Eu era feliz no começo, mas claro que não tinha conhecimento disso.
Aí eu aprendi a ler e a pensar por mim mesmo.
Depois eu esqueci como pensar por mim mesmo e continuei só lendo.
E todos aqueles caras monstruosos estupravam minha mente virgem com suas idéias insanas e cruéis.
Então eu passei a pensar insana e cruelmente também. Sem me dar conta que eu pregava agora os ideais de outros homens.
Esqueci como era sentir. Aboli minhas emoções e solidifiquei meu espírito que agora tinha aparência de ferro, frio e duro.
Questionei minha humanidade bem mais de uma vez.
E na confusão de ser máquina e ser monstro, senti medo e decidi que queria ser humano de novo, e voltar a sentir. Queria ver novela e jogar bola, ir pro samba e não dar a mínima pra política ou economia. Queria ser comum e me importar com minha aparência e dizer que ler era coisa de nerd.
Mas já era tarde demais. Eu SOU máquina, eu SOU monstro.
A iluminação que eu tanto busquei, era na verdade uma grande gaiola dourada. Brilhante, limpa, mas ainda assim uma prisão.
Agora eu não sinto mais nada. O beijo, o abraço, a transa. É tudo nulo pra mim.
É como viver num filme preto e branco.
De vez em quando, surge algo lá no fundo do peito e eu tenho vontade de gritar. Gritar qualquer coisa, qualquer nome, qualquer maldição. Acho que é desespero.
Acho que é a criança que um dia foi feliz e que se desespera quando percebe que está presa dentro de mim, da máquina, do monstro.
Ela tenta gritar, mas eu não sinto nada mesmo assim. Eu lhe dou um bofetão e mando calar a boca.
Vou ter que continuar fingindo. Não tem mais volta. A parte triste é que eu gostava de ser só, quando eu podia me dar o luxo de ser só porque queria. Agora que eu TENHO que ser só, pra não deixar ninguém olhar debaixo da armadura, é bem mais insano e cruel.
Acho que eu finalmente sei do que aqueles caras estavam falando.
sábado, 17 de maio de 2008
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