agilidade surpreendentes para um homem do seu tamanho. Avançou contra os detetives que não tiveram escolha, abriram fogo.
Morrendo no chão do quarto, baleado mais de 17 vezes até que parasse, Yaus Keletovich ergueu suas mãos e admirado percebeu que a luz da lua que entrava pela janela deixava sua pele azulada, igual a de seu personagem favorito.
- I am the Cookie Mons....- E se foi.
O corpo estava no meio do quarto, a barriga aberta, as tripas espalhadas pelo tapete, mastigadas em vários pontos, o resto do corpo também estava mordido em vários locais, faltavam pedaços de carne. O legista confirmou, a garota tinha levado as mordidas ainda viva e depois foi estripada. Na parede do quarto, escrito com sangue a mesma mensagem dos 6 assassinatos anteriores:
"Nhac, Nhac, Nhac! I'm the Cookie Monster!"
Hilaff caminhou pela cena com cuidado pra não tirar nada do lugar, tapava a boca e o nariz com um lenço e observava o corpo e o interior do cadáver.
- Parece que está faltando alguma coisa aqui.
- Ele levou o estômago. - O legista se virou pra ele.
- Eu sei, como fez com todos os outros, mas parece que tem muito espaço vago aqui.
O legista revirava uma pequena pilha de roupas aos pés da cama.
- Ele tirou os ovários e o fígado também, acabei de encontrar. - Ele se levantou e abandonou o montinho de roupas e seu conteúdo macabro. - Preciso bater umas fotos disso.
O detetive continuou vagando a esmo pelo quarto, ainda cobrindo o rosto com o lenço, o cheiro no ar era insuportável, a garota estava ali há pelo menos 4 dias. A polícia já tinha uma boa idéia de quem era o serial killer, digitais parciais em 4 dos 6 corpos apontavam um suspeito em comum, e Hilaff estava quase certo de que a sétima vítima teria as mesmas digitais pelo corpo.
O problema é que o sujeito era um pouco mais do que um fastasma, nascera na periferia de Tirana e desde cedo tinha estado em instituições criminais para jovens e mais tarde instituições psiquiátricas. O cara era maníaco homicida e esquizofrênico, tinha delírios e vivia num mundo a parte da realidade, estava internado num manicômio público a mando da justiça, mas fugiu sabe-se lá como. Não tinha endereço fixo na sua ficha, sem parentes, sem conhecidos.
Hilaff saiu do quarto e foi até a entrada da casa, acendeu um cigarro e olhou pro céu, noite de lua cheia. O rádio de um dos carros cortou bruscamente o silêncio da noite.
"Atenção todas as unidades! Invasão de domicílio na Ceauccesco St. n 4! Testemunhas descreveram o invasor como possivelmente sendo o "Cookie Monster". Repetindo..."
O detetive jogou o cigarro no ar e saiu correndo na direção da viatura, entrou pelo lado do passageiro, sua parceira estava dando a partida no carro.
- Acelera essa bosta Marly! É o fodido do Cookie Monster! Acelera!
Ela respondeu afundando o pé no acelerador com toda a força, o ford roncou alto e avançou muitos metros pela pista, eles estavam a caminho.
Chegaram 7 minutos depois, nenhuma outra viatura ainda tinha chegado, mas podiam ouvir ao longe as sirenes.
- Eu vou entrar Marly, fique aqui fora.
- Nem vem Hillaf, você quer toda a glória só pra você? Além do mais, pelo que sabemos, esse cara é imenso, é melhor entrarmos os dois.
- Ai, ai...tá legal, tá legal, vamos logo...
Sacaram as armas e entraram na casa, era um sobrado bonito com uma pequena varanda na frente. Ao abrir a porta, o hall estava escuro, mais aos poucos seus olhos foram se acostumando com a escuridão, viram uma pessoa caída no chão. Marly sacou sua lanterna e ascendeu, mas desejou não tê-lo feito.
Um homem na casa dos 40, virado de cara pro chão, seu flanco esquerdo havia sido arrombado à dentadas e todo o interior daquele lado do corpo se espalhava pelo chão, uma trilha de sangue levava até a parede e a mensagem: NHAC!
Marly fez um sinal da cruz, Hilaff ignorou e seguiu pulando o corpo na direção dos fundos da casa. Banheiro limpo. Sala de Estar limpa. Sala de Janter limpa. Faltava a cozinha que tinha uma cortina de contas azuis em lugar de porta. Passaram por ela tensos, apontando a arma para cada canto escuro que havia, acharam a dona da casa atrás do balcão. Seu rosto tinha uma expressão quase cômica de espanto e dor. O assassino havia arrancado seu coração do peito. No balcão: NHAC!
- Como esse filho da puta faz isso? - Marly quis saber indignada.
Hillaf não respondeu, seguiu de volta pro hall onde estavam as escadas pro andar superior. Marly o seguia grudada em seus calcanhares.
O quarto do casal e o banheiro estavam limpos, era as duas primeiras portas, haviam mais duas.
- Me cobre Marly. - Hilaff seguiu até uma porta azul-bebê e deu um pontapé.
Era um quarto de menino. As bolas, carrinhos e o ferrorama mostravam isso claramente. Hilaff logo viu sobre a cama o corpo do garoto, estripado, não devia ter mais do que 13 anos. Na parede: NHAC!
Marly e Hilaff se entreolharam e depois fitaram a porta pink do outro lado do corredor. Acenaram com a cabeça e se dirigiram pra lá, as armas em punho. Marly girou a maçaneta com força e empurrou a porta, Hilaff entrou.
A potência daquela cena era impressionante, e Hilaff anos mais tarde em suas seções de terapia ainda se sentiria incomodado em falar dela. O quarto estava escuro como todo o resto da casa, mas a luz da lua cheia entrava direto pela janela daquele quarto, deixando tudo fantasmagóricamente azulado. Diretamente na direção oposta da porta, sentado contra a parede estava um homem imenso, não devia ter menos do que 2 metros de altura, e era gordo, mas não gordo como os maridos ficam depois de se casar, era obeso, era mórbido, devia pesar mais de 200 quilos!
Ele estava coberto de sangue, a boca e as mãos principalmente. Entre seus braços roliços e suas mãos grandes de dedos rombudos e unhas negras de sujeira, ele segurava o que parecia ser uma boneca sem cabeça, mas os detetives sabiam infelizmente que aquilo não era uma boneca, era uma criança.
Examinaram o quarto com os olhos rapidamente, todas as prateleiras, bonecas, bichos de pelúcia, caixinhas de música, roupinhas, a cama cor-de-rosa da Barbie, tudo coberto de sangue. E no canto, perto da penteadeira, aquele calombo hediondo de longos cabelos castanhos. A cabeça da garotinha. O monstro havia arrancado sua pequena cabeça do corpo à dentadas o legista descobriria mais tarde.
- PARADO! - Hilaff e Marly disseram ao mesmo tempo.
Monster largou o corpo da garotinha no chão, sua bocarra assassina se alargou e formou um sorriso diabólico e cheio de dentes vermelhos. Em sua cabeça ele se lembrava das surras que levava do pai enquanto passava Vila Sésamo na Tv educativa, apanhava sempre sem motivo, mas depois da surra continuava vendo o programa e se distraía, adorava o Come-Come, anos mais tarde descobriu que na América de onde o programa veio ele era chamado de Cookie Monster. Aí se lembrou de Pips, seu cachorro que o pai matou achando que era uma raposa invadindo o galinheiro. E depois de Yorda, a garota que morava na casa ao lado e que tinha lhe dado seu primeiro beijo. Ele havia comido Pips sem ninguém ver, quando matou o pai com 17 ele também o devorou e Yorda teve o mesmo destino quando terminou seu namoro com ele. Eles eram seus biscoitos, e ele adorava biscoitos, afinal, ele era o Cookie Monster.
- I love cookies!Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac! - Monster se ergueu numa velocidade e agilidade surpreendentes para um homem do seu tamanho. Avançou contra os detetives que não tiveram escolha, abriram fogo.
Morrendo no chão do quarto, baleado mais de 17 vezes até que parasse, Yaus Keletovich ergueu suas mãos e admirado percebeu que a luz da lua que entrava pela janela deixava sua pele azulada, igual a de seu personagem favorito.
- I am the Cookie Mons....- E se foi.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
O homem que não sabia falar (Ou "O Mímico")
Ele não sabia falar, mas dizia várias coisas.
Andava por aí tímido, cabisbaixo.
Uma garota no ônibus sorriu pra ele.
Ele pegou o trem.
Uma garota de muletas no trem sorriu pra ele.
Ele desceu do trem pra pegar o metrô.
Uma garota baixinha sorriu pra ele.
Ele chegou no trabalho.
As garotas no trabalho sorriam pra ele.
Hora de voltar pra casa. Pegou o metrô e ganhou mais alguns sorrisos. Entram 3 mímicos no vagão e fazem seu número, ele sorri pros mímicos.
"Imagina a quantidade de sexo que eu estaria fazendo se soubesse falar." - Ele pensa consigo mesmo. "Talvez eu deva virar mímico."
Andava por aí tímido, cabisbaixo.
Uma garota no ônibus sorriu pra ele.
Ele pegou o trem.
Uma garota de muletas no trem sorriu pra ele.
Ele desceu do trem pra pegar o metrô.
Uma garota baixinha sorriu pra ele.
Ele chegou no trabalho.
As garotas no trabalho sorriam pra ele.
Hora de voltar pra casa. Pegou o metrô e ganhou mais alguns sorrisos. Entram 3 mímicos no vagão e fazem seu número, ele sorri pros mímicos.
"Imagina a quantidade de sexo que eu estaria fazendo se soubesse falar." - Ele pensa consigo mesmo. "Talvez eu deva virar mímico."
sexta-feira, 21 de março de 2008
Escrevendo por culpa
Era um daqueles dias em que o ar está parado, as pessoas andam silenciosas, como se seus passos não fizessem barulho. Era feriado.
Aquele vazio vinha me devorando há alguns meses, eu achei que havia superado o que quer que fosse, mas aparentemente ainda estava contaminado com aquela incapacidade de sentir qualquer coisa.
O tempo parecia parado, ainda assim os dias corriam como corcéis selvagens, livres e caóticos.
Eu tinha visto duas pessoas morrerem no trabalho em menos de uma semana. Aquilo tentava me dizer algo, mas eu não queria pensar em nada.
Aí vi a Doutora, jovem, alta, cabelos negros, quadris largos. Ela estava dando a notícia pra família e eu por um instante pensei que aquele devia ser o pior trabalho do mundo. Um dos familiares começou a chorar.
Eu tenho esse direito? De me sentir tão mal? Acho que não...nenhum de nós tem...cancelamos o direito uns dos outros de nos sentirmos péssimos, porque sempre existe alguém em situação mais desesperadora.
Ai me passou um monte de coisa pela cabeça, e no meio do turbilhão lembrei de uma cena engraçada.
Um menino de 14, 15 anos andava de bicicleta, perdeu o equilíbrio e levou um tombo feio no asfalto. Um negrão careca, amigo meu, estava por perto e alertou: Cuidado pra não cair hein! O garoto possesso com a brincadeira e o tombo lançou: Vai tomar no seu cú!
Era simples, bobo, cotidiano, mas eu comecei a rir, me senti feliz pela primeira vez em meses.
De repente, aquele gosto amargo já não estava mais lá.
A vida era boa.
Aquele vazio vinha me devorando há alguns meses, eu achei que havia superado o que quer que fosse, mas aparentemente ainda estava contaminado com aquela incapacidade de sentir qualquer coisa.
O tempo parecia parado, ainda assim os dias corriam como corcéis selvagens, livres e caóticos.
Eu tinha visto duas pessoas morrerem no trabalho em menos de uma semana. Aquilo tentava me dizer algo, mas eu não queria pensar em nada.
Aí vi a Doutora, jovem, alta, cabelos negros, quadris largos. Ela estava dando a notícia pra família e eu por um instante pensei que aquele devia ser o pior trabalho do mundo. Um dos familiares começou a chorar.
Eu tenho esse direito? De me sentir tão mal? Acho que não...nenhum de nós tem...cancelamos o direito uns dos outros de nos sentirmos péssimos, porque sempre existe alguém em situação mais desesperadora.
Ai me passou um monte de coisa pela cabeça, e no meio do turbilhão lembrei de uma cena engraçada.
Um menino de 14, 15 anos andava de bicicleta, perdeu o equilíbrio e levou um tombo feio no asfalto. Um negrão careca, amigo meu, estava por perto e alertou: Cuidado pra não cair hein! O garoto possesso com a brincadeira e o tombo lançou: Vai tomar no seu cú!
Era simples, bobo, cotidiano, mas eu comecei a rir, me senti feliz pela primeira vez em meses.
De repente, aquele gosto amargo já não estava mais lá.
A vida era boa.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Planeta dos Macacos, mas não por muito tempo
O garoto acordou assustado, olhou ao redor procurando quem quer que fosse, mas não achou ninguém. O laboratório era imenso e as sombras se acumulavam nos cantos mais distandes, prendendo-o num cubo mal-iluminado cercado de grossas paredes sombrias. A câmara criogênica estava desligada e a cúpula de vidro que a selava estava erguida, o jovem não teve dúvidas, pulou para fora.
Estava nu, seus pés descalços pisavam num frio chão de metal, mas a sensibilidade ainda lutava para voltar às extremidades o que o poupava do frio que fazia ali.
Ele caminhou pela escuridão adentro sem medo, tateava pelas paredes com dificuldade e entrava em corredores e portas sem saber ao certo pra onde estava indo, estava muito confuso. Ouviu passos ao longe, seguiu na direção do som.
No final de um longo corredor ficava um salão enorme e iluminado, nele cerca de 10 homens imensos, com roupas pesadas de couro negro e capacetes de vidro negro andavam de um lado pro outro aparentemente impressionados com tudo que viam nas paredes, quadros, tapeçarias, cada vaso era uma relíquia e eles não pisavam nos tapetes com medo de que desmanchassem sob o peso de seus pés enormes. Para o menino passou despercebido o fato de que cada um daqueles homens carregava um fuzil e que todos eles tinham 4 braços.
Ele saiu do corredor caminhando lentamente, estava ainda muito fraco. Alguns dos homens se voltaram para ele e logo começou uma gritaria confusa numa língua que o menino jamais ouvira. Alguns dos homens apontavam os fuzis pra ele, enquanto outros tentavam impedi-los de atirar e outros dois ao fundo gritavam na direção de uma outra sala, de onde veio um outro gigante, esse vestia-se da mesma maneira, mas sua vestimenta era completamente vermelha, parecia ser o líder.
O gigante escarlate se aproximou e ajoelhou-se muito próximo ao menino, começou a falar muito devagar naquela língua estranha, como se o menino pudesse por mágica aprender aquele idioma caso pronunciado muito lentamente, mas isso não ajudou obviamente.
- Não entendo. - O menino disse no mais claro japonês que conseguiu.
Uma comoção entre os homens demonstrou que eles procuravam outro membro da equipe, logo entrou pela porta um novo gigante, esse vestia uma roupa branca, lembrou ao garoto um gordo boneco de neve.
- Japonês? Japonês fala você? - O homem de branco perguntou com um sotaque carregadíssimo.
- Sim. - Respondeu o menino confuso. - Quem são vocês?
- Nós equipe de arqueologia de Rochia.
- Rochia?
- Rochia grande cidade. Nós de Rochia. Você de onde?
- Eu nasci em Kyoto, mas fui criado em Akita. - A resposta veio tão facilmente ao menino que ele mal se deu conta de que de repente já se lembrava de quem era e de quase todo o resto. - Me chamo Iori.
O gigante de branco ia traduzindo tudo para o gigante de vermelho que apenas balançava a cabeça e fazia curtos comentários.
- Nós Rochia. Nós aqui pesquisando e encontrar você. Você muito raro!
- Eu sou muito raro? Não entendo.
- Humano muito raro, humano não mais.
Iori ficou em silêncio por um minuto, pensava no que estava ouvindo e mais memórias pareciam voltar de súbito a sua cabeça. O calor, as geleiras derretendo, os tornados, os terremotos, as enchentes, as pessoas morrendo, ele sendo congelado pelos pais para ser salvo no futuro.
- Não existem mais humanos? - Ele perguntou incrédulo.
- Humano não mais há muito tempo, humano lenda, muito Rochia não acredita em humano.
- Mas então...o que vocês são?
- Nós Rochia.
- Vocês vivem em Rochia e são Rochia?
- Sim, veja.
Ao mesmo tempo, todos os homens retiraram seus capacetes, o garoto abafou um grito de horror quando viu seus rostos. Cabeças insetóides de olhos redondos e negros, bocas multifacetadas e deslocáveis com tenazes dos lados, longas antenas na parte superior, eram imensas baratas humanas.
"Rochia...roach...barata em inglês.", Iori pensou..."Os humanos finalmente conseguiram, extinguiram a espécie mais perigosa do planeta, eles mesmos."
Estava nu, seus pés descalços pisavam num frio chão de metal, mas a sensibilidade ainda lutava para voltar às extremidades o que o poupava do frio que fazia ali.
Ele caminhou pela escuridão adentro sem medo, tateava pelas paredes com dificuldade e entrava em corredores e portas sem saber ao certo pra onde estava indo, estava muito confuso. Ouviu passos ao longe, seguiu na direção do som.
No final de um longo corredor ficava um salão enorme e iluminado, nele cerca de 10 homens imensos, com roupas pesadas de couro negro e capacetes de vidro negro andavam de um lado pro outro aparentemente impressionados com tudo que viam nas paredes, quadros, tapeçarias, cada vaso era uma relíquia e eles não pisavam nos tapetes com medo de que desmanchassem sob o peso de seus pés enormes. Para o menino passou despercebido o fato de que cada um daqueles homens carregava um fuzil e que todos eles tinham 4 braços.
Ele saiu do corredor caminhando lentamente, estava ainda muito fraco. Alguns dos homens se voltaram para ele e logo começou uma gritaria confusa numa língua que o menino jamais ouvira. Alguns dos homens apontavam os fuzis pra ele, enquanto outros tentavam impedi-los de atirar e outros dois ao fundo gritavam na direção de uma outra sala, de onde veio um outro gigante, esse vestia-se da mesma maneira, mas sua vestimenta era completamente vermelha, parecia ser o líder.
O gigante escarlate se aproximou e ajoelhou-se muito próximo ao menino, começou a falar muito devagar naquela língua estranha, como se o menino pudesse por mágica aprender aquele idioma caso pronunciado muito lentamente, mas isso não ajudou obviamente.
- Não entendo. - O menino disse no mais claro japonês que conseguiu.
Uma comoção entre os homens demonstrou que eles procuravam outro membro da equipe, logo entrou pela porta um novo gigante, esse vestia uma roupa branca, lembrou ao garoto um gordo boneco de neve.
- Japonês? Japonês fala você? - O homem de branco perguntou com um sotaque carregadíssimo.
- Sim. - Respondeu o menino confuso. - Quem são vocês?
- Nós equipe de arqueologia de Rochia.
- Rochia?
- Rochia grande cidade. Nós de Rochia. Você de onde?
- Eu nasci em Kyoto, mas fui criado em Akita. - A resposta veio tão facilmente ao menino que ele mal se deu conta de que de repente já se lembrava de quem era e de quase todo o resto. - Me chamo Iori.
O gigante de branco ia traduzindo tudo para o gigante de vermelho que apenas balançava a cabeça e fazia curtos comentários.
- Nós Rochia. Nós aqui pesquisando e encontrar você. Você muito raro!
- Eu sou muito raro? Não entendo.
- Humano muito raro, humano não mais.
Iori ficou em silêncio por um minuto, pensava no que estava ouvindo e mais memórias pareciam voltar de súbito a sua cabeça. O calor, as geleiras derretendo, os tornados, os terremotos, as enchentes, as pessoas morrendo, ele sendo congelado pelos pais para ser salvo no futuro.
- Não existem mais humanos? - Ele perguntou incrédulo.
- Humano não mais há muito tempo, humano lenda, muito Rochia não acredita em humano.
- Mas então...o que vocês são?
- Nós Rochia.
- Vocês vivem em Rochia e são Rochia?
- Sim, veja.
Ao mesmo tempo, todos os homens retiraram seus capacetes, o garoto abafou um grito de horror quando viu seus rostos. Cabeças insetóides de olhos redondos e negros, bocas multifacetadas e deslocáveis com tenazes dos lados, longas antenas na parte superior, eram imensas baratas humanas.
"Rochia...roach...barata em inglês.", Iori pensou..."Os humanos finalmente conseguiram, extinguiram a espécie mais perigosa do planeta, eles mesmos."
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Caverna Interior
Caminhei pela noite adentro, sozinho. Encontrei companheiros no meio do caminho.
Caminhamos pela noite adentro, sozinhos. Encontramos resistência.
Resistimos noite a dentro, sozinhos. Encontramos liberdade.
Corremos livres pela noite, sozinhos. Encontramos uma garota gordinha de 15 anos e olhos verde-folha.
- Você pode sair e conquistar o mundo, mas seus amigos ficam. - Ela disse com uma risadinha típica de garotas de 15 anos.
- Eu vou. - Respondo.
Saio da noite e finalmente enxergo a luz do sol depois de longos anos, minha pele pálida agradece quando recebe novamente os revigorantes raios de sol. Caminho por uma floresta e encontro uma imensa caverna, estou só.
Da entrada da caverna sai uma corrente grossa e enferrujada, curioso eu a seguro e puxo, seja lá o que estiver na outra ponta, vem deixando a caverna sem resistência.
Então eu finalmente vejo, preso pelo pescoço, um gigante. Mas o gigante sou eu.
O "euzão" está vestido de centurião romano, com um elmo dourado, um escudo no braço esquerdo, uma lança na mão direita e uma espada na cintura. Ele parece manso, mas poderoso.
Não tenho dúvidas quanto ao que fazer, quebro a corrente e liberto o gigante.
Somos um e vamos conquistar o mundo, sozinhos. Ou sozinho.
Caminhamos pela noite adentro, sozinhos. Encontramos resistência.
Resistimos noite a dentro, sozinhos. Encontramos liberdade.
Corremos livres pela noite, sozinhos. Encontramos uma garota gordinha de 15 anos e olhos verde-folha.
- Você pode sair e conquistar o mundo, mas seus amigos ficam. - Ela disse com uma risadinha típica de garotas de 15 anos.
- Eu vou. - Respondo.
Saio da noite e finalmente enxergo a luz do sol depois de longos anos, minha pele pálida agradece quando recebe novamente os revigorantes raios de sol. Caminho por uma floresta e encontro uma imensa caverna, estou só.
Da entrada da caverna sai uma corrente grossa e enferrujada, curioso eu a seguro e puxo, seja lá o que estiver na outra ponta, vem deixando a caverna sem resistência.
Então eu finalmente vejo, preso pelo pescoço, um gigante. Mas o gigante sou eu.
O "euzão" está vestido de centurião romano, com um elmo dourado, um escudo no braço esquerdo, uma lança na mão direita e uma espada na cintura. Ele parece manso, mas poderoso.
Não tenho dúvidas quanto ao que fazer, quebro a corrente e liberto o gigante.
Somos um e vamos conquistar o mundo, sozinhos. Ou sozinho.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Modern Caveman
A caçada havia começado 5 dias antes, no coração mais profundo daquelas selvas úmidas. Os 4 homens seguiram sua presa incansáveis até uma vasta planície pedregosa. Thog, Gog, Brak e Taruk eram seus nomes, grandes guerreiros de sua tribo, o guerreiro mais forte, o corredor mais rápido, o pensador mais sábio e o rastreador mais implacável respectivamente.
Taruk e Brak investigavam cuidadosamente os rastros frescos de sua presa numa pequena poça de lama.
- Passou por aqui há 2 dias, a lama está quase seca. - Taruk estava de pé segurando uma longa lança na mão esquerda, era o mais alto dos quatro e vestia pouco, apenas uma tanga de peles padrão da época, uma gravata púrpura e um rolex de ouro no pulso direito, estava quebrado e não marcava as horas.
- Temos de apertar o passo Taruk. - Brak deixou a poça de lama após examina-la. - Ou vamos perdê-la. - Os olhos de Brak eram verde-vivo, o direito coberto por um monóculo. Ele alisou o cabo de sua faca na cintura com uma mão e com a outra tirou sua cartola preta e coçou a cabeça.
- Vocês dois, vamos indo! - Taruk gritou os outros dois companheiros.
Thog e Gog reuniram-se aos dois rapidamente. Thog era um homenzarrão imenso e de olhos pequeninos e estúpidos, não vestia nada além de um terno cinza muito surrado e carregava uma clava de madeira enorme, que um dia deveria ter sido toda uma árvore. Gog era o oposto, muito pequenino e magro, poderia ser tomado por uma criança, carregava um machado de pedra e vestia um par de tênis de corrida e um capacete de piloto com os óculos protetores abaixados o tempo todo.
Os 4 homens-das-cavernas seguiram uma trilha demarcada na planície, agora com um passo muito acelerado, quase corriam. Gog era visivelmente o mais rápido e parava muitas vezes para esperar o restante dos companheiros, era seguido por Taruk e Brak, Thog fechando a fila muitos metros de distância atrás.
A noite caiu e Taruk e Brak comemoravam ter ganho uma boa distância naquele dia, a besta deveria ser encontrada na manhã seguinte quase com certeza. Sentaram-se no chão e sentiam fome e frio, Brak acendeu uma fogueira já que era o único a conhecer os segredos do fogo. Os 4 amontoaram-se ao redor da fogueira segurando os joelhos e tentando se aquecer um pouco.
Um barulho na mata.
- Sonhadores. - Gog segurou o cabo do machado com força e levantou-se.
- Droga. - Thog acompanhou o amigo e levantou-se com sua imensa clava bem firme sobre os ombros.
- O GPS do Grande Chefe tinha mesmo mostrado uma concentração de sonhadores nessa área, eu esperava passar por aqui desapercebido. - Brak disse amargo.
Taruk imitou os companheiros e levantou-se, pronto para qualquer coisa com sua lança em punho. O ar parecia pesado e uma tensão empesteava a pequena clareira ao redor da fogueira. Minutos depois, nada tinha acontecido e eles relaxaram um pouco, uma hora depois sentara-mse ao redor da fogueira novamente, ainda atentos aos sons da floresta, mas nada aconteceu, de qualquer forma, nenhum deles dormiu aquela noite.
Na manhã seguinte partiram cedo e logo estavam no rastro da presa, era um animal grande pelo que parecia e deixava rastros por todos os lados, grandes fitas de papel crepom colorido.
Gog era o batedor e corria na frente pra verificar um penhasco a frente, os outros três descansavam sentados em pedras.
- Às vezes me pergunto o que estamos fazendo. - Taruk disse para ninguém em particular. - Qual o sentido em tudo isso?
- A tribo precisa de nós Taruk, e isso é tudo. - Brak concluiu.
- Está lá. - Gog tinha chegado sem ninguém percebê-lo, tinha um sorriso no rosto. - A Besta Arco-Íris está lá embaixo na planície.
Todos correram para a ponta do penhasco e assim que chegaram puderam vê-la. Era um animal enorme, uma anta com o tamanho de dois elefantes. Movia-se lentamente e tranquila, seu corpo era multi-colorido e parecia feito de muitos pedaços de papel crepom colados uns aos outros. Ela não parecia ter percebido os caçadores.
- Vamos caçar. - Taruk convidou.
Os 4 desceram pela encosta do penhasco com facilidade e seguiram abaixado e contra o vento até posicionarem-se logo atrás da besta. Thog foi o primeiro a atacar, sua clava monstruosa atingiu o flanco do animal com uma força descomunal e a parte traseira da fera tombou. Os outros correram pelos lados da fera, Brak e Gog desferindo vários golpes com suas lâminas e Taruk foi na direção da cabeça e com sua lança furou os olhos da criatura que urrava de dor e pânico. A fera ainda tentou reagir e acertou uma pescoçada em Brak que caiu estirado no chão, sua cartola e seu monóculo jogados longe, mas ele logo se recuperou. A Besta Arco-Íris estava acabada.
Taruk tirou um grande pedaço de tecido branco de uma maleta nas suas costas e entregou-a a Thog. O gigante vendou os olhos com o pano e alcançou seu tacape no chão. A essa altura, os outros 3 riam e começaram a rodar Thog que perdeu completamente o senso de direção, mas a fera ainda gemia baixinho e guiou seus ouvidos. Um único golpe de Thog foi o bastante.
A cebeça da fera voou longe, expondo o interior de seu corpo, um amontoado de pequenos pedaços de papel verde, notas de 20 e 50. Os 4 guerreiros destruíram complatamente a carcaça da besta e encheram suas valises com a recompena de sua caçada, teriam muito para levar de volta pra tribo.
- Eu nem acredito, matamos Piñata, a Besta Arco-Íris. - Um deles disse.
Por Gordon Banks (04/02/2008)
Taruk e Brak investigavam cuidadosamente os rastros frescos de sua presa numa pequena poça de lama.
- Passou por aqui há 2 dias, a lama está quase seca. - Taruk estava de pé segurando uma longa lança na mão esquerda, era o mais alto dos quatro e vestia pouco, apenas uma tanga de peles padrão da época, uma gravata púrpura e um rolex de ouro no pulso direito, estava quebrado e não marcava as horas.
- Temos de apertar o passo Taruk. - Brak deixou a poça de lama após examina-la. - Ou vamos perdê-la. - Os olhos de Brak eram verde-vivo, o direito coberto por um monóculo. Ele alisou o cabo de sua faca na cintura com uma mão e com a outra tirou sua cartola preta e coçou a cabeça.
- Vocês dois, vamos indo! - Taruk gritou os outros dois companheiros.
Thog e Gog reuniram-se aos dois rapidamente. Thog era um homenzarrão imenso e de olhos pequeninos e estúpidos, não vestia nada além de um terno cinza muito surrado e carregava uma clava de madeira enorme, que um dia deveria ter sido toda uma árvore. Gog era o oposto, muito pequenino e magro, poderia ser tomado por uma criança, carregava um machado de pedra e vestia um par de tênis de corrida e um capacete de piloto com os óculos protetores abaixados o tempo todo.
Os 4 homens-das-cavernas seguiram uma trilha demarcada na planície, agora com um passo muito acelerado, quase corriam. Gog era visivelmente o mais rápido e parava muitas vezes para esperar o restante dos companheiros, era seguido por Taruk e Brak, Thog fechando a fila muitos metros de distância atrás.
A noite caiu e Taruk e Brak comemoravam ter ganho uma boa distância naquele dia, a besta deveria ser encontrada na manhã seguinte quase com certeza. Sentaram-se no chão e sentiam fome e frio, Brak acendeu uma fogueira já que era o único a conhecer os segredos do fogo. Os 4 amontoaram-se ao redor da fogueira segurando os joelhos e tentando se aquecer um pouco.
Um barulho na mata.
- Sonhadores. - Gog segurou o cabo do machado com força e levantou-se.
- Droga. - Thog acompanhou o amigo e levantou-se com sua imensa clava bem firme sobre os ombros.
- O GPS do Grande Chefe tinha mesmo mostrado uma concentração de sonhadores nessa área, eu esperava passar por aqui desapercebido. - Brak disse amargo.
Taruk imitou os companheiros e levantou-se, pronto para qualquer coisa com sua lança em punho. O ar parecia pesado e uma tensão empesteava a pequena clareira ao redor da fogueira. Minutos depois, nada tinha acontecido e eles relaxaram um pouco, uma hora depois sentara-mse ao redor da fogueira novamente, ainda atentos aos sons da floresta, mas nada aconteceu, de qualquer forma, nenhum deles dormiu aquela noite.
Na manhã seguinte partiram cedo e logo estavam no rastro da presa, era um animal grande pelo que parecia e deixava rastros por todos os lados, grandes fitas de papel crepom colorido.
Gog era o batedor e corria na frente pra verificar um penhasco a frente, os outros três descansavam sentados em pedras.
- Às vezes me pergunto o que estamos fazendo. - Taruk disse para ninguém em particular. - Qual o sentido em tudo isso?
- A tribo precisa de nós Taruk, e isso é tudo. - Brak concluiu.
- Está lá. - Gog tinha chegado sem ninguém percebê-lo, tinha um sorriso no rosto. - A Besta Arco-Íris está lá embaixo na planície.
Todos correram para a ponta do penhasco e assim que chegaram puderam vê-la. Era um animal enorme, uma anta com o tamanho de dois elefantes. Movia-se lentamente e tranquila, seu corpo era multi-colorido e parecia feito de muitos pedaços de papel crepom colados uns aos outros. Ela não parecia ter percebido os caçadores.
- Vamos caçar. - Taruk convidou.
Os 4 desceram pela encosta do penhasco com facilidade e seguiram abaixado e contra o vento até posicionarem-se logo atrás da besta. Thog foi o primeiro a atacar, sua clava monstruosa atingiu o flanco do animal com uma força descomunal e a parte traseira da fera tombou. Os outros correram pelos lados da fera, Brak e Gog desferindo vários golpes com suas lâminas e Taruk foi na direção da cabeça e com sua lança furou os olhos da criatura que urrava de dor e pânico. A fera ainda tentou reagir e acertou uma pescoçada em Brak que caiu estirado no chão, sua cartola e seu monóculo jogados longe, mas ele logo se recuperou. A Besta Arco-Íris estava acabada.
Taruk tirou um grande pedaço de tecido branco de uma maleta nas suas costas e entregou-a a Thog. O gigante vendou os olhos com o pano e alcançou seu tacape no chão. A essa altura, os outros 3 riam e começaram a rodar Thog que perdeu completamente o senso de direção, mas a fera ainda gemia baixinho e guiou seus ouvidos. Um único golpe de Thog foi o bastante.
A cebeça da fera voou longe, expondo o interior de seu corpo, um amontoado de pequenos pedaços de papel verde, notas de 20 e 50. Os 4 guerreiros destruíram complatamente a carcaça da besta e encheram suas valises com a recompena de sua caçada, teriam muito para levar de volta pra tribo.
- Eu nem acredito, matamos Piñata, a Besta Arco-Íris. - Um deles disse.
Por Gordon Banks (04/02/2008)
domingo, 20 de janeiro de 2008
Jack, Charlie, e o grande baile
(Bom, primeiramente, peço desculpa por quebrar completamente o ritmo do blog no último post, mas eu realmente precisava desabafar e foi o melhor jeito que eu encontrei na hora. O blog continua com os contos e crônicas usuais, que é o que eu gosto mais de escrever e aparentemente é o que tem agradado mais o pessoal.)
Era a grande noite. A grande chance pra todos. A noite em que nobres e plebeus eram iguais. A noite do baile do colegial.
Eu não estava particularmente empolgado, era só mais uma festa com o pessoal manjado da escola, só que sem álcool e com a supervisão de adultos. Resumindo, era um festa chata, mas por algum motivo, existia toda uma mística em torno daquela noite que fazia parecer que tudo poderia acontecer. Eu conhecia mais de uma pessoa que esperava pelo baile antes mesmo de saber exatamente o que era um baile.
Os caras da turma estavam entusiasmados. Charlie tinha comprado um terno novo e Kevin tinha convencido Heather, a garota mais gostosa da escola, a ir com ele. Tudo prometia uma noite inesquecível. De fato, eu jamais esqueci.
O baile já ia chegando ao final, o ponche já estava batizado, mas ninguém se mostrava bêbado demais. Os primeiros casais saíam discretamente e entravam nos carros procurando pelos melhores cantos escuros da cidade pra dar uns amassos. Kevin dançava uma baladinha lenta no meio da pista com Heather, e Bia, a garota que eu tinha levado ao baile, estava num canto agarrada com um jogador do time de luta-livre que eu não reconheci, por que eram todos muito parecidos.
Eu sai do salão e dei uma caminhada até o pátio, vi que o céu estava muito claro e estrelado, e a lua estava ligeiramente avermelhada, um daqueles lances de eclipse ou sei lá o que.
Quando me virei na direção da torre do relógio, vi um vulto grandalhão lá no alto, não tive dúvidas, era Charlie.
- Vai entrar numa enrascada se alguém te pegar aqui. - Eu disse me aproximando depois de finalmente subir a longa escada espiral por dentro da torre.
- Não me importo. - Charlie disse virando pra me olhar, ele estava sentado no parapeito com as pernas para fora da torre e cambaleou perigosamente, na mão esquerda um embrulho em papel pardo.
- Isso na sua mão é scotch? Você andou bebendo? - Perguntei com um semi-sorriso no rosto, Charlie raramente bebia, mas costumava exagerar quando o fazia.
- Eu só bebo bourbon Jack, achei que você já soubesse. - Ele respondeu me dando as costas.
Reparei que sobre o parapeito estavam os sapatos dele, e dentro de um dos sapatos vi o brilho dourado do relógio que ele ganhara do pai e dos óculos de grau, era estranho vê-lo sem os óculos, mas me pareceu um detalhe sem importância.
- A bia me largou no meio da segunda música. - Desabafei.
- Heather ainda vale alguma coisa, mas a Bia é uma tapada. - Ele disse com mais dureza do que eu esperava ouvir. - Não se preocupe, o karma toma conta dela.
Charlie era um cara muito alto e de ombros largos, ainda assim um sujeito simpático e de aparência inofensiva. Era um nerd de marca maior. Devorava livros no café da manhã, adorava filosofia, estudava tudo que podia sobre religião, embora não mostrasse seguir nada do que lia. Não pude deixar de sorrir quando ele deixou Bia a cargo do karma, era exatamente o estilo dele, por isso era meu amigo. Meu melhor amigo.
- Vamos embora daqui, esse baile já era. - Eu disse na esperança de voltar pra casa e descansar na minha cama.
- Pode ir sozinho, vou ficar aqui mais um pouco.
- Certo. Se cuida Charlie, te vejo amanhã.
Eu desci as escadas e deixei o Charlie lá. No estacionamento, vi Kevin e Heather saindo no carro dele, a noite deles ainda estava começando. A minha no entanto estava a 10 segundos de terminar.
BOOM!!
Me virei na direção do barulho assustado, parecia uma bomba, mas não tinha fogo. De repente escutei um grito de mulher e um alvoroço logo depois, estavam na torre do relógio. Corri de volta e logo percebi que algo estava errado.
Cercado por uma 4 pessoas completamente aturdidas, estava um corpo no chão, um corpo grandalhão, sem óculos e sem sapatos, e sem vida. Charlie tinha caído da torre.
A noite parecia não terminar nunca enquanto os policiais me faziam mais e mais perguntas, já que eu tinha sido o último a vê-lo com vida.
Um dos peritos encontrou um bilhete no bolso interno paletó:
A tout le monde
A tous mes amis
Je vous aime
Je dois partir
These are the last words
I'll ever speak
And they'll set me free
Charlie.
Era a letra de "A Tout Le Monde" do Megadeath. Estava escrito com a letra do Charlie e foi considerado um óbvio bilhete de suicídio. Charlie se suicidou. Eu nunca soube o porque. Ele era meu melhor amigo, devia estar gritando por ajuda há semanas com aquele jeitão retraído dele e eu nem percebi, concentrado demais no meu mundinho precioso de festas e garotas.
Dias depois a mãe de Charlie me ligou e disse que eu podia ir até a casa dela e pegar alguma coisa do Charlie como lembrança. Eu entrei no quarto dele, e vasculhei por algum diário, alguma pista do motivo pra ele ter feito aquilo, até liguei o computador e verifiquei o que ele andava fazendo na internet, mas tudo que eu via eram sites sobre retiros budistas, monastérios e coisas relacionadas ao budismo. Em cima da escrivaninha estava a única coisa que eu tirei daquele quarto. Um folheto falando sobre um retiro budista no japão.
Em um ano eu consegui a grana e logo estava de viagem marcada. Não ia pra faculdade, estava de malas prontas pra ir pro japão.
Era a grande noite. A grande chance pra todos. A noite em que nobres e plebeus eram iguais. A noite do baile do colegial.
Eu não estava particularmente empolgado, era só mais uma festa com o pessoal manjado da escola, só que sem álcool e com a supervisão de adultos. Resumindo, era um festa chata, mas por algum motivo, existia toda uma mística em torno daquela noite que fazia parecer que tudo poderia acontecer. Eu conhecia mais de uma pessoa que esperava pelo baile antes mesmo de saber exatamente o que era um baile.
Os caras da turma estavam entusiasmados. Charlie tinha comprado um terno novo e Kevin tinha convencido Heather, a garota mais gostosa da escola, a ir com ele. Tudo prometia uma noite inesquecível. De fato, eu jamais esqueci.
O baile já ia chegando ao final, o ponche já estava batizado, mas ninguém se mostrava bêbado demais. Os primeiros casais saíam discretamente e entravam nos carros procurando pelos melhores cantos escuros da cidade pra dar uns amassos. Kevin dançava uma baladinha lenta no meio da pista com Heather, e Bia, a garota que eu tinha levado ao baile, estava num canto agarrada com um jogador do time de luta-livre que eu não reconheci, por que eram todos muito parecidos.
Eu sai do salão e dei uma caminhada até o pátio, vi que o céu estava muito claro e estrelado, e a lua estava ligeiramente avermelhada, um daqueles lances de eclipse ou sei lá o que.
Quando me virei na direção da torre do relógio, vi um vulto grandalhão lá no alto, não tive dúvidas, era Charlie.
- Vai entrar numa enrascada se alguém te pegar aqui. - Eu disse me aproximando depois de finalmente subir a longa escada espiral por dentro da torre.
- Não me importo. - Charlie disse virando pra me olhar, ele estava sentado no parapeito com as pernas para fora da torre e cambaleou perigosamente, na mão esquerda um embrulho em papel pardo.
- Isso na sua mão é scotch? Você andou bebendo? - Perguntei com um semi-sorriso no rosto, Charlie raramente bebia, mas costumava exagerar quando o fazia.
- Eu só bebo bourbon Jack, achei que você já soubesse. - Ele respondeu me dando as costas.
Reparei que sobre o parapeito estavam os sapatos dele, e dentro de um dos sapatos vi o brilho dourado do relógio que ele ganhara do pai e dos óculos de grau, era estranho vê-lo sem os óculos, mas me pareceu um detalhe sem importância.
- A bia me largou no meio da segunda música. - Desabafei.
- Heather ainda vale alguma coisa, mas a Bia é uma tapada. - Ele disse com mais dureza do que eu esperava ouvir. - Não se preocupe, o karma toma conta dela.
Charlie era um cara muito alto e de ombros largos, ainda assim um sujeito simpático e de aparência inofensiva. Era um nerd de marca maior. Devorava livros no café da manhã, adorava filosofia, estudava tudo que podia sobre religião, embora não mostrasse seguir nada do que lia. Não pude deixar de sorrir quando ele deixou Bia a cargo do karma, era exatamente o estilo dele, por isso era meu amigo. Meu melhor amigo.
- Vamos embora daqui, esse baile já era. - Eu disse na esperança de voltar pra casa e descansar na minha cama.
- Pode ir sozinho, vou ficar aqui mais um pouco.
- Certo. Se cuida Charlie, te vejo amanhã.
Eu desci as escadas e deixei o Charlie lá. No estacionamento, vi Kevin e Heather saindo no carro dele, a noite deles ainda estava começando. A minha no entanto estava a 10 segundos de terminar.
BOOM!!
Me virei na direção do barulho assustado, parecia uma bomba, mas não tinha fogo. De repente escutei um grito de mulher e um alvoroço logo depois, estavam na torre do relógio. Corri de volta e logo percebi que algo estava errado.
Cercado por uma 4 pessoas completamente aturdidas, estava um corpo no chão, um corpo grandalhão, sem óculos e sem sapatos, e sem vida. Charlie tinha caído da torre.
A noite parecia não terminar nunca enquanto os policiais me faziam mais e mais perguntas, já que eu tinha sido o último a vê-lo com vida.
Um dos peritos encontrou um bilhete no bolso interno paletó:
A tout le monde
A tous mes amis
Je vous aime
Je dois partir
These are the last words
I'll ever speak
And they'll set me free
Charlie.
Era a letra de "A Tout Le Monde" do Megadeath. Estava escrito com a letra do Charlie e foi considerado um óbvio bilhete de suicídio. Charlie se suicidou. Eu nunca soube o porque. Ele era meu melhor amigo, devia estar gritando por ajuda há semanas com aquele jeitão retraído dele e eu nem percebi, concentrado demais no meu mundinho precioso de festas e garotas.
Dias depois a mãe de Charlie me ligou e disse que eu podia ir até a casa dela e pegar alguma coisa do Charlie como lembrança. Eu entrei no quarto dele, e vasculhei por algum diário, alguma pista do motivo pra ele ter feito aquilo, até liguei o computador e verifiquei o que ele andava fazendo na internet, mas tudo que eu via eram sites sobre retiros budistas, monastérios e coisas relacionadas ao budismo. Em cima da escrivaninha estava a única coisa que eu tirei daquele quarto. Um folheto falando sobre um retiro budista no japão.
Em um ano eu consegui a grana e logo estava de viagem marcada. Não ia pra faculdade, estava de malas prontas pra ir pro japão.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Magda Banks
Acabei de realizar um funeral. É verdade, não é mais uma crônica ou conto. Eu tive durante 4 anos um esquilo da mongólia. ELA morreu há 40 minutos. Eu a enterrei numa pracinha de frente com a minha casa. Ela já estava velhinha, e ontem antes de sair pra trabalhar eu reparei que ela estava fria, temi pelo pior, mas torci pra que fosse só um resfriado ou algo assim. Hoje eu cheguei e ela estava quietinha, não tinha nada da animação de sempre, peguei-a e percebi que ela estava muito fria, gelada quase. Comecei a tremer, sabia que a hora estava chegando, e ela aparentemente também.
Minha mão se aproximou e eu contei o problema, ela ficou perturbada, mas tentando me animar perguntou: "Você vai querer outro? A gente pode comprar um outro bichinho pra você." "Eu quero a Magda." eu respondi. Era verdade, eu só queria a Magda. Coloquei-a no sofá na esperança de que uma caminhada lhe fizesse bem. Ela pareceu mais e mais desorientada, as patinhas já não obedeciam e ela começou a tentar se jogar do sofá no chão.
Me desesperei e comecei a chorar, minha mãe tentava me acalmar, mas sem remédio. Ela finalmente caiu no chão se debatento, fiquei com medo de toca-la, percebi que ela estava morrendo ali naquela hora. Minhas mãos a protegiam de algum mal invisível, eu tentava criar coragem pra pega-la, mas não consegui. Ela parou, mas suas pernas ainda se moviam em agonia.
"MORRE!MORRE!" eu urrei desesperado, querendo que a dor dela acabasse, minha mãe ficou muito assustada e meu pai veio correndo ver o que tinha acontecido, ela já estava morta na altura em que ele chegou.
Minha mãe surgiu não sei de onde com um suco de maracujá, que eu bebi sem sentir o gosto só pra dar a impressão de que estava tudo bem. Fiquei olhando pra ela no chão, olhos abertos, sem vida. Deitei do lado dela e fiquei observando aquele corpinho peludo no chão.
Minha mãe estava em pé do meu lado, e parecia preocupada comigo, também chorava.
Resolvi me levantar e começar a preparar um caixãozinho improvisado. Ela tinha um tubo de papelão, tampei um dos lados com papel toalha e linha, coloquei um pouco da serragem do aquário e então coloquei aquela coisinha minúscula que ela era lá dentro, ainda chorando muito. Ela dorava semente de girassol e amendoim. Coloquei alguns com ela, e coloquei milho e trigo caso ela enjoasse dos outros, peguei a serragem do ninho dela, onde ela dormia e tampei o tubo, coloquei outra folha de papel toalha e amarrei com linha (tudo com ajuda da minha mãe, eu estava tremendo muito).
Fui até a pracinha e cavei com uma pá de pedreiro na terra úmida, matei minhocas e tatuís no processo, irritado com o fato de que logo eles estariam se alimentando da minha preciosa filhota. Eu NUNCA mato, NADA, só pra ficar claro o nível da minha perturbação. Antes de colocar o tubo na terra, escrevi com uma caneta azul:
Minha mão se aproximou e eu contei o problema, ela ficou perturbada, mas tentando me animar perguntou: "Você vai querer outro? A gente pode comprar um outro bichinho pra você." "Eu quero a Magda." eu respondi. Era verdade, eu só queria a Magda. Coloquei-a no sofá na esperança de que uma caminhada lhe fizesse bem. Ela pareceu mais e mais desorientada, as patinhas já não obedeciam e ela começou a tentar se jogar do sofá no chão.
Me desesperei e comecei a chorar, minha mãe tentava me acalmar, mas sem remédio. Ela finalmente caiu no chão se debatento, fiquei com medo de toca-la, percebi que ela estava morrendo ali naquela hora. Minhas mãos a protegiam de algum mal invisível, eu tentava criar coragem pra pega-la, mas não consegui. Ela parou, mas suas pernas ainda se moviam em agonia.
"MORRE!MORRE!" eu urrei desesperado, querendo que a dor dela acabasse, minha mãe ficou muito assustada e meu pai veio correndo ver o que tinha acontecido, ela já estava morta na altura em que ele chegou.
Minha mãe surgiu não sei de onde com um suco de maracujá, que eu bebi sem sentir o gosto só pra dar a impressão de que estava tudo bem. Fiquei olhando pra ela no chão, olhos abertos, sem vida. Deitei do lado dela e fiquei observando aquele corpinho peludo no chão.
Minha mãe estava em pé do meu lado, e parecia preocupada comigo, também chorava.
Resolvi me levantar e começar a preparar um caixãozinho improvisado. Ela tinha um tubo de papelão, tampei um dos lados com papel toalha e linha, coloquei um pouco da serragem do aquário e então coloquei aquela coisinha minúscula que ela era lá dentro, ainda chorando muito. Ela dorava semente de girassol e amendoim. Coloquei alguns com ela, e coloquei milho e trigo caso ela enjoasse dos outros, peguei a serragem do ninho dela, onde ela dormia e tampei o tubo, coloquei outra folha de papel toalha e amarrei com linha (tudo com ajuda da minha mãe, eu estava tremendo muito).
Fui até a pracinha e cavei com uma pá de pedreiro na terra úmida, matei minhocas e tatuís no processo, irritado com o fato de que logo eles estariam se alimentando da minha preciosa filhota. Eu NUNCA mato, NADA, só pra ficar claro o nível da minha perturbação. Antes de colocar o tubo na terra, escrevi com uma caneta azul:
Magda Banks
*2004 - 16/01/2008 †
"Mordia todo mundo,
menos eu."
Enterrei o tubo e enquanto isso a porra da música do "ciclo sem fim" do Rei Leão não saia da minha cabeça. Fiz uma prece por sua alma roedora e voltei pra casa. Quando entrei e vi o aquário vazio, comecei a chorar de novo. Então vim até aqui escrever, desabafar um pouco.
Magda meu amor, eu não esqueci da promessa. Um dia, quando tudo for possível, eu volto pra te buscar. Eu juro. Eu faço um juramento solene! Eu volto pra te buscar.
E agora me resta sorrir chorando enquanto lembro de todas as vezes que você me fez rir. E me resta me desesperar à lembrança de que você se foi pra sempre.
*2004 - 16/01/2008 †
"Mordia todo mundo,
menos eu."
Enterrei o tubo e enquanto isso a porra da música do "ciclo sem fim" do Rei Leão não saia da minha cabeça. Fiz uma prece por sua alma roedora e voltei pra casa. Quando entrei e vi o aquário vazio, comecei a chorar de novo. Então vim até aqui escrever, desabafar um pouco.
Magda meu amor, eu não esqueci da promessa. Um dia, quando tudo for possível, eu volto pra te buscar. Eu juro. Eu faço um juramento solene! Eu volto pra te buscar.
E agora me resta sorrir chorando enquanto lembro de todas as vezes que você me fez rir. E me resta me desesperar à lembrança de que você se foi pra sempre.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Jack e a noiva que não lhe pertencia, nem ao seu próximo
(Não posto a mais de uma mês, sim eu sei, não ando no melhor dos humores pra escrever, mas pretendo postar com mais frequência de agora em diante. Provavelmente poste alguma história antiga esquecida do meu flog, provavelmente "As Crônicas do Vortex" que foi meu maior "hit" na época, mas reescrita e melhorada , ou seja , uma versão 2.0, veremos, não me esperem pro jantar....)
Num barzinho ele bebia uísque sentado num banquinho ao balcão, estava sozinho. Ela observava de sua mase a um bom tempo, o cara era bonitão e não olhava pro relógio, sinal de não esperava ninguém. Resolveu arriscar e cruzou o bar gingando até o solitário, sentou-se no banquinho vizinho e sorriu.
- Oi. - Ela começou com a voz sensual.
- Oi. - Ele respondeu sem emoção.
Desconcertada ela chegou a pensar que ele fosse gay, ou talvez um daqueles caras tímidos demais pra continuar uma conversa. Estava rodando sozinha a noite toda e resolveu apostar todas as fichas naquele sujeito, seria mais ousada.
- Hum. - Ela colocou a mão de leve sobre a dele. - Não tem aliança.
- Até onde você possa ver não. - Ele respondeu sem dar atenção.
- E onde mais você poderia colocar uma aliança? - Ela riu.
- Em muitos lugares. - Ele olhou para a mão direita dela, uma aliança dourada no dedo anelar, era noiva. - Mas talvez o lugar mais importante seja a cabeça, pois se você não respeita a aliança, ela não passa de um anel.
Ele pagou, se levantou e saiu, deixando-a embaraçada e sozinha para trás.
Num barzinho ele bebia uísque sentado num banquinho ao balcão, estava sozinho. Ela observava de sua mase a um bom tempo, o cara era bonitão e não olhava pro relógio, sinal de não esperava ninguém. Resolveu arriscar e cruzou o bar gingando até o solitário, sentou-se no banquinho vizinho e sorriu.
- Oi. - Ela começou com a voz sensual.
- Oi. - Ele respondeu sem emoção.
Desconcertada ela chegou a pensar que ele fosse gay, ou talvez um daqueles caras tímidos demais pra continuar uma conversa. Estava rodando sozinha a noite toda e resolveu apostar todas as fichas naquele sujeito, seria mais ousada.
- Hum. - Ela colocou a mão de leve sobre a dele. - Não tem aliança.
- Até onde você possa ver não. - Ele respondeu sem dar atenção.
- E onde mais você poderia colocar uma aliança? - Ela riu.
- Em muitos lugares. - Ele olhou para a mão direita dela, uma aliança dourada no dedo anelar, era noiva. - Mas talvez o lugar mais importante seja a cabeça, pois se você não respeita a aliança, ela não passa de um anel.
Ele pagou, se levantou e saiu, deixando-a embaraçada e sozinha para trás.
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