quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Dor é passageira, a Glória é eterna.

Existe esse cara que mora na minha rua. Nós éramos grandes amigos quando crianças. Talvez em grande parte porque da turma toda da rua, nós dois fossemos os únicos gordinhos. Se bem me lembro o nome dele é Leonardo.

Bom, nós éramos dois meninos diferentes um do outro, unidos na amizade por causa dos nossos traumas de gordinho. Mas existiam mais algumas coisas que nos diferenciavam. Pra começar o Leonardo tinha olhos azuis, e isso chamava muito a atenção na época, talvez porque ele fosse o único cara no quarteirão com olhos tão azuis. Já eu tinha os olhos mais pretos e ordinários que exitem por aí. Mas a grande diferença era, que o Leonardo sempre foi um pouco lerdo e eu, se é que a modéstia me permite, já tinha mais miolos na cabeça com oito anos do que a rua inteira.

A gente foi crescendo e embora a amizade tenha fraquejado um pouco, mantivemos contato. Nos escontravamos sempre na rua e parávamos pra conversar. Aí acabou surgindo a brincadeira entre nós dois, lá pelos 14 anos, de que ele era o gordinho que tinha dado certo e eu o que tinha dado errado. Isso pq numa certa altura da adolecência ele começou a emagrecer e eu comecei a engordar ainda mais.

Eu odeio sair de casa, aí logo hoje, meu aniversário, minha mãe me fez dar uma passeio pra comprar algo, acabei dando uma volta pelo bairro e na hora que estava voltando pra casa encontrei o dito Leonardo.

Ele estava muito diferente do que eu me lembrava, a gente não devia conversar a uns 5 anos, talvez mais tempo. Magro, meio forte, o rosto agora ja tinha barba, o cabelo penteado cuidadosamente e seguro com gel. Ele estava de mão dada com uma mocinha muito simpática e linda, não vou me lembrar do nome dela agora, mas bastar saber que era uma moça encantadora. Os dois formavam um casal bonito. Conversando eu soube que eles se conheceram na faculdade, engenharia. Trabalhavam os dois em grandes empresas automotivas. Planejavam se casar.

Fiquei feliz pelo meu velho amigo, desejei felicidades e pro meu espanto, ele se lembrou que era meu aniversário, quando eu não tenho a mais vaga idéia de quando possa ser o dele. O que me incomodou no entanto foi a profecia realizada... o gordinho que deu certo, e o que não deu.

O Leonardo atingiu tudo que se espera de uma pessoa com o mínimo de ambição. Estudo, trabalho, planos, uma companheira. Eu...bom. Eu não tenho nada, nem ninguém na vida, nem planejo nada disso pra um futuro próximo. O que eu atingi?

Tudo bem, eu realmente não vejo mérito algum nas coisas que ele adquiriu, mas eu olhei bem pro espelho hoje e pensei "Podia ser você. Não é, e provavelmente nunca será, mas podia.". E aí de repente eu tive que questionar tudo em que eu acredito, TUDO. E no final eu não mudei uma vírgula das coisas que eu quero pra mim. Mas agora eu acho que aceito finalmente, que eu escolhi o caminho mais difícil e que eu vou ter que batalhar o dobro do que todo mundo batalha e aguentar o dobro das merdas que todo mundo aguenta pra chegar onde eu quero.

O que importa é que no final da jornada, eu vou ter o dobro da glória.

Um comentário:

Lucas disse...

Eu entendo muito bem o que você quer dizer. Em todo caso, tenho certeza que o seu amigo cria uma bela desgraça íntima, talvez pior do que é possível imaginar.

 
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