sexta-feira, 29 de agosto de 2008

De volta ao planeta que era dos Macacos

As primeiras semanas que o jovem Iori passou ao lado dos Rochia foram traumáticas e confusas. Ele foi retirado das ruínas do laboratório criogênico onde estava e foi levado até Grande Rochia, a maior cidade do mundo, localizada em algum lugar onde séculos atrás ficava a Sibéria. A área que antes era gelada e inóspita, era hoje uma imensa planície, de longe pela janela de um dos grandes veículos parecidos com tanques, Iori podia ver a imensa cidade cobrindo grande parte do horizonte.

O céu agora passava o dia todo avermelhado, os gases da atmosfera eram outros e o sol já envelhecera alguns milares de anos. Um cinturão de rochas brancas cercava a Terra e fazia sombra por volta das duas da tarde, eram grandes pedaços da lua que orbitavam se chocando uns com os outros. A metade da lua que ainda estava inteira tinha se aproximado um pouco do planeta, o que elevou o nível dos mares no mundo todo.

Os animais eram outros, o garoto não reconheceu nenhum deles ou quem poderiam ser seus antepassados. A flora ainda tinhas as mesmas formas, mas a cor predominante não era mais o verde e sim o vermelho, o que dava uma aparência muito mais apocalíptica ao cenário. Iori apenas observava pasmo aquela paisagem alienígena.

- Muito tempo você não via o mundo. - O gigante de branco disse com seu carregadíssimo sotaque no japonês mais claro que conseguia pronunciar com sua boca insetóide. Iori descobrira que seu nome era "Click, Click, Clac, Truk" na língua nativa dos Rochia que consistia de vários estalos e ruídos secos produzidos com suas tenazes e bocas multifacetadas, obviamente sem tradução para o japonês. O menino estava se acostumando a chama-lo de "Click" apenas.

- Meu mundo não era assim. Tudo está diferente. O céu era azul, as folhas eram verdes, a lua estava inteira, havia gelo no topo das montanhas. O que foi que deu errado? O que foi que os humanos fizeram?

- Ninguém sabe. Rochia povo mais antigo da Terra e mesmo nós não lembra. Céu sempre vermelho pra Rochia, plantas sempre vermelha, lua sempre quebrada.

Iori se sentia angustiado, atordoado. Estava só naquele mundo bizarro, uma caricatura de mau gosto do que um dia foi a Terra de seus antepassados. Seus pais estavam mortos, seus amigos. Quantos anos haviam passado? Quantos milhares de anos?

O laboratório onde estava ficava em Tóquio, mas hoje era apenas uma ruína submarina. Sabe-se lá como a água não entrou e os geradores atômicos sustentaram seu suporte de vida na câmara criogênica até que os Rochia o achassem finalmente. Tudo que lhe restavam eram dúvidas. E um futuro incerto pela frente.

Os veículos-tanque finalmente alcançaram a grande cidade e adentraram por uma estrada muito larga e plana. As casas não chegavam a ser tão diferentes do que uma casa deveria parecer, eram grande iglus de materiais variados, a maioria deles parecia ser feito de uma resina plástica amarronzada que dava aparência de ser muito resistente. Comicamente as casas lembravam as grandes baratas redondas que eram seus moradores.

Ainda haviam ruas e semáforos, por incível que fosse. Placas identificavam cada travessa com letras confusas que lembravam muito vagamente o japonês que Iori conhecia. Enquanto observava os detalhes da cidade, o veículo em que estava seguia rapidamente por ruas vazias até uma grande construção negra que se aproximava cada vez mais.

- Que lugar é aquele Click?

- A universidade de Rochia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Espasmo CAOS/ORDEM do megaverso

Era um buraco lamacento no meio de lugar nenhum, literalmente.

Ficava no espaço entre universos, cercado de coisa alguma a não ser uma profunda e depressiva escuridão.

Ainda assim tinha forma, era um buraco.

Ainda assim tinha qualidades, era lamacento.

Na verdade, descoberta sua real função, qualquer criatura acharia aquele buraco lamacento a coisa mais bela da criação, não fosse a escuridão que impedia que qualquer um o visse. E não fosse também ele estar no meio de lugar nenhum, onde ninguém jamais estará.

O silêncio lá obviamente é enlouquecedor. Se no espaço não há som, imagine o espaço cósmico, a malha que liga os milhares de infinitos universos.

Mas de vez em quando algo acontece, e tudo muda.

Do buraco lamacento explode um jorro poderoso de luz branco-azulada e acompanhando a luz um som incrível de fogos de artifício e depois de trombetas e explosões. A luz e tão cegante e poderosa que mesmo que alguém estivesse presente, provavelmente seria incinerado instantâneamente. E mesmo que não fosse, sua cabeça explodiria devido ao som alto do caos ao redor da luz.

Num instante tudo sai daquele buraco, TUDO. E o caos não tenta tomar forma alguma, simplesmente dispara de lá em todas as direções por um tempo indeterminado, talvez tão longo quanto o tempo em que o buraco esteve em silêncio, ou tão curto quanto um suspiro.

E em todas as partes do multiverso, em todos os mundos dos universos, em todos os planetas das galáxias, em todos os cantos dos planetas, as idéias nascem.

É daquele buraco lamacento no meio de lugar nenhum que saem todas as idéias. É a fonte infinita que permanece infinitamente em silêncio e infinitamente ativa ao mesmo tempo num paradoxo sem sentido que continua impulsionando todas as nossas mentes.

Da pior à melhor das idéias, todas saíram de lá em algum momento entre o silêncio sagrado e a explosão caótica que continuam pulsando ao mesmo tempo num lugar no qual ninguém nunca vai chegar.

Eu tenho uma idéia de onde fica, mas não posso levar ninguém lá, as pessoas tem que ir por si mesmas, e ainda assim ninguém nunca vai chegar lá.
 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Permissions beyond the scope of this license may be available at 〈=pt_BR.