domingo, 10 de janeiro de 2010

Semi-Vida (O Show tem que continuar)

Acordei as 2:50 da manhã. Outro pesadelo. Levantei e fui pra cozinha, abri a geladeira, tinha leite e cerveja. Bebi uma cerveja. Fui até o banheiro, ainda de cuecas, dei uma boa olhada no cara do espelho. Estava acabado, vazio, miserável.

Voltei pra cozinha, ainda no escuro, abri a gaveta de talheres. Peguei uma faca de carne imensa. Fiquei observando o brilho tímido do metal no escuro. As facas devia ser forjadas uma a uma antigamente, eram obras de arte, hoje em dia são feitas às centenas em fábricas, pedaços de merda.

Peguei a faca e senti o fio com meu dedo. Estava afiada e o aço era gelado. Encostei-a no meu pulso. Fiquei imaginando se teria coragem, mas não tinha. Se fizesse desse jeito provavelmente eu ia pedir ajuda em algum momento antes do fim, ia ficar com medo. Tinha que ser mais rápido.

Encostei a ponta da faca no pescoço, abaixo da orelha, forcei um pouco e a pele cedeu de leve, mas não machucou. Fiquei pensando em qual seria a sensação de ter aquele pedaço de ferro gelado atravessando minha cabeça e fiquei tentado com a paz que viria depois. Aí forcei a faca um pouco mais, até começar a machucar. Comecei a pensar na vida, no porque daquilo.

Pensei na minha família, nos meus amigos, na minha mãe limpando o sangue no chão da cozinha. E o cachorro? Quem ia cuidar do cachorro? Só eu cuido do cachorro, ele ia ficar na mão sem mim. Aí pensei no meu velório e no meu enterro e pensei em quem ia aparecer. Eu sei quem ia, eu sei quem não ia, mas nem faria diferença na verdade. Comecei a chorar, guardei a faca de volta na gaveta. O pescoço ficou vermelho, mas não sangrou. Nem sei se eu sangro.

Deitei na cama pra voltar a dormir, tinha que acordar às 5 pra ir trabalhar.

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