A cena do crime era idêntica às anteriores.
O corpo estava no meio do quarto, a barriga aberta, as tripas espalhadas pelo tapete, mastigadas em vários pontos, o resto do corpo também estava mordido em vários locais, faltavam pedaços de carne. O legista confirmou, a garota tinha levado as mordidas ainda viva e depois foi estripada. Na parede do quarto, escrito com sangue a mesma mensagem dos 6 assassinatos anteriores:
"Nhac, Nhac, Nhac! I'm the Cookie Monster!"
Hilaff caminhou pela cena com cuidado pra não tirar nada do lugar, tapava a boca e o nariz com um lenço e observava o corpo e o interior do cadáver.
- Parece que está faltando alguma coisa aqui.
- Ele levou o estômago. - O legista se virou pra ele.
- Eu sei, como fez com todos os outros, mas parece que tem muito espaço vago aqui.
O legista revirava uma pequena pilha de roupas aos pés da cama.
- Ele tirou os ovários e o fígado também, acabei de encontrar. - Ele se levantou e abandonou o montinho de roupas e seu conteúdo macabro. - Preciso bater umas fotos disso.
O detetive continuou vagando a esmo pelo quarto, ainda cobrindo o rosto com o lenço, o cheiro no ar era insuportável, a garota estava ali há pelo menos 4 dias. A polícia já tinha uma boa idéia de quem era o serial killer, digitais parciais em 4 dos 6 corpos apontavam um suspeito em comum, e Hilaff estava quase certo de que a sétima vítima teria as mesmas digitais pelo corpo.
O problema é que o sujeito era um pouco mais do que um fastasma, nascera na periferia de Tirana e desde cedo tinha estado em instituições criminais para jovens e mais tarde instituições psiquiátricas. O cara era maníaco homicida e esquizofrênico, tinha delírios e vivia num mundo a parte da realidade, estava internado num manicômio público a mando da justiça, mas fugiu sabe-se lá como. Não tinha endereço fixo na sua ficha, sem parentes, sem conhecidos.
Hilaff saiu do quarto e foi até a entrada da casa, acendeu um cigarro e olhou pro céu, noite de lua cheia. O rádio de um dos carros cortou bruscamente o silêncio da noite.
"Atenção todas as unidades! Invasão de domicílio na Ceauccesco St. n 4! Testemunhas descreveram o invasor como possivelmente sendo o "Cookie Monster". Repetindo..."
O detetive jogou o cigarro no ar e saiu correndo na direção da viatura, entrou pelo lado do passageiro, sua parceira estava dando a partida no carro.
- Acelera essa bosta Marly! É o fodido do Cookie Monster! Acelera!
Ela respondeu afundando o pé no acelerador com toda a força, o ford roncou alto e avançou muitos metros pela pista, eles estavam a caminho.
Chegaram 7 minutos depois, nenhuma outra viatura ainda tinha chegado, mas podiam ouvir ao longe as sirenes.
- Eu vou entrar Marly, fique aqui fora.
- Nem vem Hillaf, você quer toda a glória só pra você? Além do mais, pelo que sabemos, esse cara é imenso, é melhor entrarmos os dois.
- Ai, ai...tá legal, tá legal, vamos logo...
Sacaram as armas e entraram na casa, era um sobrado bonito com uma pequena varanda na frente. Ao abrir a porta, o hall estava escuro, mais aos poucos seus olhos foram se acostumando com a escuridão, viram uma pessoa caída no chão. Marly sacou sua lanterna e ascendeu, mas desejou não tê-lo feito.
Um homem na casa dos 40, virado de cara pro chão, seu flanco esquerdo havia sido arrombado à dentadas e todo o interior daquele lado do corpo se espalhava pelo chão, uma trilha de sangue levava até a parede e a mensagem: NHAC!
Marly fez um sinal da cruz, Hilaff ignorou e seguiu pulando o corpo na direção dos fundos da casa. Banheiro limpo. Sala de Estar limpa. Sala de Janter limpa. Faltava a cozinha que tinha uma cortina de contas azuis em lugar de porta. Passaram por ela tensos, apontando a arma para cada canto escuro que havia, acharam a dona da casa atrás do balcão. Seu rosto tinha uma expressão quase cômica de espanto e dor. O assassino havia arrancado seu coração do peito. No balcão: NHAC!
- Como esse filho da puta faz isso? - Marly quis saber indignada.
Hillaf não respondeu, seguiu de volta pro hall onde estavam as escadas pro andar superior. Marly o seguia grudada em seus calcanhares.
O quarto do casal e o banheiro estavam limpos, era as duas primeiras portas, haviam mais duas.
- Me cobre Marly. - Hilaff seguiu até uma porta azul-bebê e deu um pontapé.
Era um quarto de menino. As bolas, carrinhos e o ferrorama mostravam isso claramente. Hilaff logo viu sobre a cama o corpo do garoto, estripado, não devia ter mais do que 13 anos. Na parede: NHAC!
Marly e Hilaff se entreolharam e depois fitaram a porta pink do outro lado do corredor. Acenaram com a cabeça e se dirigiram pra lá, as armas em punho. Marly girou a maçaneta com força e empurrou a porta, Hilaff entrou.
A potência daquela cena era impressionante, e Hilaff anos mais tarde em suas seções de terapia ainda se sentiria incomodado em falar dela. O quarto estava escuro como todo o resto da casa, mas a luz da lua cheia entrava direto pela janela daquele quarto, deixando tudo fantasmagóricamente azulado. Diretamente na direção oposta da porta, sentado contra a parede estava um homem imenso, não devia ter menos do que 2 metros de altura, e era gordo, mas não gordo como os maridos ficam depois de se casar, era obeso, era mórbido, devia pesar mais de 200 quilos!
Ele estava coberto de sangue, a boca e as mãos principalmente. Entre seus braços roliços e suas mãos grandes de dedos rombudos e unhas negras de sujeira, ele segurava o que parecia ser uma boneca sem cabeça, mas os detetives sabiam infelizmente que aquilo não era uma boneca, era uma criança.
Examinaram o quarto com os olhos rapidamente, todas as prateleiras, bonecas, bichos de pelúcia, caixinhas de música, roupinhas, a cama cor-de-rosa da Barbie, tudo coberto de sangue. E no canto, perto da penteadeira, aquele calombo hediondo de longos cabelos castanhos. A cabeça da garotinha. O monstro havia arrancado sua pequena cabeça do corpo à dentadas o legista descobriria mais tarde.
- PARADO! - Hilaff e Marly disseram ao mesmo tempo.
Monster largou o corpo da garotinha no chão, sua bocarra assassina se alargou e formou um sorriso diabólico e cheio de dentes vermelhos. Em sua cabeça ele se lembrava das surras que levava do pai enquanto passava Vila Sésamo na Tv educativa, apanhava sempre sem motivo, mas depois da surra continuava vendo o programa e se distraía, adorava o Come-Come, anos mais tarde descobriu que na América de onde o programa veio ele era chamado de Cookie Monster. Aí se lembrou de Pips, seu cachorro que o pai matou achando que era uma raposa invadindo o galinheiro. E depois de Yorda, a garota que morava na casa ao lado e que tinha lhe dado seu primeiro beijo. Ele havia comido Pips sem ninguém ver, quando matou o pai com 17 ele também o devorou e Yorda teve o mesmo destino quando terminou seu namoro com ele. Eles eram seus biscoitos, e ele adorava biscoitos, afinal, ele era o Cookie Monster.
- I love cookies!Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac, Nhac! - Monster se ergueu numa velocidade e agilidade surpreendentes para um homem do seu tamanho. Avançou contra os detetives que não tiveram escolha, abriram fogo.
Morrendo no chão do quarto, baleado mais de 17 vezes até que parasse, Yaus Keletovich ergueu suas mãos e admirado percebeu que a luz da lua que entrava pela janela deixava sua pele azulada, igual a de seu personagem favorito.
- I am the Cookie Mons....- E se foi.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
quarta-feira, 9 de abril de 2008
O homem que não sabia falar (Ou "O Mímico")
Ele não sabia falar, mas dizia várias coisas.
Andava por aí tímido, cabisbaixo.
Uma garota no ônibus sorriu pra ele.
Ele pegou o trem.
Uma garota de muletas no trem sorriu pra ele.
Ele desceu do trem pra pegar o metrô.
Uma garota baixinha sorriu pra ele.
Ele chegou no trabalho.
As garotas no trabalho sorriam pra ele.
Hora de voltar pra casa. Pegou o metrô e ganhou mais alguns sorrisos. Entram 3 mímicos no vagão e fazem seu número, ele sorri pros mímicos.
"Imagina a quantidade de sexo que eu estaria fazendo se soubesse falar." - Ele pensa consigo mesmo. "Talvez eu deva virar mímico."
Andava por aí tímido, cabisbaixo.
Uma garota no ônibus sorriu pra ele.
Ele pegou o trem.
Uma garota de muletas no trem sorriu pra ele.
Ele desceu do trem pra pegar o metrô.
Uma garota baixinha sorriu pra ele.
Ele chegou no trabalho.
As garotas no trabalho sorriam pra ele.
Hora de voltar pra casa. Pegou o metrô e ganhou mais alguns sorrisos. Entram 3 mímicos no vagão e fazem seu número, ele sorri pros mímicos.
"Imagina a quantidade de sexo que eu estaria fazendo se soubesse falar." - Ele pensa consigo mesmo. "Talvez eu deva virar mímico."
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