quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Inferno de Gordon, parte II: Tornado, Rei-Coragem.

Beggar, que conhecia melhor o caminho, caminhava na frente seguido de perto por Gordon. A toca de Ananasi já estava longe e a floresta se extendia na frente deles sem sinal de ter fim.

- Ainda falta muito? - Gordon perguntou entediado.

- Distância, tempo, nada disso realmente significa alguma coisa no Vórtex. Falta o que nos será necessário pra alcançar o castelo. - Beggar respondeu.

- Mas isso é muito?

Beggar respondeu com um grunhido mal-humorado e continuou andando, Gordon sorriu maroto.

Os dois caminharam por mais algum tempo, a tarde ensolarada os revigorava e o ar na floresta era fresco e puro. Pássaros cantavam as mais absurdas combinações de notas naquela floresta e Gordon se pegou prestando atenção nas canções caóticas de um pássaro que parecia gorjear Fear of the Dark. Foi quando, pelo canto dos olhos, o jovem viu uma sombra se esgueirando.

- Beggar, tem algo ali. - Disse aprontando para um amontoado de arbustos.

O monge se virou com punhos cerrados encarando a moita.

- Saia daí. - Ordenou.

Dos arbustos saiu um urso imenso com olhos muito negros. Ele não olhava para Beggar, tinha o olhar fixo em Gordon. Começou a falar e sua voz era muito grave e terrível.

- Eu sou Desespero. Recebi ordens de acompanha-lo Convicto, pois de agora em diante a sua jornada vai ser cada vez mais desesperadora. - Ele forçou um rosnado que lembrou uma risada. - Se no final do caminho você não tiver superado tudo e se convencido de que a loucura não vai tomar controle do Vórtex, eu vou devora-lo.

Gordon fitava o urso com uma nota de surpresa, mas fechou os olhos e respirou fundo. Quando se dirigiu ao monstro, sua voz era calma e confiante:

- Pode vir conosco, desde que essa sua bunda gorda não atrase a gente.

O urso urrou de fúria e se levantou sobre as patas traseiras, ergueu a imensa pata esquerda e preparou as garras para um golpe que seria letal.

- Pare Desespero. - Veio uma voz calma de cima da copa de uma árvore. Sentado num galho estava Tornado, o elfo azul. - Não foi isso que lhe mandaram fazer.

O urso voltou seus olhos vazios para o elfo, sem resposta. Depois olhou para Gordon e novamente se colocou sobre as quatro patas resignado.

- Estávamos te procurando Tornado. - Disse Beggar.

- Sim eu sei. Nada que acontece nessa floresta me passa desapercebido. Vou guia-los até meu castelo. - Saltou para o chão. - Mas você não vai poder entrar. - Disse encarando o Urso.

Foram os quatro por uma pequena trilha que não seria notada por alguém inexperiente. Subiram uma colina onde a floresta ficava calva de árvores e ao longe Gordon pode ver uma árvore colossal. Observando melhor, ele reparou que na árvore haviam minúsculas janelas e sacadas em vários pontos. Olhou impressionado para o elfo:

- Aquilo é o seu castelo?

Tornado apenas sorriu e continuou caminhando na direção da árvore.

O "castelo" ficava cada vez mais impressionante a medida que se aproximavam. A copa da árvore gigante fazia sombra a 400 metros do tronco, esse que devia ter mais de 100 metros de diâmetro. Nas janelas e portas, escadarias e sacadas, Gordon via pequenos trabalhadores a serviço do castelo, eram coelhos, esquilos, castores, marmotas e alguns ratinhos do campo, que limpavam as paredes com esmero e roíam as farpas da madeira.

Chegaram então na entrada principal, uma porta de 3 metros de altura, escavada no tronco. Desespero recuou e foi deitar-se no gramado debaixo de uma janela próxima às raízes, enquanto os outros 3 entraram.

- Muito cuidado com ele Gordon. - Disse Tornado. - Ele vai devora-lo se tiver a chance. Você não pode se render à dúvida, seja convicção assim como sempre foi. Não deixe de ter esperança. E acima de tudo, seja corajoso.

Gordon não soube bem como responder, apenas acenou com a cabeça positivamente e continuou seguindo o rei daquele castelo bizarro.

Ao longo das paredes ficavam lampiões de vidro fosco, Gordon teve a impressão de ver o fogo se movendo lá dentro, como uma coisa viva, aproximou o rosto e pode ver os homenzinhos vermelhos todos presos nos lampiões. A luz de seus corpos iluminava o castelo. Continuaram seguindo em frente e aqui e ali Gordon via os servos do castelo, roedores simpáticos que acenavam e sorriam com cumprimentos cordiais.

Chegaram então numa porta ainda maior que a porta da entrada, onde duas raposas estavam de guarda e fizeram reverência ao rei quando ele passou por elas. O salão por trás da porta era imenso e bem decorado, no fundo havia um trono muito tosco de madeira, mais parecia uma árvore morta, mas Tornado se sentou nele com a altivez de um monarca e o trono pareceu ganhar sua altivez.

- Coragem. - O elfo começou. - Muitos pensam que saber esconder o medo é sinal de coragem, estão errados. Outros pensam que coragem é ser temerário e se atirar contra adversários que não se pode vencer, mas também estão errados. A coragem na verdade... - Tornado fitou Gordon com um olhar curioso. - O que é coragem?

- Coragem é a capacidade de enfrentar obstáculos. - Gordon respondeu.

- Sim, acho que também se encaixa. - O rei coçou o queixo imberbe. - Coragem é a ausência do medo. - Ele disse organizando o raciocínio. - Não me olhe assim, eu sei que parece óbvio demais, mas pense a respeito. Coragem é não ter medo de mostrar quem você realmente é. Coragem é não ter medo de expor suas idéias e ideais. Coragem é acreditar em si mesmo. Acreditar. Em muitos aspectos, coragem se parece com convicção.

Beggar apenas observava o diálogo com um pequeno sorriso no rosto.

- Entendo. - Disse Gordon. - Devo ter a coragem de enfrentar essa jornada, seguir em frente sem medo. Não me entregar ao desespero, confiar no meu instinto.

Sem aviso, uma fadinha azul saiu do meio dos cabelos revoltos de Tornado e foi sentar-se no ombro de Gordon.

- Elas voltaram, as fadas azuis. - O rapaz disse com um sorriso.

- Minhas crias. - Disse Tornado. - Elas são a Inspiração. Se você pensar bem, inspiração também é uma espécie de coragem.

Conversaram por mais algumas horas na sala do trono e então escureceu novamente. Tornado convidou os visitantes para um banquete e deixou que Desespero entrasse no castelo para comer. No meio da noite, já descansados e cientes de que a noite podia durar anos, resolveram partir sem esperar o amanhecer.

- Sigam para o Norte Beggar, Londres é a próxima cidade. - O elfo azul disse com certo desprezo.

- Entendo. - Beggar respondeu.

Partiram, na entrada do castelo estava Tornado e todos os seus servos, acenando e gritando adeus e boa sorte. Aos poucos sumiram na mata o monge, o jovem, o urso e um enxame de pequenas fadinhas azuis.

Enquanto caminhavam, Gordon se voltou para Beggar:

- O que tem em Londres?

Mas antes que Beggar pudesse responder, a voz gutural de Desespero soou sinistramente:

- Um assassino.


A SEGUIR: O Inferno de Gordon, parte III: Slayer, Plebeu-Medo.

3 comentários:

Unknown disse...

Adorei seu blog! heuaehuah

E esse trecho que você falou que coragem é ausência de medo, eu já vi em algum lugar.. nem sei se foi algum lugar que você mesmo escreveu, mas eu lembro disso.

Unknown disse...

Demorou, mas valeu a pena! Seu post ficou incrível!!!
Como você consegue escrever de maneira que prenda a atenção deste jeito?
*fã*

Anjo Torto disse...

eei...

Adorei os textos,parte um e parte dois...
Jeito incrível de escrever,prendendo a atenção e detalhadamente...
Gostei muito da sua definição de coragem e da mensagem que ela passa para ser aplicada de forma bem literal na vida real.
Mal posso esperar pela terceira parte!

Ahh,e adorei a perte do passarinho gorjeando 'fear of the dark',show,vou ver se acho um por aí...

Até mais!

 
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