Ando muito de trem, quase todo dia. Gosto de andar de trem, é uma viagem tranquila, silenciosa, dá pra pensar um bocado. Você vê toda aquela gente indo, vindo, ocupada, desocupada, estressada, relaxada. Depois de um tempo pegando o trem todo dia no mesmo horário, inevitavelmente você começa a se familiarizar com um personagem ou dois, eu deixo o processo mais fácil dando apelidos aos meus personagens. Vou falar de um deles em particular na verdade, a Super Mãe.
A Super Mãe é uma mãe solteira que pega o trem com um filho pequeno toda manhã. Como eu sei que ela é solteira? Eu SEMPRE olho pras mãos de mulheres bonitas, é uma mania. Ela é loira, tem olhos verdes, deve ser de fabricação americana, tem um corpo de deusa grega, um olhar confiante, se veste com um terninho discreto e uma calça agarrada nos lugares certo, parece algum tipo de "mulher de negócios", mas sempre com seu molequinho com cara de passarinho a tiracolo. Ela sobre no trem e se senta quase sempre no mesmo lugar, mas dessa vez o lugar estava ocupado, o único lugar disponível era na minha frente, nos bancos invertidos. Ela senta toda aquela bunda macia com uma elegância que me faz desviar o olhar do que quer que eu estivesse lendo, ela percebe meu olhar e sorri simpática humilde o bastante pra prosseguir com um discreto "Bom dia". Eu respondo a altura e volto pro meu livro, espiando de vez em quando as pernas dela. Passa-se um tempo e eu percebo que ela está encarando com uma intensidade fora do normal. Faço com que ela perceba meu desconforto, mas ela aparentemente não se importa e continua encarando. Algumas estações depois, eu já estou ficando de saco cheio, é um daqueles dias em que eu consigo falar com estranhos, aproveito minha vantagem e pergunto "Pois não?" num tom meio irritado e desafiador. Ela se surpreende e olha nos meus olhos (ela fitava outra parte o tempo todo) "Tem um gafanhoto na sua cabeça." ela diz engasgada.
PUTA QUE PARIU TEM UM GAFANHOTO NA MINHA CABEÇA!!! Era o que eu normalmente teria dito antes de sair gritando e pulando pelo trem, mas foi uma situação que me pegou tão de surpresa, que tudo que eu consegui dizer foi "É, e daí?".
Ela levantou e arrastou o molequinho com cara de passarinho pra longe de mim, sentaram-se num banco do outro lado do vagão, eu voltei pro meu livro, suava frio imaginando se tinha mesmo um gafanhoto no meu boné, afinal de contas nas últimas semanas, por alguma razão uma "infestação" de gafanhotos tinha se abatido sobre Santo André. Uma nuvem bíblica de gafanhotos, devorando nossas colheitas, enquanto a água virava sangue, chovia fogo dos céus e nossos primogênitos eram mortos por forças sobrenaturais. Não, não, história errada, lugar errado, livro errado.
domingo, 15 de julho de 2007
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Guerras Secretas
Tem um cara que eu conheço que eu odeio. Ele nunca me fez nada, na verdade a gente mal se fala, é um sujeito até simpático e brincalhão, o pessoal adora ele. Mas eu odeio. E ele provavelmente não faz a menor idéia disso. Melhor assim.
Aí eu fico pensando nesse meu "ódio platônico" pelo sujeito e sinto uma certa pena dele. Aí ele se aproxima de mim e sorri, diz alguma frase inteligente e bem colocada, e eu volto a odiá-lo.
Será inveja de algo que eu ACHO que ele tem? Talvez, mas descobrir o motivo do ódio não iria fazê-lo sumir. Então eu continuo odiando-o, e tento não me sentir mal sobre isso, afinal se tudo continuar como está, ele NUNCA vai descobrir o quanto eu o odeio. É uma GUERRA SECRETA que eu travo contra ele, e contra mim mesmo.
Será que os grandes líderes mundiais também sentem isso por determinado presidente ou primeiro-ministro? Será que é por isso que as bombas não param de explodir? Será que é por isso que as criancinhas africanas passam fome? Provavelmente.
Os homens com poder o bastante tornam suas guerras pessoais em guerras públicas, guerras mundiais. Enquanto a mim, eu continuo odiando o cara, e me sentindo levemente incomodando com essa falha no meu caráter, mas não incomodado o bastante pra deixar de odiar. É uma guerras secreta, e secretamente eu estou ganhando. Ou NÃO estou?
Aí eu fico pensando nesse meu "ódio platônico" pelo sujeito e sinto uma certa pena dele. Aí ele se aproxima de mim e sorri, diz alguma frase inteligente e bem colocada, e eu volto a odiá-lo.
Será inveja de algo que eu ACHO que ele tem? Talvez, mas descobrir o motivo do ódio não iria fazê-lo sumir. Então eu continuo odiando-o, e tento não me sentir mal sobre isso, afinal se tudo continuar como está, ele NUNCA vai descobrir o quanto eu o odeio. É uma GUERRA SECRETA que eu travo contra ele, e contra mim mesmo.
Será que os grandes líderes mundiais também sentem isso por determinado presidente ou primeiro-ministro? Será que é por isso que as bombas não param de explodir? Será que é por isso que as criancinhas africanas passam fome? Provavelmente.
Os homens com poder o bastante tornam suas guerras pessoais em guerras públicas, guerras mundiais. Enquanto a mim, eu continuo odiando o cara, e me sentindo levemente incomodando com essa falha no meu caráter, mas não incomodado o bastante pra deixar de odiar. É uma guerras secreta, e secretamente eu estou ganhando. Ou NÃO estou?
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