segunda-feira, 29 de março de 2010

O Inferno de Gordon, parte X: O Tirano da Lua.

O foguete viajava numa velocidade incrível, rasgando o espaço como uma agulha. O Golem, quase uma nave viva acoplado ao sulco no casco do projétil gigante, parecia concentrado em leva-los na direção correta. Lá dentro, Gordon e o Troll estavam sentados desfrutando da turbulência.

- Chacoalha um bocado. - Disse Troll com ar nauseado.

- Pense nisso como um brinquedo de parque de diversões Troll. É divertido! - Gordon queria a todo custo evitar que o gigante viesse a vomitar, seria desastroso.

Troll ficou em silêncio, provavelmente tentando imaginar que havia alguma diversão em ficar balançando numa precária nave no meio do espaço. Gordon se perdeu em seus próprios pensamentos.

- Hey! Onde estão as fadas azuis? - O rapaz se deu conta pela primeira vez de que elas sumiram.

- Não as vejo desde que saímos do meu ginásio. - Disse o Troll.

Gordon coçou o queixo pensativo, mas desistiu, estavam longe demais pra voltar e procura-las, a jornada teria que seguir sem inspiração nenhuma.

A Lua crescia numa das janelas laterais, se aproximando mais e mais, até que a nave pareceu diminuir sua velocidade, estavam pousando.

O foguete desceu verticalmente sobre a superfície desértica da Lua, pousou e ficou ali em pé como estava no laboratório antes de partir. A porta se abriu e desceram os passageiros vestindo trajes espaciais brancos, enquanto Golem se desconectava da nave pra também pousar levemente no chão.

Gordon caminhou levemente naquela gravidade afetada e percebeu que na frente deles, esperando-os, estava um homem. Era alto e forte, muito musculoso, mas com uma aparência amarelada e doente. Sobre os ombros escorria uma capa negra de vinil e na cabeça, uma estranha coroa, que parecia ser feita de carne mumificada. Tinha nove pontas.

- Tire essa roupa idiota. - Disse o homem com grosseria.

Gordon não entendeu bem.

- A gravidade e a falta de oxigênio são ilusões que você criou com essa roupa. Remova-a.

Desconfiado Gordon abriu um dos grampos de seu capacete e ficou surpreso ao perceber que o ar não tentou fugir para o vácuo do espaço. Removeu o capacete e logo toda a roupa de astronauta. Troll fez o mesmo.

- E agora Moon Tyrant? - Gordon perguntou ao homem com a coroa.

- Agora você me segue, vamos conversar. Seus amigos ficam aqui. - Ele disse com olhares de desprezo ao Troll e ao Golem.

Partiram pra longe do foguete e dos dois gigantes. Caminhavam pela paisagem nula da Lua, o imenso deserto cinza e rochoso.

- E começou novamente...tudo de novo. Qual o seu problema moleque? - Moon Tyrant disse mal-humorado.

- Não entendi a pergunta. - Gordon disse visivelmente confuso.

- Você se deixou abalar novamente! O Vortex está em perigo novamente por causa de 47 quilos de carne e um par de olhos castanhos! Porra Gordon! Qual é o seu maldito problema?

- Eu gostava dela, achei que fosse certo. Ela pareceu gostar quando eu disse... - Ele foi interrompido.

- Você disse que gostava dela? Você disse que GOSTAVA dela? Seu cretino! Você não pode dizer esse tipo de coisa! As pessoas não querem que você goste delas Gordon! As pessoas querem ser odiadas, desprezadas, elas querem sofrimento, dor, dúvida! As faz sentirem vivas! Querem ser os vilões de suas pequenas fantasias, pois assim não se sentem vítimas de suas próprias vidas miseráveis! HAHAHA! Vejam só, "gostava dela", é um idiota mesmo! HAHA!

Gordon ficou em silêncio, constrangido ele pensava na verdade contida naquelas palavras duras e debochadas.

- Ela era o fio dourado que não podia ser cortado na teia de Ananasi. - Gordon disse timidamente.

- Eu sei. Essa jornada toda, por causa de uma mulher. Chegar à beira da loucura por isso. Terminou o ciclo.

- Ciclo?

- Nove Rainhas, nove anos de sofrimento. O ciclo das Nove Rainhas terminou. Conte e vai ver.

Mentalmente Gordon se lembrou de nove nomes e nove anos de sofrimento ligados àqueles nomes. Moon Tyrant tinha razão.

- E agora? A jornada terminou?

- Ha! Você bem queria que fosse tão fácil assim não é? - Moon Tyrant riu com amargura. - Não, não terminou. Você está livre das Nove Rainhas, mas não da loucura que elas plantaram em nossa mente. Ainda temos que dar um jeito de não enlouquecer, ou tudo estará perdido.

- Nós?

- Eu vou com você a partir de agora. Nossos amigões ali também. - Apontando pra frente, o tirano mostrava o Golem e o Troll à frente deles, tinham dado uma volta inteira sobre a Lua enquanto conversavam.

- Quem é o próximo? - Gordon perguntou.

- Só falta um, você sabe quem é.

Espantando o pensamento sobre o próximo personagem a ser visitado, o rapaz parou de andar o que chamou a atenção de Moon Tyrant.

- O que foi? - Indagou o Tirano.

- Não era ela. Não era nenhuma delas. Era?

- Sempre a mesma pergunta Gordon... - Tyrant pareceu impaciente. - Não, não era nenhuma delas. As Rainhas só tinham a função de te dar experiência. Do jeito mais difícil, através da dor. Mas agora que o ciclo terminou, estamos livres. Não era nenhuma delas e provavelmente não será a próxima, nem a próxima. Nunca é ela entende? Ambição.

Gordon não respondeu e caminhou na direção do foguete novamente.

- Troll, Golem, vamos indo! Tyrant vai com a gente.

- Nós não vamos mais usar esse foguete, existem meios mais eficientes de viajar. - Moon Tyrant pegou uma lapiseira azul e começou a desenhar um imenso retângulo no chão, depois deu mais detalhes ao desenho e todos viram que era uma porta. Quando ele terminou, a porta brilhou e se ergueu do chão, materializando madeira e metal aos adornos do desenho. Ele girou a maçaneta e a porta se abriu.

Além da porta, pouco se via além de uma luz forte. Moon Tyrant entrou e foi seguido por Gordon, depois Golem e finalmente o Troll, o mais alto de todos eles, que precisou se abaixar muito pra passar. A porta bateu e se fechou, aos poucos, ela se desfez e deixou apenas a superfície lunar na paisagem. Ao fundo, um foguete prateado e o universo, borbulhando de estrelas.


A SEGUIR: O Inferno de Gordon, parte XI: A Voz da Razão.


[Pra quem não aguenta mais, ta terminando, huahauhauhauha, programei pra terminar no Capítulo XIII, então, logo vcs não tem que aturar mais as minhas brisas incompreensíveis nem minhas lamentações intermináveis XP]

Um comentário:

Nelson L. Rodrigues disse...

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