Eu era feliz no começo, mas claro que não tinha conhecimento disso.
Aí eu aprendi a ler e a pensar por mim mesmo.
Depois eu esqueci como pensar por mim mesmo e continuei só lendo.
E todos aqueles caras monstruosos estupravam minha mente virgem com suas idéias insanas e cruéis.
Então eu passei a pensar insana e cruelmente também. Sem me dar conta que eu pregava agora os ideais de outros homens.
Esqueci como era sentir. Aboli minhas emoções e solidifiquei meu espírito que agora tinha aparência de ferro, frio e duro.
Questionei minha humanidade bem mais de uma vez.
E na confusão de ser máquina e ser monstro, senti medo e decidi que queria ser humano de novo, e voltar a sentir. Queria ver novela e jogar bola, ir pro samba e não dar a mínima pra política ou economia. Queria ser comum e me importar com minha aparência e dizer que ler era coisa de nerd.
Mas já era tarde demais. Eu SOU máquina, eu SOU monstro.
A iluminação que eu tanto busquei, era na verdade uma grande gaiola dourada. Brilhante, limpa, mas ainda assim uma prisão.
Agora eu não sinto mais nada. O beijo, o abraço, a transa. É tudo nulo pra mim.
É como viver num filme preto e branco.
De vez em quando, surge algo lá no fundo do peito e eu tenho vontade de gritar. Gritar qualquer coisa, qualquer nome, qualquer maldição. Acho que é desespero.
Acho que é a criança que um dia foi feliz e que se desespera quando percebe que está presa dentro de mim, da máquina, do monstro.
Ela tenta gritar, mas eu não sinto nada mesmo assim. Eu lhe dou um bofetão e mando calar a boca.
Vou ter que continuar fingindo. Não tem mais volta. A parte triste é que eu gostava de ser só, quando eu podia me dar o luxo de ser só porque queria. Agora que eu TENHO que ser só, pra não deixar ninguém olhar debaixo da armadura, é bem mais insano e cruel.
Acho que eu finalmente sei do que aqueles caras estavam falando.
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5 comentários:
O problema é que a maldita linha que separa esses dois mundos é muito fina, você só nota ela depois que passou e se torna tarde para voltar.
Então você fica preso perpetuamente a esse ser que é você, por menos que você queira ser.
Outros olham e não vêem as correntes que te prendem a isso. Parece ser fácil abandonar a armadura e simplesmente fingir que tudo é belo e maravilhoso. Más não é. A menos que possa voltar a ser criança e recomeçar nada nunca mais poderá voltar a ser como era.
Suas veias agoram carregam mais que simples sangue, carregam sua maldição...
Pois é, a Caverna de Platão era tão quentinha e acolhedora...
A busca insana por conhecimento e, consequentemente, reconhecimento, inevelmente nos faz cair no buraco da arrogância. Os pobres intelectuais se preocupam tanto em decorar filósofos pra citar em conversas de corredor que se esquecem de entender o que leram, absorver a diferença daquelas palavras. O caminho único é a solidão, pois sós, nõa existe ninguém que nos aponte nossa ignorância.
O mais sábio de todos disse, "tudo o que sei é que nada sei". Essa é a fonte de todo conhecimento, a percepção do abismo da própria ignorãncia diante do conhecimento do mundo todo, seja de um intelectual, seja de um caminhoneiro.
O texto mais profundo que já vi aqui no guerras. parabéns, bixo!
E a idéia é simplesmente trancar a criança dentro do baú e deixar a versão do mau tomar conta? Nunca é tarde demais.
Eu também fiquei sabendo da Virada uma semana antes. Minha sorte é que eu não tinha nada programado. Mesmo se tivesse, domingo eu não perderia Cachorro Grande por nada no mundo!
Pode deixar que ano que vem, assim que eu souber da Virada, eu aviso.
Huahauahuahaua
Bejoo :*
Taí. Gostei. Já leu O Amor e A Morte. Tente ler.. Se não achar,entre em contato comigo.
Visite o meu blog:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Conto com a sua visita,
Renata Cordeiro
Mas visite antes de eu lhe arrumar o livro, ok?
Tremenda crônica!!!
Não é à toa, que desde a primeira vez que li esse blog (achando que seria sobre quadrinhos... Guerras Secretas da Marvel), eu o linkei entre os meus preferidos.
Sempre vale a pena vir aqui ler.
Eu li uma frase há pouco que se encaixa (um pouco) nesse contexto.
"Os espertos aprendem com os próprios erros. Os sábios aprendem com os erros dos outros."
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